Quando a economia ainda estava mais ou menos, as exportações
cresciam e o mercado interno dava sinais de se aguentar inventaram desvios para
cortarem os subsídios e as pensões, culpavam os portugueses menos ricos do
pecado do excesso de consumo, impunham medidas de austeridade muito além do
exigido pela troika.
Agora que a economia portuguesa já chocou com o iceberg e
encaminha-se para o naufrágio os nossos governantes inspiram-se no comandante
do Titanic e dão-nos música, tentam criar um ambiente de bebedeira colectiva,
teremos crescimento no final de 2012, iremos ao mercado em finais de 2014,
chegaremos ao paraíso durante 2013, nessa altura Cavaco Silva e Passos Coelho
subirão ao altar, serão deuses vivos, isso se até lá um deles não tiver o
badagaio.
Agora somos um povo de Alices, vivemos no Portugal das Maravilhas,
não faz mal que as receitas fiscais se afundem, que o desemprego passe os 15%,
que até as falsas previsões da recessão já ultrapassem as previsões do neto da
Prazeres em 0,6%. Agora está a correr tudo bem, podemos ficar descansados
porque os subsídios voltarão a ser pagos, sãs leis que facilitam o desemprego
trarão o milagre da criação de emprego, a banca voltou a encontrar esquemas
para terem lucros.
Somos felizes, vivemos e respiramos liberdade, pusemos fim
da claustrofobia democrática e pela primeira vez respiramos a democracia económica,
chegamos ao êxtase porque o CC do Partido Comunista Chinês cuida da nossa
energia eléctrica, o Mexia anda tão feliz que já comprou as EP para a Festa do
Avante deste ano. Chineses e angolanos atropelam-se para chamarem a si a
oportunidade de ensinar democracia económica aos bárbaros lusos.
O dinheiro chega ao país aos rodos, a fartura é tanta que até
os septuagenários abandonam o descanso das suas reformas para voltarem ao
trabalho, dão o exemplo aos mais novos mostrando-lhes que além de acabarem com
os feriados deviam exigir o fim do descanso aos sábados e domingos. São os
velhotes a dar o exemplo, o Septuagenário Vasco Graça Moura esfalfou-se no CCB
e já desinstalou os correctores ortográficos dos computadores, o Catroga
mata-se a trabalhar para trazer os escassos cinquenta mil para casa.
O país não vai precisar de um segundo resgate, as receitas
fiscais estão em linha com as previsões, os funcionários públicos voltarão a
ter subsídios, no final do ano sentir-se-á o crescimento, em 2013 voltaremos a
ter pilim sem recorrermos à ajuda. Só temos razões para sermos optimistas,
deixemos a Passos Coelho a tarefa de construir uma linha de transporte rápido
de mercadorias entre Badajoz e a Catalunha, confiemos nas novas ideias do
Gaspar, acreditemos nas mariquices diplomáticas do Paulo Portas.
Somos um povo bafejado pela sorte, no pior dos momentos
tivemos o melhor dos governos, quando ninguém acreditava Passos Coelho encheu-nos
de crença e optimismo, só temos razão para acreditar, os que não emigrarem terão
em Portugal o seu canto no paraíso. Somos um povo feliz, cheio de democracia, a
nadar em massa, um país onde até os velhos têm trabalho, um país que deve ser o
único do mundo onde ainda é possível um velho ganhar cinquenta mil dele sem
fazer a ponta de um corno.
Temos todos os motivos para acreditar no optimismo que o
governo nos sugere, é um “lá vamos cantando o rindo colectivo”.