Hoje o país ficou a saber que as nossas exportações seguirão
de Sines até Badajoz em TGV de carga com bitola europeia e aí serão
descarregadas, depois seguirão pelos mais diversos meios até à Catalunha, onde
poderá retomar a marcha em comboio rápido com bitola europeia. Se a Espanha não
aceita que as suas mercadorias usem as linhas de TGV não vai permitir eu sejam
os pastéis de nata a viajar nelas. O Álvaro pensou, o Passos disse e agora
soube-se que entre Badajoz e a Catalunha não há bitola europeia!
Os grandes especialistas em transportes que tanto opinaram
sobre o TGV parece que agora deixaram de ter ideias, ninguém explicou que Sines
não é propriamente o grande pólo industrial português e, portanto, a relação
entre uma linha de comboio entre Sines e Badajoz e a competitividade externa
das exportações é uma ficção do Álvaro, uma ideia tão brilhante como
transformar o Algarve na Florida europeia ou o lançamento da multinacional lusa
do pastel de nata.
O país afunda-se em desemprego, já passou os 15%, as
empresas asfixiadas pela quebra da procura interna e sem acesso ao crédito
agonizam e o nosso primeiro-ministro resolve de uma penada problema da nossa
economia, uma linha até Badajoz com bitola europeia. E depois ficamos a saber
que o primeiro-ministro não sabe do que está falando ou, o que é mais grave,
que está brincando com coisas sérias.
É fácil cortar vencimentos, é fácil aumentar impostos, é fácil
adoptar doses cavalares de austeridade quando o maior partido da oposição é
liderado por um cromo e quando a esquerda conservadora é conivente com um
governo de direita. O difícil é evitar a morte acelerada do pequeno comércio,
garantir a sobrevivência de dezenas de milhares de pequenas e médias empresas
que são confrontadas com a ausência da procura interna.
Durante meses o governo tem exibido as exportações, só que
se esqueceu de dizer que está perante um fenómeno que pode ser conjuntural, que
uma boa parte dessas exportações resultam de encomendas feitas aos exportadores
portugueses há muitos meses e que o aumento do preço dos combustíveis pode ter
como consequência a perda de competitividade dos exportadores, uma boa parte
dos benefícios resultantes do acordo de concertação são absorvidos pela carga
fiscal, designadamente, sobre os combustíveis.
Por mais que Passos Coelho e Gaspar se afirmem como discípulos
do famoso professor Alexandrino e se afirme convictamente firmes e hirtos na
sua política a verdade é que a economia portuguesa está a afundar-se, quase
semanalmente são conhecidas previsões de uma recessão mais grave, as receitas
fiscais afundam-se, o OE 2012 é uma mentira económica e só um mentiroso pode
falar em crescimento de 2013 e para se acreditar que tal pode suceder em 2012 é
necessário ser doido.
Maior problema do que a bitola das linhas ferroviárias é a
bitola intelectual dos nossos governantes e quando eles alinham pela bitola do Álvaro
o melhor é esquecer os comboios de mercadorias, a solução está em apanhar o
primeiro comboio para Paris que parta de Santa Apolónia, isso enquanto houver
dinheiro para manter a CP a funcionar.