sábado, abril 07, 2012

Gente cobarde e sem princípios



O que mais impressiona nesta questão dos subsídios é a cobardia de um governo que não é capaz de assumir as suas decisões sem ter de recorrer a truques e mentiras. É bom recordar como tudo começou.
  
Foi numa reunião do PSD que Passos Coelho referiu a existência de um desvio colossal na execução orçamental, desvio depois explicado de forma ridícula por um Gaspar que gostou da palavra colossal. Foi a primeira vez que Gaspar mostrou a sua preferência por palavras fortes como colossal ou robusto.

Foi com o argumento do desvio colossal que um pesaroso Passos Coelho comunicou ao país o corte temporário dos subsídios, na ocasião era por dois anos o que já era um abuso pois retinham-se os subsídios para cobrir um desvio colossal da responsabilidade do governo de Sócrates que não se repetiria. Em privado um ministro disse à comunicação social que a opção pelos subsídios dos funcionários públicos e pensionistas era uma questão de eleitoralismo, o governo não esperara ganhar os votos dessa gente. Aliás, Passos Coelho justificou o corte dos subsídios com o argumento de que os funcionários públicos ganhavam em média mais de 15% do que os do sector privado.


Note-se que em Bruxelas esta medida sempre foi tida como definitiva e na ocasião ninguém questionou o governo nem este se sentiu na obrigação de se explicar. Uma parte do país, dos opinion makers e dos jornalistas concordava implicitamente com a estratégia cínica e cobarde do governo, sacrificava-se os funcionários públicos e poupavam-se os trabalhadores do sector privado e os mais ricos a medidas de austeridade. Mas as coisas correram mal, o país está à beira do colapso económico e começa a duvidar-se do Gaspar.

Mais tarde soube-se que o desvio colossal não passou de uma mentira oportunista que não ficou comprovado nos relatórios das execuções orçamentais. Mas mesmo que tivesse ocorrido não seria definitivo pois resultava da suposta incompetência do governo anterior. Então porque transformar o corte dos subsídios em definitivo?

A estratégia do Gaspar sempre foi o empobrecimento forçado, para uns aumenta-se o horário de trabalho e pressionam-se os salários para baixo com o aumento brutal do desemprego, para os outros cortam-se os subsídios e numa segunda fase promove-se o despedimento em massa de funcionários. Com o dinheiro conseguido com o corte dos subsídios pode-se esquecer a renegociação das rendas da EDP e das PPP, tira-se aos funcionários públicos e dá-se aos ricos.

Desta forma os credores ficam contentes, o corte definitivo dos subsídios subsidia indirectamente as grandes empresas e estas terão capacidade financeira para superar a crise e, eventualmente, criar emprego. Com a redução salarial no sector privado, com o que se contou com a preciosa ajuda do idiota oportunista da UGT, evita-se a redução da TSU que constava no memorando, conseguindo-se poupanças às empresas que mesmo assim beneficiarão de facilidades para despedir trabalhadores em massa.

Esta é a estratégia brilhante do Gaspar e do Passos Coelho, falta-lhes a coragem para a assumir e explicar aos portugueses. Talvez porque tenham medo das consequências, uma revolução de consequências imprevisíveis. Mas com o país à beira do colapso, a contraçã económica a transformar-se numa espiral de recessão, até o FMI receia as consequências política internas e a condenação internacional da incompetência dos seus técnicos. Por isso é necessário enganar os portugueses e prometer a devolução progressiva dos subsídios a partir de 2015. Só não explicam como um desvio orçamental temporário foi transformado em definitivo e que cortes foram esquecidos graças a esta receita adicional não prevista no memorando.
  
O Gaspar e os seus amigos dos papers no FMI e no BCE estão a brincar com todo um país, sem se importarem com o risco de o conduzirem ao conflito social. Fazem-nos de forma cobarde, sem assumirem o que pretendem e sem darem a cara, aproveitaram-se de um débil mental para transformarem todo um povo em cobais de uma experiência económica inédita, o empobrecimento forçado de todo um povo ao mesmo tempo que se promove em dois anos uma reengenharia social que em condições normais levaria mais de uma década, para isso transferem-se os rendimentos da classe média para o mais ricos.
  
No fim de tudo isto o Gaspar e todos os responsáveis, incluindo os técnicos de meia tigela do FMI, do BCE e da Comissão que se têm pavoneado pelo país como centuriões romanos vão escapar-se sem assumirem as responsabilidades e sem serem julgados por toda a miséria e morte que estão promovendo?