segunda-feira, abril 02, 2012

Bitolas


Hoje o país ficou a saber que as nossas exportações seguirão de Sines até Badajoz em TGV de carga com bitola europeia e aí serão descarregadas, depois seguirão pelos mais diversos meios até à Catalunha, onde poderá retomar a marcha em comboio rápido com bitola europeia. Se a Espanha não aceita que as suas mercadorias usem as linhas de TGV não vai permitir eu sejam os pastéis de nata a viajar nelas. O Álvaro pensou, o Passos disse e agora soube-se que entre Badajoz e a Catalunha não há bitola europeia!

Os grandes especialistas em transportes que tanto opinaram sobre o TGV parece que agora deixaram de ter ideias, ninguém explicou que Sines não é propriamente o grande pólo industrial português e, portanto, a relação entre uma linha de comboio entre Sines e Badajoz e a competitividade externa das exportações é uma ficção do Álvaro, uma ideia tão brilhante como transformar o Algarve na Florida europeia ou o lançamento da multinacional lusa do pastel de nata.

O país afunda-se em desemprego, já passou os 15%, as empresas asfixiadas pela quebra da procura interna e sem acesso ao crédito agonizam e o nosso primeiro-ministro resolve de uma penada problema da nossa economia, uma linha até Badajoz com bitola europeia. E depois ficamos a saber que o primeiro-ministro não sabe do que está falando ou, o que é mais grave, que está brincando com coisas sérias.

É fácil cortar vencimentos, é fácil aumentar impostos, é fácil adoptar doses cavalares de austeridade quando o maior partido da oposição é liderado por um cromo e quando a esquerda conservadora é conivente com um governo de direita. O difícil é evitar a morte acelerada do pequeno comércio, garantir a sobrevivência de dezenas de milhares de pequenas e médias empresas que são confrontadas com a ausência da procura interna.

Durante meses o governo tem exibido as exportações, só que se esqueceu de dizer que está perante um fenómeno que pode ser conjuntural, que uma boa parte dessas exportações resultam de encomendas feitas aos exportadores portugueses há muitos meses e que o aumento do preço dos combustíveis pode ter como consequência a perda de competitividade dos exportadores, uma boa parte dos benefícios resultantes do acordo de concertação são absorvidos pela carga fiscal, designadamente, sobre os combustíveis.

Por mais que Passos Coelho e Gaspar se afirmem como discípulos do famoso professor Alexandrino e se afirme convictamente firmes e hirtos na sua política a verdade é que a economia portuguesa está a afundar-se, quase semanalmente são conhecidas previsões de uma recessão mais grave, as receitas fiscais afundam-se, o OE 2012 é uma mentira económica e só um mentiroso pode falar em crescimento de 2013 e para se acreditar que tal pode suceder em 2012 é necessário ser doido.

Maior problema do que a bitola das linhas ferroviárias é a bitola intelectual dos nossos governantes e quando eles alinham pela bitola do Álvaro o melhor é esquecer os comboios de mercadorias, a solução está em apanhar o primeiro comboio para Paris que parta de Santa Apolónia, isso enquanto houver dinheiro para manter a CP a funcionar.