Há uns dias atrás num momento de exaltação nacional o director do jornal “i” escreveu um editorial em quase defendia a nomeação de Vítor Gaspar para Presidente do Conselho, instituindo-se um novo Estado Novo. A única dúvida que resultava do editorial do jornal que foi vendido por um euro residia em saber se o director do jornal defendia um salazarismo gasparista ou se preferia um gasparismo salazarista. Talvez o dsejo do jornalista possa parece um exagero momentâneo, mas estou mais inclinado para uma reflexão mais ao estilo do deputado Amorim diria que estamos perante uma ejaculação, mas sendo precoce não deixa de ser ejaculação.
A verdade é que neste momento Gaspar é muito mais do que um número dois ou um vice de Passos Coelho, há muito que ultrapassou o Relvas e é o ministro das Finanças que efectivamente manda no governo. Passos Coelho tem-se vindo a transformar num corta-fitas e no verdadeiro ministro dos Negócios Estrangeiros, já que Paulo portas tem optado por não dar a cara e desapareceu.
Vítor Gaspar é tudo o que a direita gosta e Passos Coelho é o que a direita detesta. Gaspar tem uma formação académica razoável enquanto Passos Coelho tem uma licenciatura da treta. Gaspar fez pela vida enquanto Passos Coelho só começou a trabalhar aos quarenta e arranjou emprego nas empresas do tio Ângelo. Vítor Gaspar tem uma vida familiar estável enquanto Passos Coelho andou de doce em doce. Vítor Gaspar tem dado provas de alguma inteligência enquanto em Passos Coelho as debilidades intelectuais, senão mesmo a burrice, são evidentes. Gaspar é um extremista conservador que sabe o que quer enquanto Passos Coelho não tem capacidade para avaliar a consistência das suas próprias ideias e muda de opinião ao ritmo de um catavento.
Mais tarde ou mais cedo a crise económica dará lugar á crise política, isso se o ambiente social não de degradar ao ponto de não bastar polícias provocadores e assistir-se a uma debandada cobarde dos rapazolas e bonequinhas que formam este governo da família dos Batanetes. Nessa altura emergirá a imagem de Vítor Gaspar que é o único membro deste governo que parece saber o que quer, os que também apresentam esta qualidades, como o Crato ou o Paulo Macedo, é porque são os que melhor interpretam as ordens do ministro das Finanças.
O Gaspar é o líder que a direita deste país sempre desejou, o novo Salazar desse sebastianismo salazarista que ao longo de décadas sempre alimentou os sonhos da nossa direita e que explica o descontrolo que levou o director do “i” a um editorial digno da designação de ejaculação precoce por parte do Amorim. Esse novo Salazar nunca foi encontrado, Marcelo era mole, Spínola nunca foi aceite, Eanes rejeitou o papel, Cavaco não fazia o género. Mas Gaspar tem as virtudes reconhecidas em Salazar, o ruralismo, a defesa clara dos interesses da classe dominante, o desprezo pelo sofrimento do povo, uma visão ruralista do desenvolvimento económico.
Pensar que o PSD se move por ideologias e rejeita o gasparismo é uma ilusão, a extrema-direita que sobreviveu ao antigo regime foi inteligente suficiente para não se organizar partidariamente ou para se expor nos partidos mais à direita. Para o CDS foram as pessoas mais gradas do regime, ao PSD aderiram as bases e os dirigentes locais do regime, a Legião Portuguesa e os olhos e ouvidos da DGS. O PSD nunca escondeu a tendência para o autoritarismo, foi essa a qualidade que viram em Cavaco Silva e mais dia, menos dia será essa a qualidade que irão exibir em Gaspar.