Quando ouvi o ministro das Finanças dizer em Nova Iorque que
estamos no bom caminho pensei cá com os meus botões “o que seria de nós sem o
Gasparzinho”? É uma sorte o país ter num momento tão difícil como aquele que
atravessa, melhor, que atravessou, um homem como o Gaspar a cuidar de nós.
É confortante saber que não foi em vão que nos cortaram os
subsídios até ano incerto, que pagamos IVA com língua de palmo, que nos
actualizaram o IMI, nos aumentaram as taxas moderadoras, custou mas o défice
está controlado nos 4,2% e dos dinheiros dos fundos de pensões ainda sobrou
muito para pagar dívidas.
É tranquilizador ouvirmos o ministro com confiança a
garantir-nos que estamos no bom caminho, que em breve teremos crescimento por
muitos e bons anos e que não devemos desesperar, daqui a muito pouco tempo estaremos
a a caminho do pleno emprego.
Graças ao Gaspar a despesa pública pode crescer acima dos 3%
, a quebra das receitas fiscais ultrapassar
os 5% e a dívida pode estar nos 107% do PIB que podemos ficar descansados, o
Passos Coelho não precisa de descobrir nenhum desvio colossal, não serão
necessárias mais medidas de austeridade e a troika até nos vai pedir o favor de
aceitarmos um segundo resgate sem que tenhamos de assinar qualquer acordo ou
adoptar quaisquer medidas adicionais.
Com o nosso Gasparzinho podemos ver-nos gregos mas isso não
importa, o importante é que os outros não nos vejam como gregos, somos
mansinhos, obedientes, temos governantes sem coluna, tratamos modestos
funcionários de organizações internacionais com um estatuto comparável ao do
papa. Não regateamos medidas de austeridade, não questionamos a soberania na
hora de alterar a Constituição de acordo com as instruções do Bundesbank, somos
os caniches das organizações internacionais.
Façamos tudo o que o Gasparzinho decidir e tudo correrá bem.