Uma das mais poderosas instituições nacionais é a graça, desde os primeiros anos de escolaridade aos mais altos níveis da sociedade a graxa é o trampolim para o sucesso, uma boa parte dos portugueses é graxista e os poderosos gostam de ser engraxados. Não admira que os nossos líderes sejam quase tão “adorados” como os líderes da Coreia do Norte. Veja-se o que se passa numa comitiva presidencial ou do primeiro-ministro, ao lado deles é só olhares embevecidos, sorrisinhos e por cada palavra que seja dita vê-se a comitiva a acenar com a cabeça em sinal afirmativo como se fossem aqueles cãezinhos que dantes os portugueses adoravam colocar na parte de trás dos carros e iam abanando a cabeça com a trepidação do carro.
É divertido ver alguém que de cuja boca não sai nada de relevante a não ser que se esteja a ler o PowerPoint tão criticado em José Sócrates ser tão elogiado por tudo o que diz, pode dizer a maior das baboseiras que aparece logo um catedrático qualquer a desenvolver uma tese que quase justificava a sugestão do nome de Passos Coelho para um prémio Nobel. Para esta imensidão de graxistas tudo onde Passos Coelho toca se transforma em ouro.
Um bom exemplo deste fenómeno foi a recente sugestão de Passos Coelho para que os professores emigrem para Angola e Brasil, viu-se perfeitamente que aquilo saiu-lhe da boca para fora, sem grandes pensamentos ou reflexões, disse-lhes para emigrar da mesma forma que lhes poderia ter feito uma outra sugestão. Passos Coelho está farto de dizer baboseiras destas, as que disse quando estava na oposição e não tinha tanta gente a filtrar o que lhe sai da boca daria para um livro de anedotas.
Mas a asneira de Passos Coelho proporcionou um momento único para que muitos aproveitassem a oportunidade para engraxar o primeiro-ministro, é como se lhe estivessem a dizer “está a ver? Os amigos são para as ocasiões?”. Os artigos que foram escritos por ilustres economistas e sociólogos dariam para um canhamaço dedicado ao problema do desemprego e das migrações e a crer naquilo que foi possível ler seriam necessárias muitas páginas para explicar o pensamento que Passos Coelho sintetizou numa frase que traduzida em português seria mais ou menos “vão para a mãe que os fez”.
Se fosse professor de uma escola de economia como o ISEG e um aluno meu tratasse do problema do desemprego dos professores de uma forma tão leviana sugeria-lhe que deixasse de estudar economia e emigrasse, se nos tempos de estudante tivesse falado naqueles termos numa aula de política económica a Dra. Manuela Silva ter-me-ia carimbado com uma nega. Mas como a idiotice saiu da boca do primeiro-ministro tem mais dignidade do que uma asneira de um aluno da Lusíada e o país parou para reflectir sobre o brilhante pensamento de Passos Coelho.
Nem o Paulo Rangel, o vencido por Passos Coelho na liderança do PSD, deixou escapar a oportunidade de engraxar o seu velho rival e até avançou com a brilhante ideia de criar uma agência de emigração, uma coisa do género “quem importar um par de sapatos português leva um professor de história e outro de trabalhos manuais à borla”.
Melhor do que os portugueses a dar graxa ao grande líder só mesmo os coreanos, a única diferença é que enquanto na Coreia ninguém pode sair, em Portugal é um primeiro-ministro que convida os portugueses a saírem. Até parece que Pyongyang tem vista para o Tejo.