O Presidente recusa-se a falar das suas pensões, o ministro dos Negócios Estrangeiros anda desaparecido, o Conselho de Ministro adopta diplomas secretos, temos um governo que foi mais longe do que o sugerido pela Manuela Ferreira Leite e em vez e suspender a democracia durante uns tempos trata os cidadãos segundo um velho princípio muito querido à direita portuguesa, a política é para os políticos.
De facto essa mania de os cidadãos terem opinião, os agentes económicos terem a todo o momento comportamentos antecipacionistas, é uma chatice que limita a eficácia das medidas governamentais. Já Cavaco se queixava das forças de obstrução e pedia para o deixarem governar, agora Passos queixa-se de os portugueses terem cabeça e poderem tomar decisões para defender o secretismo do governo.
A partir de agora os portugueses não deverão decidir em função do que o governo decidiu mas sim com base nas decisões possíveis que o governo pode adoptar, porque já se percebeu que Passos Coelho deixou de adoptar medidas brutais de austeridade com base em mentiras como o desvio colossal, já assumiu que tudo o que diz pode ser mentira e como tudo isso foi pouco já adopta medidas de austeridade em segredo porque os cidadãos têm a mania de reagir em função das medidas que o governo adopta.
Portanto temos um governo secreto que muito provavelmente vai defender que o Diário da República deixe de ser acessível ao público, que os ministros possam decidir tudo em segredo o que, com a nomeação de António Borges para um cargo de quase ministro, deixou de ser novidade. Um dia destes com o mesmo raciocínio de que sabendo antecipadamente das medidas estas podem ser ineficazes Passos Coelho vai defender que sabendo antecipadamente qual o partido em que vão votar os portugueses poderão fazer escolhas que ponham em causa o programa de ajustamento e por isso o melhor é publicar os resultados das eleições no DR ainda antes da realização das eleições.
Quando um governo considera que os seus cidadãos são irresponsáveis e por isso pode adoptar medidas em segredo para que não possam nem opinar, nem manifestar-se e muito menos reagir em função dessas medidas, deixa de haver limites para as violações da democracia que esse governo está disposto a cometer e defesa do que ele entende ser o interesse nacional.
Como sucede com todos os iluminados Passos Coelho não entende que foi eleito para defender o interesse nacional e não para definir o que entende por interesse nacional impondo-o depois a todos os portugueses, se necessário recorrendo a esquemas que limitem, condicionem ou ignorem a opinião dos cidadãos.