Foto Jumento
Moinho de Santana, Lisboa
A mentira do dia d'O Jumento
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Jumento do dia
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Jumento do dia
Carlos Costa, Governador BdP
Foi bonito ouvir Carlos Costa recorrer a metáforas para explicar a situação financeira do país, Portugal é um barco que perante uma tempestade foi obrigado a recolher a um porto seguro, superado o mau tempo e devidamente aparelhado o barco regressará ao mar, ainda que possa ter que enfrentar tubarões.
È pena que só para ajudar o governo de direita que poupou os do BdP à austeridade a que o cidadão comum é sujeito o governador tenha tanta inspiração, no caso do governo que o nomeou o governador não recorreru a qualquer metáfora, aparelhou o primeiro-ministro mas não como sucede com os barcos, meteu-lhe uma parelha, enfim, mordeu na mão que lhe de de comer, algo que não fez ao governo de Passos Coelho.
Vá lá, sempre se pode dizer que o senhor está melhor, já sabe agradecer e ser leal com os seus.
È pena que só para ajudar o governo de direita que poupou os do BdP à austeridade a que o cidadão comum é sujeito o governador tenha tanta inspiração, no caso do governo que o nomeou o governador não recorreru a qualquer metáfora, aparelhou o primeiro-ministro mas não como sucede com os barcos, meteu-lhe uma parelha, enfim, mordeu na mão que lhe de de comer, algo que não fez ao governo de Passos Coelho.
Vá lá, sempre se pode dizer que o senhor está melhor, já sabe agradecer e ser leal com os seus.
Porque não vai ela?
Faltou-lhes os tomatitos
Quando o governo decidiu cortar os subsídios dos funcionários
públicos e pensionistas deu logo a entender que o corte era definitivo, até o
secretário de Estado da Administração Pública chegou a anunciar novas tabelas
salariais, numa manobra que visava disfarçar o corte. Passos Coelho que tinha
inventado um desvio colossal para justificar a medida veio depois justificá-la
com um argumento muito pouco temporário, que os funcionários públicos ganhavam
mais do que os do sector privado.
Na ocasião foi dito na comunicação social que em Bruxelas a
medida for recebida e tratada como definitiva e nessa ocasião o governo optou
pelo silêncio, não veio a público desmentir essa interpretação.
A medida inscrevia-se claramente na estratégia do Gaspar,
empobrecimento colectivo e corte nas despesas com funcionários públicos, na
falta de um despedimento robusto de funcionários públicos (medida de que o
Gaspar ainda não deve ter desistido) optou-se por um corte equivalente nos
vencimentos.
O problema é que não foi necessário esperar muito tempo para
que a economia chumbasse a estratégia do empobrecimento há muito tecida pelo
Gaspar nos seus discursos e papelinhos, em menos de um ano a tese da
alternativa à desvalorização está a ser desmentida pelo país por ele
transformada em cobaia dos seus.
O efeito combinado do empobrecimento da população que o Gaspar
considera estar a mais no país com a falta de financiamento da economia levou à
asfixia das empresas que produzem para o mercado interno. O resultado óbvio
desta política idiota está à vista, empresas a falir, receita fiscal em queda e
desemprego como nunca se viu, as empresas não apostam no mercado interno, os
portugueses poupam como pode pois com um governo de doidos e idiotas nunca se
sabe quando é que o país bateu no fundo.
Palavra da Salvação
«Num momento particularmente difícil o Governo propõe-se mais uma vez restringir o acesso aos apoios sociais, particularmente aos desempregados." (1)
"Revela uma imensa insensibilidade social, especialmente quanto aos idosos, ultrapassa o limite dos sacrifícios que podem ser impostos aos portugueses e demonstra falta de equidade fiscal e social na distribuição das dificuldades." (2)
"Não ataca os problemas de frente e prefere atacar a despesa social, atacando sempre os mesmos, os mais desprotegidos. Mantém a receita preferida deste Governo: a solução da incompetência. Ou seja, se falta dinheiro, aumentam-se os impostos." (3)
"Apenas castiga os portugueses e não dedica uma única linha para o crescimento da economia. O que não se aceita é a falta de um rumo, da esperança que devolva o bem-estar aos portugueses e que promova a convergência real com os restantes cidadãos europeus." (4)
"Mais uma vez o Governo recorre aos aumentos de impostos e cortes cegos na despesa, sem oferecer uma componente de crescimento económico, sem uma esperança aos portugueses." (5)
"Sendo evidente que Portugal precisa de proceder a um ajustamento orçamental, reduzindo o défice nos termos dos seus compromissos internacionais, entende-se que o caminho escolhido pelo Governo é errado e não trará ao País a necessária recuperação económica." (6)
"A essa realidade junta-se ainda a incapacidade em suster o aumento galopante do desemprego e do endividamento do País." (7)
"O Governo recusa-se a dizer aos portugueses qual a verdadeira situação das finanças públicas nacionais." (8)
"Os resultados que se atingiram tiveram o condão de se fundar ou no sacrifício das pessoas e das empresas - suportado pelo aumento asfixiante da carga fiscal - ou no recurso a receitas extraordinárias." (9)
"As medidas tiveram efeitos recessivos na economia e não trouxeram qualquer confiança aos mercados." (10)
"Portugal é o único país da Europa que não vai crescer. Não pode, por isso mesmo, o Governo afirmar que a culpa é da "crise internacional", como insistentemente afirma para tentar enganar os portugueses." (11)
"É o Governo que desmente o próprio Governo." (12)
"A credibilidade, uma vez perdida, é extremamente difícil de recuperar." (13)
1, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 11 - moção de rejeição do PSD ao PEC 2011/2014.
2, 6, 10, 12, 13 - moção de rejeição PP ao PEC 2011/2014.
O chumbo por toda a oposição do Programa de Estabilidade e Crescimento, em 23 de março de 2011, determinou a demissão do Governo e o pedido de ajuda financeira.» [DN]
"Revela uma imensa insensibilidade social, especialmente quanto aos idosos, ultrapassa o limite dos sacrifícios que podem ser impostos aos portugueses e demonstra falta de equidade fiscal e social na distribuição das dificuldades." (2)
"Não ataca os problemas de frente e prefere atacar a despesa social, atacando sempre os mesmos, os mais desprotegidos. Mantém a receita preferida deste Governo: a solução da incompetência. Ou seja, se falta dinheiro, aumentam-se os impostos." (3)
"Apenas castiga os portugueses e não dedica uma única linha para o crescimento da economia. O que não se aceita é a falta de um rumo, da esperança que devolva o bem-estar aos portugueses e que promova a convergência real com os restantes cidadãos europeus." (4)
"Mais uma vez o Governo recorre aos aumentos de impostos e cortes cegos na despesa, sem oferecer uma componente de crescimento económico, sem uma esperança aos portugueses." (5)
"Sendo evidente que Portugal precisa de proceder a um ajustamento orçamental, reduzindo o défice nos termos dos seus compromissos internacionais, entende-se que o caminho escolhido pelo Governo é errado e não trará ao País a necessária recuperação económica." (6)
"A essa realidade junta-se ainda a incapacidade em suster o aumento galopante do desemprego e do endividamento do País." (7)
"O Governo recusa-se a dizer aos portugueses qual a verdadeira situação das finanças públicas nacionais." (8)
"Os resultados que se atingiram tiveram o condão de se fundar ou no sacrifício das pessoas e das empresas - suportado pelo aumento asfixiante da carga fiscal - ou no recurso a receitas extraordinárias." (9)
"As medidas tiveram efeitos recessivos na economia e não trouxeram qualquer confiança aos mercados." (10)
"Portugal é o único país da Europa que não vai crescer. Não pode, por isso mesmo, o Governo afirmar que a culpa é da "crise internacional", como insistentemente afirma para tentar enganar os portugueses." (11)
"É o Governo que desmente o próprio Governo." (12)
"A credibilidade, uma vez perdida, é extremamente difícil de recuperar." (13)
1, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 11 - moção de rejeição do PSD ao PEC 2011/2014.
2, 6, 10, 12, 13 - moção de rejeição PP ao PEC 2011/2014.
O chumbo por toda a oposição do Programa de Estabilidade e Crescimento, em 23 de março de 2011, determinou a demissão do Governo e o pedido de ajuda financeira.» [DN]
Autor:
Fernanda Câncio.
Lapso, disse ele
«É absolutamente escandalosa a forma pouco transparente e pouco verdadeira como o Governo tem lidado com a eliminação, dita temporária, dos subsídios de férias e de Natal dos funcionários públicos e dos pensionistas.
E sendo este um assunto tão sério para a vida de muita gente, só agrava as coisas que o primeiro-ministro e o ministro das Finanças andem por aí a inventar explicações esfarrapadas, tratando os portugueses como se fossem tolos.
A eliminação dos subsídios - convém lembrá-lo - é uma medida da responsabilidade do Governo PSD/CDS, que não consta do Memorando que o Governo anterior negociou com a ‘troika'. Trata-se, pois, de uma medida de austeridade "além da ‘troika'", gravemente recessiva e manifestamente injusta, porque viola princípios elementares de equidade na distribuição dos sacrifícios.
Quando anunciou esta medida o Governo apresentou-a como "transitória". E se é certo que houve referências à sua aplicação durante "a vigência do programa de assistência financeira", também é certo que sempre que foi chamado a especificar o respectivo calendário o Governo disse sempre que a medida era para vigorar apenas em 2012 e 2013. Em qualquer caso, seja na versão - pelos vistos enganada - do ministro das Finanças e de vários outros membros do Governo (que se referiram apenas a 2012 e 2013), seja na versão do Relatório do Orçamento (que associa a duração da medida à vigência do Programa de Assistência Financeira, até Junho de 2014), esta seria sempre uma medida com horizonte temporal definido.
Acontece que aquilo que o primeiro-ministro veio agora dizer não é uma coisa nem outra. O que ele disse, em primeiro lugar, é que a suspensão dos subsídios se aplicará em todo o ano de 2014 (e não apenas até Junho, quando termina a vigência do actual Programa de Assistência Financeira). E acrescentou outra novidade: mesmo a partir de 2015, a reposição dos subsídios acontecerá apenas gradualmente, num horizonte temporal não definido - que poderá ser de vários anos. Como é obvio, isto muda tudo: a suspensão dos subsídios dos funcionários públicos e dos pensionistas deixou de ter um horizonte temporal definido (com mais ou menos "lapsos" na comunicação desse horizonte) para passar a ter uma duração totalmente incerta, mesmo para lá da vigência do Programa de Assistência Financeira.
Tomo nota, como todos, do alegado "lapso" assumido pelo ministro das Finanças, referente à omissão da suspensão dos subsídios no ano de 2014. Mas temos aqui um caso muito mais sério: um primeiro-ministro que se revela, a cada passo, manifestamente relapso com a verdade, numa matéria em que se exigiria que falasse com total franqueza e transparência.
É certo, a recusa em falar verdade sobre este assunto já vem de longe e começou na campanha eleitoral, quando o dr. Passos Coelho garantiu aos portugueses que a hipótese de cortar no 13º mês era um completo "disparate" (o que não o impediu de cortar no 13º mês de todos os portugueses, logo em 2011). Mas a mesma atitude continua agora, com esta história do corte dos subsídios dos funcionários públicos e dos pensionistas, que tinham um horizonte temporal definido e agora passaram a ter um horizonte temporal totalmente incerto. Fosse o problema uma simples questão de lapsos e poria em causa a competência do Governo. Mas, receio bem, o problema é de outra natureza. E o que está em causa é a credibilidade da palavra do primeiro-ministro.» [DE]
E sendo este um assunto tão sério para a vida de muita gente, só agrava as coisas que o primeiro-ministro e o ministro das Finanças andem por aí a inventar explicações esfarrapadas, tratando os portugueses como se fossem tolos.
A eliminação dos subsídios - convém lembrá-lo - é uma medida da responsabilidade do Governo PSD/CDS, que não consta do Memorando que o Governo anterior negociou com a ‘troika'. Trata-se, pois, de uma medida de austeridade "além da ‘troika'", gravemente recessiva e manifestamente injusta, porque viola princípios elementares de equidade na distribuição dos sacrifícios.
Quando anunciou esta medida o Governo apresentou-a como "transitória". E se é certo que houve referências à sua aplicação durante "a vigência do programa de assistência financeira", também é certo que sempre que foi chamado a especificar o respectivo calendário o Governo disse sempre que a medida era para vigorar apenas em 2012 e 2013. Em qualquer caso, seja na versão - pelos vistos enganada - do ministro das Finanças e de vários outros membros do Governo (que se referiram apenas a 2012 e 2013), seja na versão do Relatório do Orçamento (que associa a duração da medida à vigência do Programa de Assistência Financeira, até Junho de 2014), esta seria sempre uma medida com horizonte temporal definido.
Acontece que aquilo que o primeiro-ministro veio agora dizer não é uma coisa nem outra. O que ele disse, em primeiro lugar, é que a suspensão dos subsídios se aplicará em todo o ano de 2014 (e não apenas até Junho, quando termina a vigência do actual Programa de Assistência Financeira). E acrescentou outra novidade: mesmo a partir de 2015, a reposição dos subsídios acontecerá apenas gradualmente, num horizonte temporal não definido - que poderá ser de vários anos. Como é obvio, isto muda tudo: a suspensão dos subsídios dos funcionários públicos e dos pensionistas deixou de ter um horizonte temporal definido (com mais ou menos "lapsos" na comunicação desse horizonte) para passar a ter uma duração totalmente incerta, mesmo para lá da vigência do Programa de Assistência Financeira.
Tomo nota, como todos, do alegado "lapso" assumido pelo ministro das Finanças, referente à omissão da suspensão dos subsídios no ano de 2014. Mas temos aqui um caso muito mais sério: um primeiro-ministro que se revela, a cada passo, manifestamente relapso com a verdade, numa matéria em que se exigiria que falasse com total franqueza e transparência.
É certo, a recusa em falar verdade sobre este assunto já vem de longe e começou na campanha eleitoral, quando o dr. Passos Coelho garantiu aos portugueses que a hipótese de cortar no 13º mês era um completo "disparate" (o que não o impediu de cortar no 13º mês de todos os portugueses, logo em 2011). Mas a mesma atitude continua agora, com esta história do corte dos subsídios dos funcionários públicos e dos pensionistas, que tinham um horizonte temporal definido e agora passaram a ter um horizonte temporal totalmente incerto. Fosse o problema uma simples questão de lapsos e poria em causa a competência do Governo. Mas, receio bem, o problema é de outra natureza. E o que está em causa é a credibilidade da palavra do primeiro-ministro.» [DE]
Autor:
Pedro Silva Pereira.
O fenómeno
«O mundo anda agitado. Mas Portugal está calmo. A crise financeira e as improváveis receitas para a sua solução afetam sobretudo a velha Europa, no seu modo de vida, no bem-estar e segurança geral das populações, desencadeando ondas de indignação. Bem violentas nalguns casos como se sabe. Mas Portugal está calmo. Para os países mais débeis economicamente, nos quais se encontra o nosso, as medidas de austeridade são brutais, com empobrecimento súbito, estagnação da atividade económica, aumento generalizado do custo de vida e nessa verdadeira rapina ao bolso do cidadão em nome da aridez dos cofres do estado. Nunca o estado foi tão prepotente e larápio. Mas, mesmo assim, Portugal está calmo. Trata-se pois de um verdadeiro fenómeno.
Fenómeno aliás bastante comentado externamente. Os políticos gregos roem-se de inveja; os mercados sorriem; a troika exulta. Governantes e comissários europeus não se cansam de elogiar a singularidade portuguesa. Mais uma vez, somos bons alunos e apresentados como exemplo a seguir.
Mas só quem não nos conhece pode ficar surpreendido. E, em boa verdade, poucos nos conhecem realmente. Irrelevantes para a maioria, simpáticos para os turistas, ingénuos, toscos, ignorantes ou ineptos, conforme o ponto de observação na geografia, os portugueses não são um assunto relevante nas conversas do mundo. E quando, de tempos a tempos, alguém se debruça sobre nós, nem sempre o resultado é agradável. Miguel de Unamuno dizia que os portugueses eram "tristes, até quando sorriem". Considerava-nos um povo de suicidas, a cuja existência falta um sentido transcendente. "Desejam talvez viver, sim, mas para quê?" É também sabido como os Europeus do norte, sobretudo os alemães, têm desdém pela nossa preguiça e desorganização. Os próprios brasileiros não gostam muito de nós, mesmo se dizem o contrário. E compreende-se. Somos chatos, formais, negativos. Eles são alegres, abertos, positivos. E se os americanos não sabem onde estamos, nem o que fazemos, imagine-se os chineses que vivem noutro planeta e noutra escala, e, já agora, noutro tempo, noutro regime, noutra cultura, e por aí fora.
Claro que fica sempre bem em qualquer discurso dizer que os portugueses são muito amados e decisivos para o mundo. Como a história dos descobrimentos está gasta e, convenhamos, já não se aguenta mais, acena-se hoje com a notoriedade de alguns portugueses avulsos que conquistaram alguma audiência além-fronteiras. Futebolistas, políticos, cientistas, um ou outro aldrabão famoso. Mas isso não chega para desenhar um povo.
Unamuno acertou quando disse que gostaríamos talvez de viver, mas não sabemos para quê. É isso que nos falta, desígnio, vontade de ser e fazer, audácia. Mais do que suicidas, somos um povo adormecido, resignado, demasiado parado face à velocidade do mundo e das coisas. Muito dados à crendice, ao destino e ao fado, os portugueses acham que a realidade não é assunto seu, mas antes o resultado de uma qualquer conspiração de deuses ou astros. Até a chuva nos ignora.
Mas não quero terminar sem uma observação positiva. A crise que atravessamos, na maneira peculiar como nos apanhou a todos numa mesma teia fatal, vai trazendo ao de cima o pior do ser português na sua extrema passividade. Mas vai tendo, por outro lado, um efeito que não se deve ignorar. Com o país paralisado, muitos portugueses estão a lançar-se ao mundo num verdadeiro ímpeto de sobrevivência. Impressiona vê-los, já não com a indigente mala de cartão, mas com os seus singelos negócios e ambições, a tentarem conquistar pequenos nichos de afazeres e comércio. Enquanto as grandes empresas se vendem ao primeiro, os pequenos empreendedores aventuram-se. Brasil, Angola ou China estão a ser literalmente invadidos por bandos de compatriotas à procura de vida. Basta, aliás, andar pelos corredores de uma qualquer feira internacional e deparar, a cada passo, com a sonoridade e a ansiedade lusitana. É comovente. Mas é mais do que isso. É também um primeiro sinal de que, finalmente, muitos portugueses perceberam que a sua verdadeira vocação está em se fazerem ao mundo. E em força.» [Jornal de Negócios]
Fenómeno aliás bastante comentado externamente. Os políticos gregos roem-se de inveja; os mercados sorriem; a troika exulta. Governantes e comissários europeus não se cansam de elogiar a singularidade portuguesa. Mais uma vez, somos bons alunos e apresentados como exemplo a seguir.
Mas só quem não nos conhece pode ficar surpreendido. E, em boa verdade, poucos nos conhecem realmente. Irrelevantes para a maioria, simpáticos para os turistas, ingénuos, toscos, ignorantes ou ineptos, conforme o ponto de observação na geografia, os portugueses não são um assunto relevante nas conversas do mundo. E quando, de tempos a tempos, alguém se debruça sobre nós, nem sempre o resultado é agradável. Miguel de Unamuno dizia que os portugueses eram "tristes, até quando sorriem". Considerava-nos um povo de suicidas, a cuja existência falta um sentido transcendente. "Desejam talvez viver, sim, mas para quê?" É também sabido como os Europeus do norte, sobretudo os alemães, têm desdém pela nossa preguiça e desorganização. Os próprios brasileiros não gostam muito de nós, mesmo se dizem o contrário. E compreende-se. Somos chatos, formais, negativos. Eles são alegres, abertos, positivos. E se os americanos não sabem onde estamos, nem o que fazemos, imagine-se os chineses que vivem noutro planeta e noutra escala, e, já agora, noutro tempo, noutro regime, noutra cultura, e por aí fora.
Claro que fica sempre bem em qualquer discurso dizer que os portugueses são muito amados e decisivos para o mundo. Como a história dos descobrimentos está gasta e, convenhamos, já não se aguenta mais, acena-se hoje com a notoriedade de alguns portugueses avulsos que conquistaram alguma audiência além-fronteiras. Futebolistas, políticos, cientistas, um ou outro aldrabão famoso. Mas isso não chega para desenhar um povo.
Unamuno acertou quando disse que gostaríamos talvez de viver, mas não sabemos para quê. É isso que nos falta, desígnio, vontade de ser e fazer, audácia. Mais do que suicidas, somos um povo adormecido, resignado, demasiado parado face à velocidade do mundo e das coisas. Muito dados à crendice, ao destino e ao fado, os portugueses acham que a realidade não é assunto seu, mas antes o resultado de uma qualquer conspiração de deuses ou astros. Até a chuva nos ignora.
Mas não quero terminar sem uma observação positiva. A crise que atravessamos, na maneira peculiar como nos apanhou a todos numa mesma teia fatal, vai trazendo ao de cima o pior do ser português na sua extrema passividade. Mas vai tendo, por outro lado, um efeito que não se deve ignorar. Com o país paralisado, muitos portugueses estão a lançar-se ao mundo num verdadeiro ímpeto de sobrevivência. Impressiona vê-los, já não com a indigente mala de cartão, mas com os seus singelos negócios e ambições, a tentarem conquistar pequenos nichos de afazeres e comércio. Enquanto as grandes empresas se vendem ao primeiro, os pequenos empreendedores aventuram-se. Brasil, Angola ou China estão a ser literalmente invadidos por bandos de compatriotas à procura de vida. Basta, aliás, andar pelos corredores de uma qualquer feira internacional e deparar, a cada passo, com a sonoridade e a ansiedade lusitana. É comovente. Mas é mais do que isso. É também um primeiro sinal de que, finalmente, muitos portugueses perceberam que a sua verdadeira vocação está em se fazerem ao mundo. E em força.» [Jornal de Negócios]
Autor:
Leonel Moura.
As palavras do banqueiro
«"Portugal está a trabalhar bem para cumprir os seus objectivos", disse o banqueiro Ricardo Salgado, com aquele ar assustador que o distingue. É um elogio ou o sinal de que somos a obediência em estado puro? A verdade é que sempre trabalhámos bem, muitas horas, cabisbaixos e tristes, não somos culpados deste infortúnio que nos caiu em cima, e pagamos uma culpa irremediável. Trabalhamos bem. Diz o banqueiro. E ele e os outros, têm trabalhado bem?
A pergunta modesta e singela tem razão de ser. Que têm feito pela pátria, ele e os outros? Que objectivos perseguem senão aqueles dimanados pelo lucro? Nada destas questões assentam num primarismo tonto. Correspondem a uma verdade como punhos. Eles enriquecem com o nosso dinheiro, quando cometem disparates têm sempre o respaldo do Governo, e, ainda por cima, atrevem-se a ditar sentenças. Sei, claro que sei e sabemos, que a Banca é um dos pilares do capitalismo, e que o capitalismo, ao contrário do socialismo, não promete nada, e muito menos a felicidade dos povos. Mas deixá-lo à solta, é arriscadíssimo. Tem-se visto.
A crise por que atravessamos não tem merecido, dos banqueiros, um esforço aturado de análise. E se, entre 1929 e agora, a crise possui semelhanças que têm sido escamoteadas, as causas são sempre as mesmas, porventura mais ou menos graves. Por sua vez, os políticos, esta geração de políticos, não sabe o que fazer. E a Europa está nas mãos de uma Direita tão anacrónica como incompetente.
Os senhores da Europa assenhorearam-se do mando porque são mais fortes, dispõem de dinheiro, de informação e de poder. Mais ainda: arregimentam Governos servis, de cega obediência, que mais não são do que serventuários de interesses alheios. O Governo português não foge à regra: é um arregimentado, sem personalidade própria, seguidor de uma estratégia imperial bicéfala. Mas não será a França a detentora absoluta do poder. Chegará a altura que ela própria sofrerá as consequências da megalomania.
O discurso clássico sobre a bondade da economia moral não passa de uma facécia. A economia vive de si mesma, e o pretendido equilíbrio geral que provoca é o equilíbrio instável do momento. Marx esclareceu. E se alguns preopinantes desenfreados entendem Marx como um pensador ultrapassado, ignoram que a relação económica imposta sem regras conduz ao descalabro. Como nos aconteceu esta desgraça?, perguntam as pessoas que mais sofrem a crise. Acontece que o mundo e os homens se transformaram em cobaias ou mercadorias, e introduzidos como engrenagens de uma roda infernal.
"Gastámos de mais. Gastámos acima das nossas possibilidades", dizem por aí. Gastámos, quem? Gastámos de mais, se sempre tivemos de menos? A falácia não esconde o jogo desta hipocrisia inominável. Quando Ricardo Salgado formula aquela opinião, sabe muito bem que somos comprados, utilizados e manipulados a BEL-prazer das circunstâncias. Trabalhamos bem porque não recalcitramos contra estas afrontas, porque somos colonizados como peças de um empreendimento de domínio. No caso português, por submissão e impossibilidade criada pelos mecanismos de mando, chegamos a ser cúmplices dos nossos próprios verdugos.
Todos os dias, de forma quase implacável, surgem notícias de novas submissões. Todos os dias aumentam os impostos, de forma directa ou indirecta, e ninguém sabe explicar porquê, a não ser que a crise é que determina. Os portugueses nunca foram senhores da sua liberdade, é verdade. Desde sempre fomos colónia de qualquer império, e chagámos a ser colónia do nosso próprio império. A banalidade económica do mal (parafraseando Hannah Arendt) provém da banalidade do mal do capitalismo. E a implosão do "comunismo" auxiliou, grandemente, a voracidade da luxúria. Não digo nada que se não saiba: as coisas estão por aí.
Sofremos, em Portugal, o reflexo de uma ideologia que se oculta sob o nome de "neoliberalismo." Não é "neo", nem "liberalismo." As palavras têm sido alteradas e adulteradas ao sabor das circunstâncias históricas. E dispõe, a ideologia, como todas as ideologias dispõem, de turiferários encartados, que encenam o destino dos outros e são pagos para isso. "Portugal está a trabalhar bem", assevera Ricardo Salgado. Está. Mas será em benefício próprio?» [Jornal de Negócios]
A pergunta modesta e singela tem razão de ser. Que têm feito pela pátria, ele e os outros? Que objectivos perseguem senão aqueles dimanados pelo lucro? Nada destas questões assentam num primarismo tonto. Correspondem a uma verdade como punhos. Eles enriquecem com o nosso dinheiro, quando cometem disparates têm sempre o respaldo do Governo, e, ainda por cima, atrevem-se a ditar sentenças. Sei, claro que sei e sabemos, que a Banca é um dos pilares do capitalismo, e que o capitalismo, ao contrário do socialismo, não promete nada, e muito menos a felicidade dos povos. Mas deixá-lo à solta, é arriscadíssimo. Tem-se visto.
A crise por que atravessamos não tem merecido, dos banqueiros, um esforço aturado de análise. E se, entre 1929 e agora, a crise possui semelhanças que têm sido escamoteadas, as causas são sempre as mesmas, porventura mais ou menos graves. Por sua vez, os políticos, esta geração de políticos, não sabe o que fazer. E a Europa está nas mãos de uma Direita tão anacrónica como incompetente.
Os senhores da Europa assenhorearam-se do mando porque são mais fortes, dispõem de dinheiro, de informação e de poder. Mais ainda: arregimentam Governos servis, de cega obediência, que mais não são do que serventuários de interesses alheios. O Governo português não foge à regra: é um arregimentado, sem personalidade própria, seguidor de uma estratégia imperial bicéfala. Mas não será a França a detentora absoluta do poder. Chegará a altura que ela própria sofrerá as consequências da megalomania.
O discurso clássico sobre a bondade da economia moral não passa de uma facécia. A economia vive de si mesma, e o pretendido equilíbrio geral que provoca é o equilíbrio instável do momento. Marx esclareceu. E se alguns preopinantes desenfreados entendem Marx como um pensador ultrapassado, ignoram que a relação económica imposta sem regras conduz ao descalabro. Como nos aconteceu esta desgraça?, perguntam as pessoas que mais sofrem a crise. Acontece que o mundo e os homens se transformaram em cobaias ou mercadorias, e introduzidos como engrenagens de uma roda infernal.
"Gastámos de mais. Gastámos acima das nossas possibilidades", dizem por aí. Gastámos, quem? Gastámos de mais, se sempre tivemos de menos? A falácia não esconde o jogo desta hipocrisia inominável. Quando Ricardo Salgado formula aquela opinião, sabe muito bem que somos comprados, utilizados e manipulados a BEL-prazer das circunstâncias. Trabalhamos bem porque não recalcitramos contra estas afrontas, porque somos colonizados como peças de um empreendimento de domínio. No caso português, por submissão e impossibilidade criada pelos mecanismos de mando, chegamos a ser cúmplices dos nossos próprios verdugos.
Todos os dias, de forma quase implacável, surgem notícias de novas submissões. Todos os dias aumentam os impostos, de forma directa ou indirecta, e ninguém sabe explicar porquê, a não ser que a crise é que determina. Os portugueses nunca foram senhores da sua liberdade, é verdade. Desde sempre fomos colónia de qualquer império, e chagámos a ser colónia do nosso próprio império. A banalidade económica do mal (parafraseando Hannah Arendt) provém da banalidade do mal do capitalismo. E a implosão do "comunismo" auxiliou, grandemente, a voracidade da luxúria. Não digo nada que se não saiba: as coisas estão por aí.
Sofremos, em Portugal, o reflexo de uma ideologia que se oculta sob o nome de "neoliberalismo." Não é "neo", nem "liberalismo." As palavras têm sido alteradas e adulteradas ao sabor das circunstâncias históricas. E dispõe, a ideologia, como todas as ideologias dispõem, de turiferários encartados, que encenam o destino dos outros e são pagos para isso. "Portugal está a trabalhar bem", assevera Ricardo Salgado. Está. Mas será em benefício próprio?» [Jornal de Negócios]
Autor:
Baptista-Bastos.
A vez da Espanha
«O risco de incumprimento espanhol bateu hoje um máximo histórico, ao mesmo tempo que a ‘yield’ a 10 anos tocou nos 6%. A bolsa de Madrid cai 3,5% e o euro desliza 0,8% contra o dólar.
Os mercados dão novos sinais de alarme em relação a Espanha, a quarta maior economia da zona euro, e acentuam-se os receios de que o país se torne o próximo a pedir assistência internacional. Isto mesmo depois de Mariano Rajoy ter ontem descartado que Espanha precise de ser resgatada.» [DE]
Os mercados dão novos sinais de alarme em relação a Espanha, a quarta maior economia da zona euro, e acentuam-se os receios de que o país se torne o próximo a pedir assistência internacional. Isto mesmo depois de Mariano Rajoy ter ontem descartado que Espanha precise de ser resgatada.» [DE]
Parecer:
Agora já não estão interessados em forçar a Espanha a um pedido de ajuda?
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se à Senhora Merkel, aos nossos banqueiros, ao merceeiro holandês, ao tipo da Coelha e a outras encomendas.»
Pois não
«A 'troika' também não foi informada antecipadamente pelo Governo da decisão de suspender as reforma antecipadas.» [DE]
Parecer:
Este Passos anda muito corajoso. Ou será que as asneiras são tão grandes e o desastre é tão evidente que são os senhores da troika a fugir do governo?
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Dê-se a merecida gargalhada.»
Deputados idiotas, votam naquilo em que não acreditam
«Os deputados do PSD que apresentaram uma declaração de voto ao Tratado Orçamental consideram que a regra de ouro - que estipula um Saldo Orçamental Estrutural mínimo de 0,5% negativos - é um "um conceito teórico, não observável", que pode suscitar "dúvidas e lançar polémica".
Miguel Frasquilho, Duarte Pacheco e Paulo Batista Santos dizem ter votado a favor do tratado, respeitando a disciplina de voto imposta pela bancada, por considerarem que Portugal não podia ficar fora deste instrumento. Mas defendem que "poderiam ter sido outras as regras aprovadas - que poderiam, se assim tivesse acontecido, ser mais efectivas".
Recorde-se que o PS votou favoravelmente a ratificação do Tratado Orçamental Europeu como se previa, mas a surpresa da votação foi a apresentação de uma declaração de voto dos deputados do PSD Miguel Frasquilho, Duarte Pacheco e Paulo Batista Santos.» [DE]
Miguel Frasquilho, Duarte Pacheco e Paulo Batista Santos dizem ter votado a favor do tratado, respeitando a disciplina de voto imposta pela bancada, por considerarem que Portugal não podia ficar fora deste instrumento. Mas defendem que "poderiam ter sido outras as regras aprovadas - que poderiam, se assim tivesse acontecido, ser mais efectivas".
Recorde-se que o PS votou favoravelmente a ratificação do Tratado Orçamental Europeu como se previa, mas a surpresa da votação foi a apresentação de uma declaração de voto dos deputados do PSD Miguel Frasquilho, Duarte Pacheco e Paulo Batista Santos.» [DE]
Parecer:
Deputados da treta!
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Sorria-se.»
Pobres mas lavadinhos.
«A Assembleia da República aprovou esta sexta-feira as duas propostas de resolução para a ratificação do Tratado que cria o Mecanismo Europeu de Estabilidade e do Tratado sobre Estabilidade, Coordenação e Governação na União Económica e Monetária. Portugal é o primeiro Estado-Membro a ratificar o diploma.» [CM]
Parecer:
Sem comentários.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Embrulhe-se e envie-se para a tia Merkel.»
O sentido de humor de António Barreto
«O sociólogo António Barreto defendeu hoje que as alterações nas reformas não estão a ser claramente explicadas aos portugueses, para compreenderem a necessidade de mudar algumas condições nos seus direitos adquiridos devido às dificuldades económicas.» [i]
Parecer:
Este senhor empregado do merceeiro tem mesmo sentido de humor, só se assim se entende que diga que medidas que foram escondidas foram, afinal, mal explicadas. A companhia do merceerio holandês está a conseguir um verdeiro milagre, o António Barreto está mesmo a ficar uma personagem divertida e com sentido de humor.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Dê-se a merecida gargalhada.»
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