Aproveitando-se da crise financeira a direita decidiu fazer
a sua revolução para “endireitar” o país mais de trinta anos depois do 25 de
Abril de 1974. É uma revolução sem grande programa, que segue as instruções de
um modesto economista até há pouco desconhecido e anda ao sabor das sondagens.
Tal como a revolução de Abril também esta tem os seus três “d”, um “d” de
desvalorização social, outro de desemprego e um terceiro de destruição do
modelo social.
É uma revolução sem ideias e sem projectos que promete o
paraíso a partir das cinzas do modelo social resultante do 25 de Abril, nada se
vai construir, os pobres não têm o direito a qualquer ilusão para o futuro, o
ensino e o saber não são importantes e devem custar o menos possível, o Estado social
deve ser eliminado para libertar recursos para o capital.
A conduzir a revolução já não estão os velhos cabos da
guerra colonial ou os liberais da Linha, é uma geração educada no ódio a Abril,
uma geração de filhos de colonialistas expulsos das terras que julgavam sua,
netos de generais das campanhas de África, filhos de patos-bravos
promissores. Gente para quem os últimos
trinta anos são um período da história que se deve esquecer, o país deve
regressar aos padrões sociais de 24 de Abril e o povo deve sofrer em silêncio e
de forma submissa como sempre foi e porque o merece depois de todos os abusos
de consumo e de bem-estar de que ousou beneficiar.
Prometem um país novo graças à competitividade, mas a
competitividade que tanto anunciam obedece a padrões económicos de meados do
século XX, é animada pelos baixos salários sustentados pelo elevado desemprego,
estimula as empresas que apostam em mão de obra pouco qualificada. Desta forma
libertam-se os fundos aplicados no ensino e investigação, há toda a vantagem em
eliminar os apoios sociais aos desempregados e com excesso de mão-de-obra jovem
há toda a vantagem em desinvestir no sector da saúde, mais saúde significa mais
esperança de vida e mais longevidade acarreta mais gastos em saúde com a
terceira idade e mais gastos em pensões.
Como o desemprego leva o seu tempo a influenciar os mercados
é necessário promover a desvalorização social do trabalho, no Estado cortam-se
os vencimentos pois uma Administração Pública moderna é demasiado cara para ser
sustentada por este modelo económico que cria pouca riqueza mas ganha a sua
força na má distribuição dessa riqueza. No sector privado o desequilíbrio no
mercado de trabalho e a concorrência dos baixos salários no Estado farão o
resto. A emigração libertará o país do excesso de quadros, desnecessários num
modelo assente na mão-de-obra intensiva, enquanto as universidades não
adaptarem a oferta o excesso de quadros será escoado por uma emigração
estimulada pelo governo. Quanto menos gente inteligente e qualificada no país
melhor, menos serão as fontes de instabilidade e discordância, a política é
para os políticos e para isso temos o Gaspar
e o Álvaro, modelos de jovens qualificados e bem sucedidos, desses sim
que são necessários muitos.
Num país sem petróleo ou minas de ouro é necessário
encontrar recursos alternativos para alimentar as reservas do nosso capital,
até porque já não há colónias e os fundos comunitários secaram. O modelo
assente na corrupção que animo o país desde a adesão à CEE só é viável
encontrando uma nova fonte de receitas fáceis e a única disponível são os
dinheiros dos impostos. Mas esses dinheiros são gastos num Estado dispensável,
na ausência de alternativas para a corrupção desviar fundos para o capital só
resta a destruição do Estado Social.
Esta gente esquece que o 25 de Abril não deu nada,
limitou-se a devolver. Devolveu a democracia, devolveu a dignidade aos
trabalhadores, devolveu aos portugueses o direito de ambicionarem ser felizes
no seu país. Esta gente esquece que os pobres, os trabalhadores e a classe
média podem voltar a revoltar-se e desta vez pode suceder que tal não aconteça
na primavera, época em que há muitas flores para disparar. Esta gente tem tanto
de idiota como de irresponsável.