terça-feira, abril 24, 2012

A revolução



Aproveitando-se da crise financeira a direita decidiu fazer a sua revolução para “endireitar” o país mais de trinta anos depois do 25 de Abril de 1974. É uma revolução sem grande programa, que segue as instruções de um modesto economista até há pouco desconhecido e anda ao sabor das sondagens. Tal como a revolução de Abril também esta tem os seus três “d”, um “d” de desvalorização social, outro de desemprego e um terceiro de destruição do modelo social.
  
É uma revolução sem ideias e sem projectos que promete o paraíso a partir das cinzas do modelo social resultante do 25 de Abril, nada se vai construir, os pobres não têm o direito a qualquer ilusão para o futuro, o ensino e o saber não são importantes e devem custar o menos possível, o Estado social deve ser eliminado para libertar recursos para o capital.
  
A conduzir a revolução já não estão os velhos cabos da guerra colonial ou os liberais da Linha, é uma geração educada no ódio a Abril, uma geração de filhos de colonialistas expulsos das terras que julgavam sua, netos de generais das campanhas de África, filhos de patos-bravos promissores.  Gente para quem os últimos trinta anos são um período da história que se deve esquecer, o país deve regressar aos padrões sociais de 24 de Abril e o povo deve sofrer em silêncio e de forma submissa como sempre foi e porque o merece depois de todos os abusos de consumo e de bem-estar de que ousou beneficiar.
   
Prometem um país novo graças à competitividade, mas a competitividade que tanto anunciam obedece a padrões económicos de meados do século XX, é animada pelos baixos salários sustentados pelo elevado desemprego, estimula as empresas que apostam em mão de obra pouco qualificada. Desta forma libertam-se os fundos aplicados no ensino e investigação, há toda a vantagem em eliminar os apoios sociais aos desempregados e com excesso de mão-de-obra jovem há toda a vantagem em desinvestir no sector da saúde, mais saúde significa mais esperança de vida e mais longevidade acarreta mais gastos em saúde com a terceira idade e mais gastos em pensões.
  
Como o desemprego leva o seu tempo a influenciar os mercados é necessário promover a desvalorização social do trabalho, no Estado cortam-se os vencimentos pois uma Administração Pública moderna é demasiado cara para ser sustentada por este modelo económico que cria pouca riqueza mas ganha a sua força na má distribuição dessa riqueza. No sector privado o desequilíbrio no mercado de trabalho e a concorrência dos baixos salários no Estado farão o resto. A emigração libertará o país do excesso de quadros, desnecessários num modelo assente na mão-de-obra intensiva, enquanto as universidades não adaptarem a oferta o excesso de quadros será escoado por uma emigração estimulada pelo governo. Quanto menos gente inteligente e qualificada no país melhor, menos serão as fontes de instabilidade e discordância, a política é para os políticos e para isso temos o Gaspar  e o Álvaro, modelos de jovens qualificados e bem sucedidos, desses sim que são necessários muitos.
   
Num país sem petróleo ou minas de ouro é necessário encontrar recursos alternativos para alimentar as reservas do nosso capital, até porque já não há colónias e os fundos comunitários secaram. O modelo assente na corrupção que animo o país desde a adesão à CEE só é viável encontrando uma nova fonte de receitas fáceis e a única disponível são os dinheiros dos impostos. Mas esses dinheiros são gastos num Estado dispensável, na ausência de alternativas para a corrupção desviar fundos para o capital só resta a destruição do Estado Social.
  
Esta gente esquece que o 25 de Abril não deu nada, limitou-se a devolver. Devolveu a democracia, devolveu a dignidade aos trabalhadores, devolveu aos portugueses o direito de ambicionarem ser felizes no seu país. Esta gente esquece que os pobres, os trabalhadores e a classe média podem voltar a revoltar-se e desta vez pode suceder que tal não aconteça na primavera, época em que há muitas flores para disparar. Esta gente tem tanto de idiota como de irresponsável.