sábado, dezembro 24, 2011

Umas no cravo e outras na ferradura


 

 Boas Festas   
 

Foto Jumento


Pai Natal na Rua Augusta, Lisboa

PS: A fotografia foi tirada em 2004, tanto quanto se sabe o Pai Natal não só terá pedido mudança de nacionalidade depois de ter pedido asilo político, depois de ter emigrado receando ser expulso pelo Passos Coelho, com o apoio do Relvas e através da agência de emigração do Paulinho Rangel.
  
Imagens dos visitantes d'O Jumento


Abrigados do vento [A. Cabral]
  
Jumento do dia


Gasparoika, ministro (incompetente) das Finanças

Parece que o Gasparoika não gostou de ter uma nota sofrível na sondagem do Expresso e os seus assessores de imagem já estão a tentar recuperar dos danos, até porque com uma avaliação ao nível do suficiente o ministro das Finanças nunca conseguirá o estatuto de salvador que Salazar já teve.
Mas o pessoal da Ongoing não brinca em serviço, até porque com a crise económica a poder resultar em crise social corre um sério risco de estar a trabalhar para o boneco e ficar sem a RTP. O problema é que os portugueses não matam a fome dos filhos com os auto elogios do Gaspar e este tipo de manobras não vão salvar nem o Gasparoika, nem o governo incompetente e manhoso a que pertence  e cuja liderança disputa aos dirigentes partidários.

O próximo ano vai mostrar como este obscuro economista especialista em papers não é tão competente como quer fazer querer. E se a hora de começar a trabalhar é às cinco da manhã o problema é dele, dele e da mulher.

«Vítor Gaspar diz que ainda não é capaz de avaliar a sua actuação como ministro, mas faz um balanço do seu dia-a-dia.

O ministro começa a trabalhar por volta das cinco da manhã. Às 7h30 entra no ministério de onde procura sair por volta das 20h.

"Quando estou sob pressão, quando tenho um conjunto de tarefas extenso para desempenhar, começo efectivamente cedo, por volta das cinco da manhã. Trabalho um par de horas. Por volta das 7h15 venho para o Ministério, onde chego pouco antes das 7h30. Procuro trabalhar até por volta das oito da noite, um voto que não sou capaz de cumprir todos os dias", explica Vítor Gaspar ao Expresso.

Para o ministro, que diz ter abdicado de alguns aspectos da vida familiar e pessoal em prol da gestão da pasta das Finanças, "a exigência é grande". "O tempo que passo com a família reduziu-se, estou a fazer menos desporto e o tempo que tenho para reflectir e pensar com distância sobre o que se está a passar, sobre a actualidade, perdeu-se também", confessou.

Vítor Gaspar faz ainda uma confidência: "Pessoalmente, gosto muito de pensar devagar, tenho vícios de pensar devagar e tenho muito poucas oportunidades para pensar devagar".» [DN]

 Sugestão de emprego para candidatos à emigração: distribuidor da FedEx


 Momento de puro prazer

 
A venda da quota do Estado na EDP à China soube a uma prenda do Passos Coelho, ver esta canalhada que tanto insinuou a propósito das relações do Governo de Sócrates com a República Popular da China vir em procissão defender o negócio que toda agente sabia não ser o desejado é quase um delicioso e açucarado sonho de Natal. Os Batanetes não resistiram à tentação de engrandecer o seu adorado líder bufando para o Financial Times as negociatas privadas com a senhora Merkel e acabaram por se tramar.
 
A EDP foi bem vendida, depois do historial de corrupção nos negócios com empresas alemãs e sabendo-se que a proposta germânica era miserável não é difícil de adivinhar que alguém teria muito a ganhar à custa do país. Obrigadinho Financial Times!
 
Quem se deve estar a rir literalmente à grande e à francesa é o Sócrates, os que o gozaram pelos seus negócios estão agora a rastejar perante a Venezuela e a comportar-se como cachorrinhos com os chineses, só não lambem od ditos cujos ao Kadafi porque o desgraçado foi abatido, senão há muito que o Relvas ou o Portas já teriam ido à tenda prestar-lhe vassalagem.
 
Quem se deve estar a rir são os comunistas chineses, o FMI e a direita europeia usou a crise para atirar Portugal para a miséria obrigando-o a vender a EDP e é um país comunista a aproveitar a situação. Pobre Europa! Está entregue a idiotas como a Merkel ou os nossos Batanetes. Passos Coelho tinha toda a razão, as privatizações estão a promover a democratização da economia, um dia destes em vez de se decidir no mercado decide-se tudo no comité central do PCC.

 Mais um na lista das marcas da direita: Fernando Ulrich e o BPI


 O menino bem que está à frente dos destinos do BPI, um banco que cheira que tresanda a corrupção angolana, gosta muito de fazer política e foi um dos gestores mais destacados na ajuda à direita. Este bancário, que tem menos habilitações académicas do que muitos dos seus balconistas, não se cansou de atacar o governo anterior por má gestão e falta de previsão, mas agora sabe-se que o fino BPI está atolado em dívidas soberanas e vai precisar dos contribuintes para sobreviver.

O bancário que ao longo de anos distribuiu dividendos, falou ao país de cima para baixo e tratou governantes com arrogância exibe agora os sacrifícios dos seus próprios trabalhadores como exemplo das suas capacidades de gestão. Ser cliente do BPI é ajudar gente como Fernando Ulrich a fazer política com o dinheiro alheio, a compensar os seus maus negócios com o dinheiro dos contribuintes e a explorar e exibir a exploração dos seus colaboradores.

Boicotar o senhor Fernando Ulrich e o seu banco é uma obrigação ética e moral de todos os que se opõem à injustiça e à bestialidade política.
  
 DN: argumento canalha

  
E os jornais escreverem o que os goebelzinhos do Relvas mandam não prejudica o país?
  
 E vão 38 mentiras!


Nem foi preciso esperar por 2012 para Passos Coelho dizer às escondidas dos portugueses que o OE para 2012 dificilmente vai ser cumprido e que o défice é será maior do que os 4,5%. Isto significa que o orçamento é uma imensa mentira como esta foi montada para vir a justificar mais medidas de austeridade que o Gasparoika sempre defendeu.

Este governo não está a combater a crise está a aprofundá-la para ter motivos para a coberto do memorando com a troika que é sucessivamente revisto em segredo operar um regresso ao 24 de Abril de 194. Este governo recorre tanto à mentira que começa a ser ilegítimo.

Que autoridade tem Passos Coelho para exigir limites constitucionais ao défice quando faz um orçamento aldrabado, com base em previsões que sabe estarem erradas e ainda antes do ano começar já admite que n
não vai cumprir o OE? Isto não é governar, é uma verdadeira palhaçada digna de um circo de rua.
  
 Repararam?

Que nesta sexta-feira o governo quase desapareceu na comunicação social? Até parece que decretaram uma tolerância de povo privativa.
  
 

 O problema estrutural

«Estamos já tão habituados a que nos baixem o rating que quando, como sucedeu esta semana, nos informam de que passámos de "democracia plena" para "democracia com falhas" num índice internacional - o da revista The Economist - ninguém parece muito preocupado, indignado ou sequer interessado (fosse há um ano, ai).

Caindo um posto, do 26.º para o 27.º, e trocando de lugar com Cabo Verde, Portugal fica em segundo na secção de democracias defeituosas, ainda assim acima da França (29.º), da Itália (31.º) e da Grécia (32.º). A Espanha tem dois lugares de vantagem (25.º), mas após tombo de sete. No topo está a Noruega e no fim do pelotão a inevitável Coreia do Norte. No relatório que sustenta o índice, frisa-se o contraste entre a luta das Primaveras Árabes pela democracia e as sombras que sobre ela impendem no seu berço, a Europa Ocidental, onde eleitos são substituídos por tecnocratas (Itália e Grécia) e o perigo do populismo e da xenofobia se adensa sob a égide da austeridade.

É aliás à crise económica e do euro e ao facto de o País ter perdido autonomia governativa que o relatório atribui o downgrading português. O índice é decerto discutível (como aliás todos os relacionados com percepções) mas vale a pena ler a parte em que se fala da noção de democracia e da forma de lhe aferir o grau. "A democracia pode ser vista como o conjunto de princípios e práticas que institucionalizam e em última análise protegem a liberdade", diz a Economist. E define as democracias com falhas como "países com eleições livres e justas e respeito pelas liberdades cívicas básicas, mas com fraquezas significativas noutros aspectos da democracia, incluindo problemas de governação, uma cultura política subdesenvolvida e baixos níveis de participação política". Bingo. Sucede é que esta descrição já se aplicava a Portugal desde o lançamento do índice, em 2006, e só agora nos passaram para os que precisam de melhoras.

Ora se esta democracia tem neste momento problemas muito graves de legitimidade governativa (quer ao nível de quem está a tomar decisões fundamentais - "poderes ou organizações estrangeiras", Economist dixit - quer do mandato, já que o programa que foi levado a sufrágio não coincide com o imposto), a ausência de reacção a essas ameaças demonstra que estruturalmente o País não preza a democracia e talvez nem perceba bem o que é e para que serve. Como o questionário da Economist lembra, a qualidade de uma democracia não depende apenas da dos governos. O apoio popular de que é alvo, a noção de que é a melhor forma de regime e de que beneficia a performance económica, não sendo contrária à manutenção da ordem, assim como a rejeição da ideia de que um executivo de "especialistas" e "tecnocratas" é preferível a um de políticos são aspectos fulcrais na saúde democrática. Não é uma coisa decidida "pelos de lá de cima"; é de nós que depende. E se tem defeitos são os nossos.» [DN]

Autor:

Fernanda Câncio.
   
 Uma EDP no fundo do túnel

«Claro que eu podia ir pela ironia do PCP considerar "gestão danosa" a venda da EDP aos chineses (a EDP nas mãos dos comunistas não augura nada de bom, é?). Claro que podia ir pela ironia do Governo - que quer tirar o Estado português das empresas - entregar a EDP a uma empresa que pertence toda ao Estado chinês... Mas seria demasiado fácil, nos tempos que correm o que mais há são ironias. Por isso, se quiser ficar por elas, e eu gosto, tenho de cavar fundo para encontrar uma ironia histórica. Vamos então falar da Grande Depressão, não desta que está a ser combatida com a austeridade e pelo corte das despesas públicas. Falo da outra, a Grande Depressão, da década de 1930, que o Presidente Franklin Roosevelt combateu com grandes obras públicas. E, dessas obras, a maior foi um plano de gigantescas barragens. E o pai delas, incluindo a famosa Barragem Hoover, em 1935, sobre o rio Colorado, foi o engenheiro John Lucien Savage (1879-1967). Hmm..., John L. Savage, John L. Savage, o nome diz-me qualquer coisa... Isso, foi aquele engenheiro americano que, em 1945, foi à China, percorreu o rio Iang-Tsé, e determinou o lugar para construir a barragem das Três Gargantas (Three Gorges), uma das maiores do mundo. Hmm..., Three Gorges, Three Gorges, o nome diz-me qualquer coisa... Ah, certo, aquela CTG (China Three Gorges) que comprou, ontem, a EDP. Ainda bem que Roosevelt não poupou em investimentos. A ironia é que o dia de ontem começou aí.» [DN]

Autor:

Ferreira Fernandes.
  
 O desmentido

«Pronto, está esclarecido: era mesmo mentira. O ministro das Finanças explicou no Parlamento que a decisão de criar o imposto que cortou o equivalente a metade do 13º mês foi uma opção livre do Governo e não o resultado de uma imposição da troika, ao contrário do que tinha sugerido o primeiro-ministro numa das suas recentes entrevistas televisivas.

Como é sabido, quando lhe perguntaram se em vez de lançar um imposto extraordinário (que prejudica as famílias e a economia) o Governo não teria feito melhor em recorrer apenas à receita, também extraordinária, dos fundos de pensões da banca (já que o seu montante é mais do que suficiente para garantir o cumprimento das metas do défice), o primeiro-ministro, para não assumir o erro grosseiro da sua opção precipitada, deitou as culpas para a troika. E explicou: "Se não o tivéssemos feito (o corte no 13º mês) nem sequer nos tinham deixado utilizar os fundos de pensões para pagar o défice". A resposta pretendia afastar a ideia de que havia escolha entre as duas receitas extraordinárias. Percebe-se: se o Governo não tinha margem de escolha (porque a troika, alegadamente, não a permitia), também não podia ser acusado de decidir mal. E assim, de uma assentada, passava igualmente para as costas da troika a responsabilidade pelo absurdo que é taxar os rendimentos das famílias muito acima do necessário.

A desculpa inventada pelo primeiro-ministro até parecia perfeita, útil e agradável. Só tinha um pequeno problema: era falsa. Completamente falsa. Eu próprio tive ocasião de demonstrar aqui, na semana passada, que a explicação do primeiro-ministro não batia certo nem com o que ele disse no Parlamento quando anunciou o corte no 13º mês, logo em 30 de Junho, nem com a cronologia do processo de decisão do Governo. Entretanto, diversas fontes da própria troika, citadas pela comunicação social, vieram também negar, peremptoriamente, a versão do primeiro-ministro. Mas o golpe fatal foi dado pelo desmentido do ministro das Finanças, com aquele jeito que ele tem de demorar o tempo todo de que precisa para escolher as palavras. E a palavra que escolheu foi "opção": houve, de facto, uma "opção" - disse ele - e "a opção foi do Governo". Arrasador.

Sucede que essa opção que o primeiro-ministro não queria assumir foi um erro grave. Na verdade, o ministro das Finanças revelou que, com as receitas extraordinárias, o défice de 2011 ficará "na casa dos 4%" do PIB. Ora, para este resultado a receita esperada com o imposto extraordinário só contribui com 0,5% (Cfr. Quadro II.2.2. do Relatório OE 2012, pág. 26). Sendo assim, é evidente que mesmo sem o imposto sobre o subsídio de Natal a meta do défice não só seria cumprida como ficaria ainda mais de 1% abaixo (!) dos 5,9% previstos no Memorando de Entendimento! Este foi, portanto, um erro grave do Governo, que saiu desnecessariamente muito caro às famílias e à economia portuguesa.

A troika, já se percebeu, tem "as costas largas". Mas não pode aceitar-se esta permanente tentativa do Governo de confundir as suas próprias escolhas com os compromissos assumidos com a troika. A verdade é esta: este absurdo imposto extraordinário sobre o 13º mês não está no Memorando de Entendimento negociado com a troika em Maio, tal como não está lá o aumento do IVA da energia e da restauração para os 23%; nem os aumentos de 25% nos transportes públicos; nem o aumento para o dobro das taxas moderadoras; nem a regra da consolidação orçamental feita em 2/3 do lado da despesa; nem a eliminação dos subsídios de férias e de Natal dos funcionários públicos e dos pensionistas em 2012 e 2013; nem a eliminação do escalão de 12,5% no IRC; nem a proibição dos incentivos fiscais para o projecto de mobilidade eléctrica da Nissan; nem o limite de 8 a 12 dias para as indemnizações por despedimento. Como bem disse o ministro das Finanças - e escolho também as palavras - vai nisto tudo uma "opção". Uma opção do Governo.» [DE]

Autor:

Pedro Silva Pereira.
 
 Os trabalhadores que paguem a crise
 
«A aposta nos salários baixos dos portugueses não acrescentou competitividade à economia nacional e, no entanto, é esse caminho que está a ser reforçado. No custo dos serviços e produtos com que Portugal quer competir no exterior aumenta mais a cada ano que passa o peso dos factores energia e transportes do que aumenta o peso da massa salarial.

Nestes custos de produção, o poder político não trabalha para diminuir o seu peso procurando contrabalançar diminuindo o factor salários. É nesta política que se insere a meia hora de trabalho a mais, que se insere o corte dos feriados ou a diminuição do tempo de férias para os trabalhadores assíduos. Mais 23 dias de trabalho por ano são quase 10% a mais para o mesmo salário anual e em muitos casos para um salário anual inferior (trabalhadores da Função Pública ou de empresas públicas já sabem que no próximo ano vão receber menos dois salários).

A questão ideológica que está por trás destas decisões não é a da necessidade de aumentar a produtividade, porque essa serve a Direita e a Esquerda. Mas ela poderia ser conseguida à custa de maior concorrência na venda de energia (electricidade e produtos petrolíferos), por exemplo. Só que existe uma clara opção de seguir pelo caminho mais fácil.

Como ter um emprego passou a ser visto como uma coisa luxuosa, não parece demais sobrecarregar os trabalhadores. Nalguns casos, para manter o nível de emprego, há trabalhadores que viram o valor da sua hora de trabalho diminuir mais de 30% em dois anos. De uma forma geral, vamos acabar com esse valor/hora a níveis do que tínhamos há 20 anos.» [DV]

Autor:

Paulo Bardaia.
  
 Ni hao, meus senhores

«Ontem foi um dia histórico. Menos pela saída do Estado Português do que pela entrada da China na EDP. A Europa está a ficar para tia, falida e pudica, de um mundo que agora gira entre Nova Iorque e Pequim. Portugal tomou uma opção: entrou nesse eixo. E isso abre um novo mar - um mar onde seremos as rémoras dos tubarões. [Jornal de Negócios]


Ontem foi um dia histórico. Menos pela saída do Estado Português do que pela entrada da China na EDP. A Europa está a ficar para tia, falida e pudica, de um mundo que agora gira entre Nova Iorque e Pequim. Portugal tomou uma opção: entrou nesse eixo. E isso abre um novo mar - um mar onde seremos as rémoras dos tubarões.

A privatização foi um "jackpot" para a EDP e para o Estado. Porque traz aquilo de que ambos mais carecem: capital. O capital sem pátria, que preferíamos que fosse nosso, mas nosso não há. Há este, é pegar ou largar. Nós pegámos. A dependência tornou-nos pragmáticos: andamos a aprender com os angolanos. Mas a China é outra coisa: é um potentado. E quanto a proselitismos, basta olhar para a Zona Euro. O dinheiro chinês é o mesmo dinheiro que a União Europeia e o FMI foram mendigar há semanas para alavancar o Fundo de Estabilização da Zona Euro. Foi um vexame: a senhora Lagarde e o senhor Regling levaram tampa. Portugal fechou negócio. A diferença não é o espaço geográfico, é ser capital para investimento em vez de capital para pedinte.

É claro que os chineses são um problema, mesmo para quem não tem consciência. Não são uma democracia. Não respeitam direitos humanos. Nem ambientais. Mas a Europa hipotecou a consciência quando se tornou frágil. Olhai para Espanha: prepara-se para vender 10% da Repsol a chineses, a russos ou ao Qatar. Pois é: o país dos "campeões nacionais" está de rastos, com construtoras como a Sacyr a vender-se para pagar dívidas e bancos como o Santander a precisarem de aumentos de capital gigantes para tapar os buracos abertos pelos seus apregoados sucessos.

Sempre esperámos a ascensão dos BRIC. Nunca esperámos que ela acontecesse em simultâneo com o declínio acelerado da Europa e a erosão lenta dos Estados Unidos: a quebra do mundo ocidental. E agora, por muito que nos custe, e custa, vamos pedir dinheiro a países pobres onde há muitos ricos. Países de petróleo, da abundância de recursos naturais, países como a China. Que não é uma democracia. Que emergirá como nova potência mundial para uma nova bipolaridade. Sem disparar um único tiro.

A Three Gorges capitaliza e financia a EDP, salvando-a de uma dívida preocupante em tempo de maus "ratings". Mais: a China traz fábricas, financia bancos, anuncia participar na solução do BCP. Mas nós, sobretudo, selámos uma aliança. Não com o Diabo. Não com qualquer anjo. Passos Coelho foi corajoso - e temerário.

É preciso garantir que tudo o que foi anunciado será cumprido - há razões para ser céptico em relação aos chineses. Se for, seguiremos no lastro. Para África, inclusive. E para o Brasil. É esse o nosso "interesse": o "mercado de língua portuguesa", de que falava o primeiro-ministro há dias. A PT vale pelo Brasil, a EDP vale pelo Brasil e pelas renováveis, a TAP vale pelo Brasil e África, a Galp vale pelo Brasil e Moçambique, o BPI vale por Angola. É o nosso factor competitivo, foi o nosso destino, a solução de escape enquanto falidos.

Os chineses investem em ciclos longos e actuam em rede. Percebemo-los mal e vamos ter de aprender a dialogar com eles, ou seremos enganados. Mas agora, numa galeria longínqua em Pequim, já nos olham como chinesinhos, seus aliados.

Angela Merkel deve ter aprendido ontem uma lição. Isto não está a acontecer a Portugal, está a acontecer à Europa, paralisada nas suas pequenas ordenanças. E nós? Nós estamos a ver se nos salvamos, desesperadamente procurando fora da Europa o que a Europa não nos consegue providenciar. Portugal não se vendeu porque não se vende o que não se tem. Bem-vindos ao mundo novo, ele é pouco admirável mas segue em lentas translações. Correr riscos é melhor do que morrer devagar.»

Autor:

Pedro Santos Guerreiro
  
 Estado de sítio

«Nunca se deve encurralar uma fera. Mesmo os portugueses, que são mansos, não gostam de ser encurralados. Mas é isso que está a suceder. Todos os dias o governo aperta ainda mais o cerco, retirando meios de subsistência, paralisando a economia, não apresentando qualquer saída positiva. Tanto ministro e secretário de estado e ninguém é capaz de proferir uma única palavra de esperança ou anunciar uma medida estimulante. Estiveram um dia inteiro fechados num forte e a única coisa que saiu foi maior facilidade em despedir. Como dizia o meu amigo Ernesto, esta gente tem pelos no coração.

Perante isto, os primeiros sinais de agitação da fera mansa começam a surgir. São os pórticos das autoestradas destruídos a tiro; o vandalismo crescente; os ataques no ciberespaço; o ódio à polícia cada vez mais descarado; a criminalidade que aumenta em quantidade e brutalidade.

Aliás, os brandos são os piores. É dos telejornais que os maiores assassinos, aqueles que saem à rua com uma arma e desatam a matar pessoas, são invariavelmente descritos pelos vizinhos como excelentes pessoas. Sempre pensei o mesmo da brandura dos portugueses. Ela esconde uma raiva funda que a qualquer momento pode rebentar. E, em boa verdade, desde o 25 de Abril nunca estiveram reunidas tantas condições, sociais, económicas, políticas e psicológicas, para que "salte a tampa" a alguns portugueses.

A primeira vez que Passos Coelho falou em tumultos achei que estava a exagerar. Ele tentava refrear os ímpetos do sindicalismo e do PC, mas conhecendo o "modus operandi" destes, sempre formalista, pareceu-me que estava mais a pedir agitação do que a preveni-la.

Umas quantas semanas depois, muitos cortes, subidas de impostos e um declarado desdém pela sorte dos portugueses e já acho que o medo dos tumultos faz mesmo sentido. Não tanto na versão camarada da "agit-prop", mas em atos de sabotagem, violência gratuita e mesmo naquilo que por estes dias se apelida de terrorismo.

Acresce um outro fator de caráter sociológico que pode vir a tornar-se determinante para o aumento da violência social. A situação da juventude. Após o Maio de 68, a Europa conseguiu refrear o radicalismo dos jovens metendo-lhes dinheiro no bolso e dando-lhes coisas para comprar. A juventude tornou-se consumidora e, nessa condição, conservadora. A austeridade imposta por troikas e governo afeta sobretudo os jovens e estes não têm mais dinheiro, nem futuro. A tal ponto que o próprio primeiro-ministro, mostrando muita falta de sensibilidade humana e política, diz que o melhor é irem-se embora porque o país não tem nada para lhes oferecer. Em resultado, uma nova geração de jovens está em vias de se radicalizar e agir em conformidade. Os epítetos de anarquistas, agitadores, vândalos e outros de ocasião, podem sossegar jornalistas e políticos mas não bastam para iludir o desassossego crescente. A juventude portuguesa não está numa situação muito diferente dos jovens árabes que incendiaram vários países. E vão provavelmente começar a fazer estragos.

Como se não bastasse, a oposição política é um deserto de ideias. Não existem alternativas no campo partidário e nem sequer temos intelectuais ou figuras com reconhecimento cultural e público com capacidade e crédito para mobilizar o descontentamento. Os portugueses que sofrem a investida de uma governação que só pensa como lhes extorquir ainda mais do parco rendimento, estão totalmente abandonados à sua sorte. Ou seja, e como disse no início, estão encurralados numa curva da história.

Antigamente estas situações resolviam-se com guerras ou em alternativa com revoluções. A guerra, embora seja constante, é surda, distante e subterrânea. Não é previsível que possa eclodir nas ruas da Europa. Pelo menos no médio prazo. Quanto a revoluções, elas passaram para o campo do tecnológico e muito dificilmente surgirão, à antiga, com barricadas e movimentos de massas enfurecidas.

É por tudo isto que, do caldo de frustração e beco sem saída em que nos encontramos, antevejo um tempo de pequenos e medianos atos subversivos que irão desestabilizar a nossa sociedade. Mas claro, isto sou eu a pensar neste fim de ano nada entusiasmante. Boas festas.» [Jornal de Negócios]

Autor:

Leonel Moura.
  

 Deputados de férias

«Os deputados encerraram ontem os trabalhos parlamentares de 2011 e as comissões e plenários só serão retomados a 3 de Janeiro de 2012, segundo a agenda da Assembleia da República. » [CM]

Parecer:

Uma semanita de férias...

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Aprove-se, poupa-se no aquecimento, iluminação e higienização da sala.»
  
 E agora quem comeu os robalos?

«Os Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC) leiloaram hoje 200 quilómetros de cabos eléctricos sem utilidade, negócio que deverá render mais de 170 mil euros e assumido por uma empresa em que o sócio maioritário é o sucateiro Manuel Godinho.» [DN]

Parecer:

Já estarão a fazer escutas ao Álvaro ou aos amigos do Passos Coelho?

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Faça-se um sorriso cínico.»
  
 Passos Coelho, o resistente

«A China Three Gorges foi a opção, e além dos 2,7 mil milhões de euros que paga pela eléctrica a empresa aplicará mais seis mil milhões em Portugal. De nada valeram as pressões da chanceler alemã e da Presidente brasileira a favor das empresas dos seus países.

Os 2,7 mil milhões de euros pelos 21,35% da EDP garante ainda à China Three Gorges duas linhas de crédito de quatro mil milhões e investimentos de dois mil milhões até 2015. Mais: também está prometida uma fábrica de turbinas eólicas e um banco para apoiar o investimento chinês em Portugal.» [DN]

Parecer:

Cada vez admiro mais este homem, melhor do que ele só os pastorinhos de Fátima.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Faça-se um sorriso cínico.»
  
 A Europa arde por todos os cantos

«Furioso com a aprovação da penalização da negação do genocídio arménio por parte da França, primeiro-ministro turco pôs hoje em causa o pai do Presidente Nicolas Sarkozy e a actuação dos franceses na Argélia.» [DN]

Parecer:

Esta combinação de líderes europeus faz lembrar os anos anteriores à II Grande Guerra.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Lamente-se e proteste-se contra esta Europa de ricos irresponsáveis.»
  
 Teixeira dos Santos já passou pelo Omo da direita

«No mercado interno, como é costume, Teixeira dos Santos não foi capaz de vencer a batalha do critério sobre o espalhafato, nem da realidade sobre cenários fabricados em material plástico. Mas tudo isso já passou. O que importa é que Teixeira dos Santos, o economista de facto e gravata (mas podia ser em ‘t-shirt') e já não o ministro em camisa de forças, reapareceu. Continua a não ser do PS, felizmente para nós continua a não vincular as suas posições pelo PS - e infelizmente para o PS, o PS continua a com ele não poder contar para se transformar num partido mais esclarecido.» [DE]

Parecer:

Bastou vir a público apoiar as sacanices orçamentais da direita e até o DE já elogia este economista sem grande currículo académico que ficou conhecido graças aos governos a que pertenceu. O DE esquece as suas responsabilidades e os sucessivos erros de previsão, esquece que só se começou a falar de divergências mais ou menos na mesma altura em que as ratazanas costumam abandonar os navios.

Lamentável.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Vomite-se.»
  
 EDP: Mexia elogia coragem do governo


«O presidente da maior eléctrica de Portugal considerou que "o negócio é um sucesso para o Estado e para os portugueses", já que rendeu "um milhão de euros acima do valor em bolsa".

"O negócio dá um acesso a 8,7 mil milhões de euros", sublinhou o responsável pela EDP que considera a venda aos chineses como "uma decisão política corajosa". » [Dinheiro Vivo]
  
Parecer:

Ainda vou ver este Mexia convidar o Jerónimo de Sousa para partilhar o pequeno-almoço.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Graxista!»
  
 A anedota do dia

«No seu comentário semanal na TVI 24, Marques Mendes revelou que "um grupo português com um grupo chinês vão ter uma parceria para avançar neste seguinte sentido: O grupo chinês instalará uma importante fábrica de automóveis aqui em Portugal e o grupo português instalará uma fábrica para construção de autocarros eléctricos na China".

O advogado considera que este negócio é uma consequência directa da venda de 21,35% da EDP à China Three Gorges: "Estamos a falar de volumes financeiros muito e muito significativos, que vem na ocorrência desta decisão de hoje".» [DV]

Parecer:

Só esta aventesma acha que a construção de uma fábrica de automóveis e outra de autocarros se decide de um dia para o outro.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Dê-se a merecida gargalhada.»
  
 Ainda ontem aprovaram o orçamento e já não acreditam nele?

«O primeiro-ministro Pedro Passos Coelho receia que as medidas do Orçamento do Estado para 2012 não sejam suficientes para cumprir o défice orçamental de 4,5% no próximo ano, segundo o jornal Sol.» [DV]

Parecer:

Ele e o incompetente do Gasparoika não receiam, têm a certeza e já a tinham ainda antes de o aprovarem, é mais uma mentira colossal a juntar às anteriores.
  
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Proteste-se contra a incompetência, falsidade e sacanice do governo.»