A crítica recorrente feita pela direita e extrema-esquerda a todos os Orçamentos de Estado dos últimos anos foi a de não apostarem no crescimento económico, as ajudas sociais pecaram sempre por defeito, os investimentos públicos foram sempre escassos, os défices foram sempre insuficientes. A direita que insiste em castigar os portugueses com medidas de austeridade próprias de um governo do Pinochet foi a mesma que pediu desculpa aos portugueses por terem deixado passar algumas medidas ligeiras de austeridade e lançaram uma crise política chumbando um PEC cujas medidas se apressaram a adoptar mal chegaram ao poder.
O incrível é que o governo da direita tem um ministro tão incompetente que ainda antes de aprovado o Orçamento de Estado já toda a agente sabia que a previsão de 2,8% de recessão em 2012 não passava de um palpite do ministro. Isto é, todas as expectativas em relação às receitas fiscais constantes deste OE são falas e poderão pecar por excesso. Isso explica que mal o OE foi aprovado o discurso de Passos Coelho foi o da necessidade de medidas adicionais.
Temos portanto uma vedeta no ministério das Finanças que faz orçamentos aldrabados e põe o idiota do primeiro-ministro a assumir que muito provavelmente terão de ser adoptadas mais medidas de austeridade. É evidente que Passos Coelho não está só preocupado com os resultados de um OE manhoso e martelado, está a fazer pressão para que Cavaco não questione a constitucionalidade do corte dos subsídios.
Estamos portanto perante gente manhosa, irresponsável e incompetente e desonesta. Manhosa porque estão a desprezar a Constituição que juraram respeitar não hesitando em atirar os portugueses uns contra os outros. Irresponsável porque quando se sabe que a recessão vai ser superior a 3% as declarações do primeiro-ministro só poderão ter como resultado uma espiral recessiva, se nem o governo acredita no seu OE e confia em Portugal o que dizer dos agentes económicos? Incpompetente porque são incapazes de prever as consequências das suas políticas. Desonestas porque adoptam um orçamento e já têm um orçamento rectificativo na manga.
O mais grave é que os mesmso que não hesitaram em lançar uma crise política para chegarem ao poder, usam agora o poder à margem de qualquer regra constitucional, mandam ajudantes bocejar no parlamento, adoptam os alvos da austeridade em função de sondagens eleitorais e fazem chantagem sobre o país e sobre a Presidência da República precisamente com as consequências de uma crise política.
Os Portugueses começam a perceber que o Governo está a confrontá-los com duas opções, ou aceitam tudo o que o Gaspar entender decidir e apresentar à aprovação da troika muito antes de informar os portugueses, sem qualquer consideração pelos valores constitucionais e pela justiça, ou terão de enfrentar as consequências de uma crise política. Por outras palavras, Passos Coelho está a usar a crise financeira internacional e a vulnerabilidade do país para fazer chantagem sobre Portugal, o seu povo e as suas instituições, ou aceitamos tudo o que ele decide ou o país resvala para a bancarrota.
Esta postura só merece uma resposta dos portugueses e das instituições democráticas que ainda funcionam.