É verdade que o país se encontra numa situação difícil, que são necessárias medidas de austeridade, que tem de aumentar a competitividade externa e que se deve pensar o crescimento sustentado a médio prazo. Mas isso não implica que a competitividade seja conseguida à custa do esclavagismo implementado por decreto e apoiado em forças policiais, que o desenvolvimento passe pela expulsão de quadros, pela destruição do sistema de ensino e pela promoção da mão de obra barata, ou que só tenham de ser os mais pobres a suportar a austeridade. Esta política é injusta, canalha e por isso só pode conduzir ao conflito social.
Mete nojo ver gente como o Fernando Ulrich que durante anos exibiram riqueza, distribuiriam fortunas em dividendos, quase nem pagaram impostos e distribuíram vencimentos e prémios milionários virem agora exigir cortes salariais ao mesmo tempo que querem o dinheiro dos contribuintes sem quaisquer riscos ou contrapartidas.
Mete nojo ver um António Pires de Lima que apenas se preocupa em obter o máximo de lucros numa empresa que nunca teve prejuízos e que vive da miséria alheia babar-se porque a meia hora de trabalho escravo lhe proporciona um aumento de produtividade de 7% e ainda exige o despedimento de mais de cem mil funcionários públicos.
Uma coisa é algumas empresas precisarem de aumentar a produtividade e não há nenhum trabalhador que deseje ver a empresa que o emprega ir à falência. Outra coisa é aumentar os lucros de quem nunca teve prejuízos, ou aumentar os lucros dos que os conseguem de forma fácil, à custa de direitos que há décadas deixaram de ser uma conquista dos trabalhadores para serem valores civilizacionais.
Os trabalhadores portugueses não são inimigos do seu país, nunca fugiram para o país, não instalaram sedes em Roterdão, não trabalham em bancos off-shore de Cabo Verde, não escondem o seu dinheiro em off-shores e quando é necessário defender o país são eles que pegam em armas e morrem na frente de batalha. Quem tem um longo historial de desprezo pelo país são alguns dos nossos empresários, esses sim só dão um chouriço quando recebem um porco, esses sim que fogem e que mandam as suas poupanças para o exterior, esses sim que preferem pagar impostos na Holanda a pagá-los em Portugal.
Os que pensam que os portugueses são mansos e aceitam tudo poderão estar a cometer um erro grave e a empurrar o país para o conflito social. Têm mais olhos do que barriga, estão convencidos de que o aumento do orçamento das polícias basta para amedrontar os mais nervosos, mas poderão estar enganados e poderão estar a acender o rastilho do conflito social e a desencadear um processo revolucionário descontrolado, desenquadrado de qualquer organização política ou sindical e sem ideologia que o suporte.
Esta gente é irresponsável e pensa que está no século XIX,, quando se resolviam os problemas a tiro, não percebe que ou percebem que tanto os sacrifícios como os benefícios das políticas devem ser repartidos socialmente com justiça, que deve haver diálogo social na adopção das medidas, deve, em suma, haver um contrato social, a alternativa poderá ser a revolução. Este assunto não é nada de novo, nos últimos anos foi mesmo alvo de alguns debates e as situações nem eram tão difíceis.
Para os nossos estarolas e empresários irresponsáveis a actual situação tem pelo menos uma vantagem, com a remodelação o Campo Pequeno está mais confortável. Aprendam com a história enquanto é tempo e ainda houverem professores em Portugal!