Há alguns dias o Otelo disse que hoje seria mais fácil fazer um 25 de Abril e foi o alvoroço nacional que se viu, à direita ouviram-se os habituais guinchinhos de gente que só defende a democracia quando é do seu interesse, a Procuradoria-Geral apressou-se a ler e reler as declarações em busca de um crime e até o Mário Soares descansou o povo dizendo que por vezes o Otelo é um totó.
Ontem António Ribeiro Ferreira, director de um “i” que cada vez mais se tenta assumir como o jornal do regime, apelou à ditadura num editorial inflamado onde se colocava o Gaspar num pedestal acima do de Oliveira Salazar e parece que ninguém se incomodou. O jornalista chega ao ponto de afirmar que “Portugal não tem tempo a perder com formalismos próprios de gente rica” Sendo esses formalismos próprios de gente rica a própria democracia.
É um editorial que vale a pena ler pela ajuda que pode dar para entendermos os tempos que vivemos e os riscos que corremos se persistirmos em aceitar todos os sacrifícios em nome da austeridade e com medo da troika. Há quem nos queira servir a ditadura numa colher que devemos engolir sem saborear nem pestanejar senão vão buscar a troika. Como o jornalista chega a elogiar no seu artigo inflamado a coisa chegou ao ponto de o Gaspar já estar autorizado a humilhar um ministro em plena reunião do Conselho de Ministros. Aquilo que deveria ser reprovável é exibido no jornal “i” como um motivo para prescindirmos da ditadora em favor das decisões do Gaspar.
Vivemos tempos de mentira, o ministro das Finanças goza com o parlamento e um dia destes faz-se representar pela auxiliar que um seu antecessor costumava encarregar de lhe comprar preservativos. O governador do Banco de Portugal já se dirige aos deputados como se estivesse numa taberna a falar de futebol. E não há um único ministro em todo aquele hemiciclo que venha em defesa da honra da Assembleia da República e dos valores da democracia.
Enquanto a ministra italiana é incapaz de conter as lágrimas quando divulga medidas de austeridade, a imagem do nosso ministro das Finanças e do primeiro-ministro é a de gozo, o seu semblante mais frequente é o do sorriso e da gargalhada. O debate político não passa de um jogo de mentiras, inventam-se desvios colossais, escondem-se os excedentes, inventam-se ordens ada troika, no país com maiores injustiças sociais do mundo desenvolvido o governo recorre à mentira para impor uma reengenharia social que visa a destruição da classe média com o objectivo de expropriar a sua riqueza para entrega-la aos mais ricos.
Portugal não precisa de salvadores, o modelo de desenvolvimento imposto pelo miserabilismo de Vítor Gaspar é precisamente o mesmo que o país já experimentou com Oliveira Salazar, as soluções para a actual crise são decalcadas do programa de Salazar enquanto ministro das Finanças. Não admira que se comecem a ouvir vozes de elogio a este novo velho Estado Novo do Vítor Gaspar.
É preciso dizer não ao fascismo venha ele disfarçado de um cruzado do cristianismo ou de um tecnocrata a mando do BCE, a democracia não é incompatível com a boa gestão das contas públicas, os portugueses sabem debater os seus problemas e não precisam de mentiras para que sejam impostas soluções. A uma política assente em jogos de mentiras e que adopta medidas inconstitucionais é uma política ilegítima e o governo que a pratica torna-se um governo ilegítimo.