Todos conhecemos a anedota do compadre que perguntou à mulher porque é que se arranjava e pintava com tanta dedicação, quando a senhora lhe respondeu que era para ficar bonita, exclamou: “atão porque é que na ficas?”.
O governo de Passos conseguiu ter o apoio da equipa de Seguro para alcançar um acordo de concertação laboral com a UGT (na altura liderada por um senhor que mais tarde sonhou substituir Silva Peneda no Conselho Económico e Social, o mesmo Silva Peneda que, por sua vez, também sonhava ser comissário europeu). Foi uma bandeira da direita e referida quase todos os dias pela troika como um grande passo para a criação de emprego.
Se alguém comparar as regras de jogo no mercado laboral, os níveis dos salários e mos dados da distribuição do rendimento à escala nacional tem de se questionar, tal como o compadre da anedota, se tanta proletarização, tanto salário baixo, tanta facilidade em despedir ia criar emprego, “atão porque é que na cria?”.
Todos sabemos que o pessoal do porto de Lisboa é tudo menos flores de cheiro, ultimamente até parece estarem à espera que apareça em Xabregas um tenente do COPCON para meter os patrões na linha. Mas também sabemos que os patrões da estiva são tudo menos gente delicada e simpática, se pudessem voltariam aos tempos da escravatura ou da “Praça do Geraldo”. É óbvio que os patrões tentaram aproveitar os tempos da troika para destruírem todos os direitos laborais, mas tiveram azar, não o conseguiram, os partidos do governo amigo perderam a maioria e o impasse continua.
Tanto quanto se sabe não há falências no porto de Lisboa, graças ao aumento das exportações os contentores quase nos impedem de ver Cacilhas. Mesmo com direitos laborais, taxas portuárias abusivas e patrões pouco exemplares a procura pelo porto de Lisboa te vindo a aumentar. Além disso, é mais provável que os patrões da estiva estejam a pensar mais num BM novo ou numa continha no Panamá do que em reduzir taxas.
É óbvio que algo está mal no Porto de Lisboa, aliás, sempre esteve. Talvez seja a melhor altura para dar uma varredela e explicar tanto a estivadores como aos patrões da estiva, talvez mesmo aos gestores do porto, que é tempo de esta infraestrutura em vez de fazer de proxeneta da economia, começar a ser competitivo.