Agora que 2012 se aproxima do fim e vamos sendo tomados por sentimentos natalícios é o momento para fazer algo que há algum tempo sinto necessidade, manifestar a Passos Coelho a minha gratidão.
Há mais de trinta anos que a direita se anda a disfarçar recorrendo aos valores da esquerda, com a extrema direita a oscilar entre os disfarces de centrista ou de social-democrata. Já quando a AD ganhou as eleições o Freitas do Amaral, então presidente do CDS e actual boy do PSD, exultava de alegria porque tinha ganho nos bairros da lata. Poucos meses antes ainda o PSD era um defensor incondicional do socialismo e o CDS manifestava a sua obediência ao Conselho da Revolução.
Finalmente a direita teve a coragem de se assumir e já não se disfarça de social-democrata, assume claramente que está no poder para servir os mais ricos e se for necessário espoliar todos os portugueses para ajudar banqueiros e empresários falidos a sobreviver à concorrência externa. Finalmente a direita portuguesa é mesmo direita, e isso é um favor que a esquerda nunca poderá esquecer.
Depois de anos e anos de se dizer que é tudo o mesmo toda uma geração que não conheceu um governo de direita a sério e sem complexos vai ficar a saber, e nada melhor do que um ministro das Finanças mais brutal do que qualquer outro do salazarismo, um primeiro-ministro que despreza o seu povo e sugere-lhe a emigração para se perceberem as diferenças entre direita e esquerda.
Temos de agradecer a Passos Coelho por ter mostrado aos professores portugueses o calibre de sindicalistas como Mário Nogueira, de defensores da soberania como o Nobre ou o empenho social de trastes como o Paulo Portas.
Temos de agradecer a Passos Coelho por explicar que a asfixia democrática é adoptar um orçamento brutal em que a única excepção ao excesso de troika em vez de serem as medidas para estimular o crescimento económico foi o orçamento da Administração Interna para financiar a repressão. Vítor Gaspar não explicaria melhor aos nossos jovens nascidos em democracia o que é uma estratégia fascista, nem mesmo os responsáveis da polícia que infiltraram a manifestação da greve geral teriam feito melhor.
Temos de agradecer a Passos Coelho porque ensinou aos portugueses o valor de coisas como o Serviço Nacional de Saúde, direitos laborais tão elementares como o direito ao descanso ou a uma remuneração justa, ou coisas tão elementares em toda a Europa como os subsídios.
Temos de agradecer a Passos Coelho o facto de os portugueses deixarem de gozar com governantes dialogantes e passarem a dar mais importância à concertação social e ao diálogo do que à ditadura. Hoje os portugueses sabem qual a diferença entre o diálogo entre parceiros sociais e uma sociedade regulada por decisões adoptadas por um governo autoritário e com tiques fascistas.
È muito pouco provável que Passos Coelho termine 2012 como primeiro-ministro, ele está convencido de que enquanto houver troika pode brutalizar os portugueses e o país em favor dos mais ricos mas está enganado, não conhece nem Portugal nem a história, essas coisas não se aprendem em cursos da treta, não são acessíveis a personagens com parcos recursos intelectuais nem o Ângelo Correia parece ter sentido necessidade de lhe ensinar. Por isso governo como se não existisse constituição e o mandato fosse de 48 anos.
Mas passos Coelho está enganado, vai ser corrido mais cedo do que imagina e não podemos deixar passar o último Natal de muitos portugueses para lhe manifestar a gratidão pelo que está a fazer pela esquerda portuguesa.