Se tivesse de escolher o acontecimento do ano seria inevitável a escolha da submissão do país aos ditames da troika a troco de um empréstimo a juros dignos de proxenetas. Para personalidade do ano não escolheria Passos Coelho pois alguém que sofre de anorexia intelectual, tira um curso da treta quase aos quarenta e só começa a trabalhar depois de velho é um péssimo exemplo para os nossos jovens, a minha escolha iria para esse anjo do cavaquismo chamado Duarte Lima, que esteve tão perto do céu, andou pelo inferno lá pelas bandas do Brasil e acabou a penar numa vulgar prisão portuguesa.
O curioso destas escolhas é que aparentemente tão distantes e tão diferentes acabam por ser uma única escolha, Duarte Lima representa a ascensão à riqueza que os técnicos da troika representam, é um dos símbolos da corrupção que destruiu todo e qualquer estímulo à competitividade da nossa economia e que nos conduziu à ruína. Quis o destino que fosse o PSD a executar as ordens da troika ao mesmo tempo que um dos seus maiores símbolos de riqueza, poder e sucesso dava entrada na cadeia.
Se a troika não tivesse pressa em arrecadar o mais depressa o seu dinheirinho e aproveitar a desgraça alheia para retirar qualquer protecção da economia portuguesa e vender a preço de saldo o que ainda resta património colectivo, saberiam que não é o trabalho escravo que aumenta a competitividade da economia. O horário de trabalho é o mesmo há décadas e não foi por ter sido reduzido ou se trabalhar menos que as empresas deixaram de ser competitivas.
A economia portuguesa não é competitiva porque os nossos empresários não precisam de o ser para enriquecerem facilmente, em vez de inovarem preferem espoliar a riqueza nacional e corromper a classe política, em vez de enriquecerem o país preferem sacar-lhe toda a riqueza com a ajuda de políticos de vida fácil. A descida da TSU ou o recurso a trabalho escravo vão ter tanto impacto como os milhões de ajudas comunitárias à formação profissional. A troika sabe muito bem disso mas isso pouco lhes importa, da mesma forma que pouco importou à CEE a forma como os dinheiros das ajudas foram desviados pela corrupção. Todo esse dinheiro fácil acaba nos bolsos dos países ricos depois de adquiridos os bens de luxo com que os nossos traficantes se gostam de exibir, nisso são todos iguais, desde os Duartes Limas aos mafiosos de Nova Iorque, até ao Nem da Rocinha, todos eles gostam de exibir riqueza.
Veja-se o que se está a passar com a privatização do que resta da EDP, ouve-se discutir o interesse nacional? Não, do que se fala é do lugar do Mexia, da necessidade dos alemães compensarem maus negócios e do tráfico de influências. Alguém duvida de que o Mexia vai ficar e a EDP vai ser vendida a quem deu mais? Não, da mesma forma que todos sabemos que nunca haverá qualquer investigação, da mesma forma que os casos BPN e submarinos serão abafados enquanto que o país se entretém com as mentiras judiciais do costume, os portugueses são roubados, gozados e ainda pagam o espectáculo da palhaçada judicial.