sábado, abril 28, 2012

Outra vez o oásis

Se tivesse sido Passos Coelho a prever que no segundo semestre a economia portuguesa vai crescer ninguém o levaria a sério, é verdade que é licenciado em gestão de empresas mas deve ter aprendido tanto de economia como teria aprendido numa daquelas universidades americanas com cadeiras do género basket I, basket II e basket III, o sô Álvaro que o diga. Não se pode confiar em alguém que não sabe o que ministro disse no dia anterior e que se tivesse de se apresentar num exame da quarta classe antiga com a preparação com que vai aos debates parlamentares seria chumbado. Mas enfim, podemos ficar tranquilos quanto à validade das suas habilitações, também foram obtidas quase na terceira idade mas foi na Universidade Lusíada e não na Independente, que é mais ou menos a mesma diferença que há entre ir de Metro ou ir de autocarro da Carris.
  
Mas quem fez a brilhante previsão foi alguém que os portugueses elegeram para em presidente (em má hora, mas para mal dos nossos pecados foi mesmo eleito), foi o professor Cavaco Silva, doutorado em Economia em Londres, pensionista do Banco de Portugal, antigo professor da Católica depois de se ter pirado da Nova, o homem que pouco ou nada sabe desses nomes em inglês do mercado de acções, mas sabe de economia que se farta.
  
A Europa está à rasca, o Cameron pede um programa para o emprego, o Monti pede o mesmo, o Rajoy borrifa-se nas regras do défice, o Sarkozy está à beira de ir tirar um curso acelerado de puericultura para ajudar a bela Bruni a cuidar do Sarkozinho, mas há um país feliz por ser o que sofre de boa vontade as medidas de austeridade mais dura, um país que achou que a dose da troika era pouca e que adora austeridade, o primeiro-ministro desse país é o nosso Passos, o maior apoiante dos ditames do banco central alemão.
  
As estradas do país estão sem trânsito, os cafés e restaurantes estão às moscas, os portugueses andam na rua sem o tradicional sorriso, parecem zombies nos supermercados em busca das promoções, as escolas abrem nas férias para matar a fome aos seus alunos, as receitas fiscais descem abruptamente, as cadeias de vestuários criam linhas para os portugueses tesos, o fisco vende 90 casas por dia e a banca vende outras tantas.
  
Pois é neste país condenado pelo Vítor Gaspar à miséria temporária, onde os optimistas previam uma recessão de 3,3% que o brilhante professor de economia prevê crescimento económico. Compreende-se a razão porque Passos Coelho e Gaspar não queriam ouvir falar de uma agenda de crescimento, se com as medidas brutais a economia começa a crescer seis meses depois, imaginem o que seria se em vez de austeridade tivesse sido adoptada uma política expansionista, teríamos um crescimento de deixar os chineses de olhos em bico e depois seria uma chatice, em vez de serem eles a comprar a EDP teríamos de ser nós a adquirir a Barragem das Três Gargantas. Ficarmos sem o Catroga seria uma perda irreparável, ainda por cima dizem que os chineses não são lá muito fartos em pentelhos.
  
Cavaco tem razão, este país é um oásis, temos um presidente que mete mais água que a Fonte Luminosa, não faltam camelos, há palmeiras por todo o lado e nem sequer falta quem tenha experiência em trepá-las. Depois de prémios Pritzker que nos enche a peitaça de orgulho e nos leva a olhar a Merkel de cima para baixo (ainda que não se ganhe grande coisa olhando para baixo) arriscamo-nos a ganhar a Framboesa de Ouro, o prémio atribuído ao pior filme porque é isso que está a ser este segundo mandato presidência do Cavaco, um filme mau, de mau gosto, pouco honesto e com um artista que já não sabe estar em palco.