Mas quem fez a brilhante previsão foi alguém que os
portugueses elegeram para em presidente (em má hora, mas para mal dos nossos
pecados foi mesmo eleito), foi o professor Cavaco Silva, doutorado em Economia
em Londres, pensionista do Banco de Portugal, antigo professor da Católica
depois de se ter pirado da Nova, o homem que pouco ou nada sabe desses nomes em
inglês do mercado de acções, mas sabe de economia que se farta.
A Europa está à rasca, o Cameron pede um programa para o
emprego, o Monti pede o mesmo, o Rajoy borrifa-se nas regras do défice, o
Sarkozy está à beira de ir tirar um curso acelerado de puericultura para ajudar
a bela Bruni a cuidar do Sarkozinho, mas há um país feliz por ser o que sofre
de boa vontade as medidas de austeridade mais dura, um país que achou que a
dose da troika era pouca e que adora austeridade, o primeiro-ministro desse país
é o nosso Passos, o maior apoiante dos ditames do banco central alemão.
As estradas do país estão sem trânsito, os cafés e
restaurantes estão às moscas, os portugueses andam na rua sem o tradicional
sorriso, parecem zombies nos supermercados em busca das promoções, as escolas
abrem nas férias para matar a fome aos seus alunos, as receitas fiscais descem
abruptamente, as cadeias de vestuários criam linhas para os portugueses tesos,
o fisco vende 90 casas por dia e a banca vende outras tantas.
Pois é neste país condenado pelo Vítor Gaspar à miséria
temporária, onde os optimistas previam uma recessão de 3,3% que o brilhante
professor de economia prevê crescimento económico. Compreende-se a razão porque
Passos Coelho e Gaspar não queriam ouvir falar de uma agenda de crescimento, se
com as medidas brutais a economia começa a crescer seis meses depois, imaginem
o que seria se em vez de austeridade tivesse sido adoptada uma política
expansionista, teríamos um crescimento de deixar os chineses de olhos em bico e
depois seria uma chatice, em vez de serem eles a comprar a EDP teríamos de ser
nós a adquirir a Barragem das Três Gargantas. Ficarmos sem o Catroga seria uma
perda irreparável, ainda por cima dizem que os chineses não são lá muito fartos
em pentelhos.
Cavaco tem razão, este país é um oásis, temos um presidente
que mete mais água que a Fonte Luminosa, não faltam camelos, há palmeiras por
todo o lado e nem sequer falta quem tenha experiência em trepá-las. Depois de
prémios Pritzker que nos enche a peitaça de orgulho e nos leva a olhar a Merkel
de cima para baixo (ainda que não se ganhe grande coisa olhando para baixo)
arriscamo-nos a ganhar a Framboesa de Ouro, o prémio atribuído ao pior filme
porque é isso que está a ser este segundo mandato presidência do Cavaco, um
filme mau, de mau gosto, pouco honesto e com um artista que já não sabe estar
em palco.