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"Hummer of my dream" [T. Solemane, Lichinga, Moçambique]
Jumento do dia
Pedro Passos Coelho
A forma mais desastrada de responder às ausências de algumas personalidades nas comemorações oficiais do 25 de Abril seria Passos Coelho armar-se em capitão de Abril, mas foi isso o que ele fez, agora temos um governo de capitães de Abril que começaram por obrigar o país a pedir ajuda para agora dizerem que estão a libertá-lo. É de ir aos vómitos.
«Pedro Passos Coelho disse ter pena que "figuras históricas" como Soares e Alegre tenham decidido faltar às comemorações do "Dia da Liberdade", numa altura Portugal "vive um regime menos livre do que devia", por "ter tido necessidade de assumir a sua falência interna na gestão das suas finanças públicas", e está a tentar recuperar a sua "completa liberdade" face ao exterior.» [DN]
Gaspar, o economista
Vítor Gaspar aproveitou a sua passagem pela conferência do FMI para engrandecer o seu estatuto como economista e para o fazer mandou uns bitaites descredibilizando o país e atacando o keynesianismo. Tudo isto revela uma grande pobreza cultural e política, um governante que se preze evita falar mal do seu país no estrangeiro. Insinuar que a crise portuguesa se deve a uma resposta keynesiana à crise financeira demonstra a incoerência do discurso do Gaspar, ele está dizendo que foram meia dúzia de milhões de euros que lançaram o país na crise financeira o que significa que não seria necessária tanta reforma.
Gaspar é um político pequenino que mais parece um economista quase desconhecido que está fazendo tudo para se engrandecer à custa do país e dos portugueses. Felizmente o seu fim está para breve, vai ser o bode expiatório na hora de Passos Coelho dizer que não foi o responsável pelos excessos de austeridade.
«Pedro Passos Coelho disse ter pena que "figuras históricas" como Soares e Alegre tenham decidido faltar às comemorações do "Dia da Liberdade", numa altura Portugal "vive um regime menos livre do que devia", por "ter tido necessidade de assumir a sua falência interna na gestão das suas finanças públicas", e está a tentar recuperar a sua "completa liberdade" face ao exterior.» [DN]
Gaspar, o economista
Vítor Gaspar aproveitou a sua passagem pela conferência do FMI para engrandecer o seu estatuto como economista e para o fazer mandou uns bitaites descredibilizando o país e atacando o keynesianismo. Tudo isto revela uma grande pobreza cultural e política, um governante que se preze evita falar mal do seu país no estrangeiro. Insinuar que a crise portuguesa se deve a uma resposta keynesiana à crise financeira demonstra a incoerência do discurso do Gaspar, ele está dizendo que foram meia dúzia de milhões de euros que lançaram o país na crise financeira o que significa que não seria necessária tanta reforma.
Gaspar é um político pequenino que mais parece um economista quase desconhecido que está fazendo tudo para se engrandecer à custa do país e dos portugueses. Felizmente o seu fim está para breve, vai ser o bode expiatório na hora de Passos Coelho dizer que não foi o responsável pelos excessos de austeridade.
"Apoiado! Apoiado!" grita o senhor anafado
«Aos quatro anos de idade achava que a grande telefonia do meu pai, vigilante da sala de jantar, atenta, a observar-nos serena com um olho verde de válvula eletrónica, escondia na caixa de madeira polida um grupo de anões pequeninos, eternos faladores e cantores.
Aos sete anos percebi o conceito da transmissão à distância, maravilhei-me com o relato por Eurico da Fonseca de uma ida do Homem à Lua e percebi, afinal, quanto anões somos nós, pessoas de verdade, num universo infinito.
Nessa telefonia soavam, de vez em quando, discursos de Américo Tomás e Marcelo Caetano, os senhores pendurados a preto e branco, nas fotografias da sala de aula. Não percebia o que eles diziam mas notava, admirado, como entre as pausas da sua fala se erguia, tremendo de emoção, o vozeirão másculo de alguém, certamente anafado e engravatado, em aparente êxtase maravilhado: "Apoiado! Apoiado!". E, a seguir a este grito, a multidão aplaudia.
Aos 10 anos ouvi o 25 de Abril de 1974 e notei como as vozes da telefonia podiam soar diferentes, cheias de sinceridade, de alegria, de esperança, de patriotismo, de liberdade, de cor, de pronúncia, de diversidade, de solidariedade.
Porém, poucos dias depois, escutei novo discurso, em tom estatal, nessa grande telefonia, nessa parte de mim. Um novo senhor do poder. Não percebi inteiramente o que ele disse mas reconheci, imediatamente, a mesma voz de sempre, a tal do senhor certamente gordo e engravatado, em aparente êxtase maravilhado, a gritar, exultante: "Apoiado! Apoiado!". E a multidão aplaudia. "Mas é o mesmo tipo!", espantei-me. Nesse dia constatei que uma revolução a sério demora muito tempo a fazer...
A revolução demorou, de facto, imenso e foi bem maior do que a dos Cravos. Ditou, entre muitas outras mudanças, o fim da telefonia do pai, esquecida na cave, num canto para velharias. Nunca mais ouvi o vozeirão. Outros ocuparam, no entanto, o lugar dele, cata-ventos das mudanças de poder e da bajulice profissional, a perorar placidamente em novos meios de comunicação de massas...
Trinta e oito anos depois, os homens que no dia 25 de abril de 1974 deram o golpe militar que nos mudou a vida recusam participar nas cerimónias oficiais do Dia da Liberdade. Pensam que roubar ao cerimonial do Estado a ideia de alegria que espoletaram, como se fossem únicos donos dela, é protesto justo.
Acho que vou buscar a telefonia do meu pai para, quando forem os discursos de amanhã, ouvir, ressuscitado, o tipo anafado, engravatado, de pó limpo, gritar, maravilhado: "Apoiado! Apoiado!".» [DN]
Aos sete anos percebi o conceito da transmissão à distância, maravilhei-me com o relato por Eurico da Fonseca de uma ida do Homem à Lua e percebi, afinal, quanto anões somos nós, pessoas de verdade, num universo infinito.
Nessa telefonia soavam, de vez em quando, discursos de Américo Tomás e Marcelo Caetano, os senhores pendurados a preto e branco, nas fotografias da sala de aula. Não percebia o que eles diziam mas notava, admirado, como entre as pausas da sua fala se erguia, tremendo de emoção, o vozeirão másculo de alguém, certamente anafado e engravatado, em aparente êxtase maravilhado: "Apoiado! Apoiado!". E, a seguir a este grito, a multidão aplaudia.
Aos 10 anos ouvi o 25 de Abril de 1974 e notei como as vozes da telefonia podiam soar diferentes, cheias de sinceridade, de alegria, de esperança, de patriotismo, de liberdade, de cor, de pronúncia, de diversidade, de solidariedade.
Porém, poucos dias depois, escutei novo discurso, em tom estatal, nessa grande telefonia, nessa parte de mim. Um novo senhor do poder. Não percebi inteiramente o que ele disse mas reconheci, imediatamente, a mesma voz de sempre, a tal do senhor certamente gordo e engravatado, em aparente êxtase maravilhado, a gritar, exultante: "Apoiado! Apoiado!". E a multidão aplaudia. "Mas é o mesmo tipo!", espantei-me. Nesse dia constatei que uma revolução a sério demora muito tempo a fazer...
A revolução demorou, de facto, imenso e foi bem maior do que a dos Cravos. Ditou, entre muitas outras mudanças, o fim da telefonia do pai, esquecida na cave, num canto para velharias. Nunca mais ouvi o vozeirão. Outros ocuparam, no entanto, o lugar dele, cata-ventos das mudanças de poder e da bajulice profissional, a perorar placidamente em novos meios de comunicação de massas...
Trinta e oito anos depois, os homens que no dia 25 de abril de 1974 deram o golpe militar que nos mudou a vida recusam participar nas cerimónias oficiais do Dia da Liberdade. Pensam que roubar ao cerimonial do Estado a ideia de alegria que espoletaram, como se fossem únicos donos dela, é protesto justo.
Acho que vou buscar a telefonia do meu pai para, quando forem os discursos de amanhã, ouvir, ressuscitado, o tipo anafado, engravatado, de pó limpo, gritar, maravilhado: "Apoiado! Apoiado!".» [DN]
Autor:
Pedro Tadeu.
A extrema-direita, por linhas tortas
«Foi uma das maiores gafes das eleições francesas. Hervé Morin anunciou a sua candidatura às presidenciais deste domingo e, no decorrer da campanha, disse ter estado presente no desembarque da Normandia, quando os Aliados iniciaram a libertação da França ocupada pelos alemães na Segunda Guerra.
Hervé Morin esqueceu-se de um pormenor: nasceu em 1961 e o desembarque na Normandia aconteceu em 1944. Foi gozado pelos franceses e, perante tamanha humilhação desistiu da corrida às presidenciais, dando o seu apoio a Sarkozy.
Talvez por isso Sarko terá ficado atrás de Hollande, que arrisca-se a ser o primeiro socialista a ganhar a corrida presidencial desde o ‘mon ami Mitterrand', em 1988. Mas o preocupante destas eleições francesas é, sem dúvida, a ascensão da Frente Nacional, que conseguiu 18% dos votos na primeira volta. Estamos a falar de um partido de extrema-direita, xenófobo, anti-emigração, anti-valores islâmicos e anti-tudo-o-que-não-ande-com-uma-baguete-debaixo-do-braço. Estamos a falar de Marine Le Pen, que quer trazer de volta o franco francês, fechar as fronteiras e rasgar todos os tratados europeus. Uma senhora que é filha de Jean-Marie Le Pen, um homem que negou a existência do holocausto e que em 2008 foi condenado por um tribunal francês por ter afirmado que a ocupação Nazi de França não havia sido "particularmente desumana".
A Frente Nacional não é um fenómeno isolado na Europa. A crise tem servido de terreno fértil para o surgimento de partidos de extrema-direita e da direita-radical, um terreno regado por políticas demagógicas de partidos mais moderados que procuram ganhar votos, banindo a burca e proibindo o véu islâmico nas escolas. Ainda ontem a extrema-direita de Geert Wilders, um homem que chegou a comparar o Corão ao ‘Mein Kampf' de Adolf Hitler, provocou a queda do Governo holandês. Wilders recusou mais austeridade e disse mesmo estar disposto a "aceitar a saída do euro e o regresso do guilder", a antiga moeda holandesa.
O discurso nacionalista do primeiro-ministro Viktor Orbán na Hungria; a entrada no Parlamento sueco de um partido nacionalista com simpatias fascistas; a votação expressiva do antigo partido de Jörg Haider na Áustria; a formação neonazi grega ‘Golden Dawn', que aparece nas sondagens com quase 5%; os resultados surpreendentes do partido separatista de extrema-direita flamengo ‘Vlaams Belang' na Bélgica; e os nacionalistas britânicos do British National Party (BNP) que foram forçados pelos tribunais a permitir a admissão de membros que não fossem anglo-saxões ou celtas. Isto tudo se passa numa Europa com uma apatia disfarçada de tolerância e que permite que gente como Anders Breivik faça saudações de extrema-direita num tribunal, com direito a transmissão televisiva em todo o mundo.
Ou a Europa avança de vez com um projecto a sério, que passe necessariamente por uma maior integração económica e política, sem constantes avanços e recuos, ou a recessão e a austeridade vão dar azo a que aparecem mais gente desta. E tal como Hervé Morin, eu também estive lá, em 1930, quando no rescaldo da Grande Depressão, um senhor com um bigodinho ridículo teve 18% dos votos no Reichstag alemão. E deu no que deu.» [DE]
Hervé Morin esqueceu-se de um pormenor: nasceu em 1961 e o desembarque na Normandia aconteceu em 1944. Foi gozado pelos franceses e, perante tamanha humilhação desistiu da corrida às presidenciais, dando o seu apoio a Sarkozy.
Talvez por isso Sarko terá ficado atrás de Hollande, que arrisca-se a ser o primeiro socialista a ganhar a corrida presidencial desde o ‘mon ami Mitterrand', em 1988. Mas o preocupante destas eleições francesas é, sem dúvida, a ascensão da Frente Nacional, que conseguiu 18% dos votos na primeira volta. Estamos a falar de um partido de extrema-direita, xenófobo, anti-emigração, anti-valores islâmicos e anti-tudo-o-que-não-ande-com-uma-baguete-debaixo-do-braço. Estamos a falar de Marine Le Pen, que quer trazer de volta o franco francês, fechar as fronteiras e rasgar todos os tratados europeus. Uma senhora que é filha de Jean-Marie Le Pen, um homem que negou a existência do holocausto e que em 2008 foi condenado por um tribunal francês por ter afirmado que a ocupação Nazi de França não havia sido "particularmente desumana".
A Frente Nacional não é um fenómeno isolado na Europa. A crise tem servido de terreno fértil para o surgimento de partidos de extrema-direita e da direita-radical, um terreno regado por políticas demagógicas de partidos mais moderados que procuram ganhar votos, banindo a burca e proibindo o véu islâmico nas escolas. Ainda ontem a extrema-direita de Geert Wilders, um homem que chegou a comparar o Corão ao ‘Mein Kampf' de Adolf Hitler, provocou a queda do Governo holandês. Wilders recusou mais austeridade e disse mesmo estar disposto a "aceitar a saída do euro e o regresso do guilder", a antiga moeda holandesa.
O discurso nacionalista do primeiro-ministro Viktor Orbán na Hungria; a entrada no Parlamento sueco de um partido nacionalista com simpatias fascistas; a votação expressiva do antigo partido de Jörg Haider na Áustria; a formação neonazi grega ‘Golden Dawn', que aparece nas sondagens com quase 5%; os resultados surpreendentes do partido separatista de extrema-direita flamengo ‘Vlaams Belang' na Bélgica; e os nacionalistas britânicos do British National Party (BNP) que foram forçados pelos tribunais a permitir a admissão de membros que não fossem anglo-saxões ou celtas. Isto tudo se passa numa Europa com uma apatia disfarçada de tolerância e que permite que gente como Anders Breivik faça saudações de extrema-direita num tribunal, com direito a transmissão televisiva em todo o mundo.
Ou a Europa avança de vez com um projecto a sério, que passe necessariamente por uma maior integração económica e política, sem constantes avanços e recuos, ou a recessão e a austeridade vão dar azo a que aparecem mais gente desta. E tal como Hervé Morin, eu também estive lá, em 1930, quando no rescaldo da Grande Depressão, um senhor com um bigodinho ridículo teve 18% dos votos no Reichstag alemão. E deu no que deu.» [DE]
Autor:
Pedro Carvalho.
Eu não quero ser dono de um banco português
«Eu não quero que o meu dinheiro sirva para recapitalizar a banca portuguesa. E não estou sozinho. Os brasileiros do Itaú também não, por isso decidiram abandonar o BPI num momento difícil. E, pela queda dramática das acções, vê-se que os investidores internacionais também não estão interessados nos três bancos cotados em Lisboa.
Percebe-se. Ser banco em Portugal, neste momento, é como vender pacotes vazios de queijadas de Sintra num encontro de diabéticos. Todos querem, mas não podem ter, o que os bancos nem sequer têm para dar. O negócio central da banca está parado. O crédito está travado por amarras impostas pela troika. Bloqueada à força "a grande roda" de crédito obtido nos mercados, os bancos portugueses ficaram a olhar uns para os outros, sem nada para fazer que não seja apagar os fogos auto-infligidos que vão surgindo nos seus balanços.
A sua grande arma negocial – e de poder – ficou sem pólvora.
Do outro lado, do lado da poupança, o cenário ainda é pior. Quem tem dinheiro para poupar, a sério, investe fora de Portugal. E quem tem umas poupanças menores, está nas mãos dos interesses estratégicos dos bancos. Mas é um jogo de espelhos. Os depósitos sobem, porque os fundos afundam, os fundos sobem, porque os seguros caem.
Portanto, ser banco em Portugal é um acto de fé, nos dias que correm. E é neste contexto que o Estado vai entrar no capital dos bancos, arriscando o dinheiro dos contribuintes.
É por isso que as regras para aceder ao dinheiro da troika, via Estado, procuram ser pesadas o suficiente para garantir que o dinheiro público serve os interesses dos contribuintes e não dos accionistas e gestores da banca. Mas é uma ilusão. O problema dos bancos não são os salários dos gestores ou o preço do "negócio" da nacionalização do capital. Nem sequer o "crédito à economia", que não pode ser alimentado de forma artificial como o Estado pretende. O problema é que os bancos portugueses vão ter anos difíceis pela frente. Vão ser pouco rentáveis, vão ter de actuar num País verdadeiramente pobre, vão despedir e fechar balcões. Vão-se fundir. Só não vão falir, como as empresas dos outros sectores, porque têm risco sistémico. Mas vão penar, entre egos sobredimensionados e personagens diletantes.
Eu não queria participar nisto. A banca em Portugal é um negócio pouco interessante e muito arriscado, numa economia atrofiada, sem rumo definido e sem criatividade nas políticas. Se alguém tem dúvidas, pergunte o que acham os brasileiros do Itaú...» [Jornal de Negócios]
Percebe-se. Ser banco em Portugal, neste momento, é como vender pacotes vazios de queijadas de Sintra num encontro de diabéticos. Todos querem, mas não podem ter, o que os bancos nem sequer têm para dar. O negócio central da banca está parado. O crédito está travado por amarras impostas pela troika. Bloqueada à força "a grande roda" de crédito obtido nos mercados, os bancos portugueses ficaram a olhar uns para os outros, sem nada para fazer que não seja apagar os fogos auto-infligidos que vão surgindo nos seus balanços.
A sua grande arma negocial – e de poder – ficou sem pólvora.
Do outro lado, do lado da poupança, o cenário ainda é pior. Quem tem dinheiro para poupar, a sério, investe fora de Portugal. E quem tem umas poupanças menores, está nas mãos dos interesses estratégicos dos bancos. Mas é um jogo de espelhos. Os depósitos sobem, porque os fundos afundam, os fundos sobem, porque os seguros caem.
Portanto, ser banco em Portugal é um acto de fé, nos dias que correm. E é neste contexto que o Estado vai entrar no capital dos bancos, arriscando o dinheiro dos contribuintes.
É por isso que as regras para aceder ao dinheiro da troika, via Estado, procuram ser pesadas o suficiente para garantir que o dinheiro público serve os interesses dos contribuintes e não dos accionistas e gestores da banca. Mas é uma ilusão. O problema dos bancos não são os salários dos gestores ou o preço do "negócio" da nacionalização do capital. Nem sequer o "crédito à economia", que não pode ser alimentado de forma artificial como o Estado pretende. O problema é que os bancos portugueses vão ter anos difíceis pela frente. Vão ser pouco rentáveis, vão ter de actuar num País verdadeiramente pobre, vão despedir e fechar balcões. Vão-se fundir. Só não vão falir, como as empresas dos outros sectores, porque têm risco sistémico. Mas vão penar, entre egos sobredimensionados e personagens diletantes.
Eu não queria participar nisto. A banca em Portugal é um negócio pouco interessante e muito arriscado, numa economia atrofiada, sem rumo definido e sem criatividade nas políticas. Se alguém tem dúvidas, pergunte o que acham os brasileiros do Itaú...» [Jornal de Negócios]
Autor:
Pedro Ferreira Esteves.
O direito ao orgulho no trabalho bem feito
«Imagine que não havia maternidades e que, ao romperem-lhe as águas, uma grávida que não confiasse em curiosas telefonaria ao seu médico assistente a anunciar-lhe que a coisa estava para breve.
Por sua vez, ele convocaria um a um os enfermeiros e restante pessoal auxiliar indispensável para ajudar no parto. Seguir-se-iam o aluguer, pelo período considerado necessário, de uma sala conveniente e do equipamento indispensável. Por último, seriam contratados os medicamentos e materiais clínicos necessários.
Em teoria, não fazem falta maternidades para assistir partos. Basta que um grupo de profissionais qualificados se associe no momento certo, contratando com o médico que chefia a equipa as condições de prestação do serviço.
Sucede, porém, que o método se adapta mal à emergência da situação. Tendo em conta o carácter ocasional da cooperação, é natural que os envolvidos aproveitem a ocasião para negociar os respectivos honorários e restantes condições de trabalho. Se não se apressam – e porque haveriam de apressar-se? – é muito possível que, entretanto, nasça a criança.
Todavia, considerando a regularidade da ocorrência de partos, o líder da equipa poderia estabelecer contratos estáveis de prestação de serviços, sem necessidade de entabular negociações de cada vez que fosse chamado por uma parturiente. Continuaria, porém, a não haver maternidades: os profissionais envolvidos contratariam directamente entre si o serviço em vez de se vincularem por contratos de trabalho com uma instituição responsável por coordenar a sua actividade. A coordenação dos seus esforços far-se-ia através do mercado, e não de uma empresa.
Poder-se-ia confiar num tal arranjo para garantir partos seguros a mães e crianças, por um preço razoável? Ronald Coase, hoje com 101 anos de idade, ganhou, em 1991, o Nobel por explicar porque são necessárias organizações estáveis (eventualmente empresas) em situações deste tipo.
A ineficiência dos arranjos ad hoc resulta de premiarem comportamentos oportunistas cujas consequências se tornam mais evidentes com a passagem do tempo. Uma óbvia dificuldade reside na ausência de incentivos para providenciar formação e actualização de conhecimentos. O médico não gostaria, por exemplo, de ensinar aos seus colaboradores ocasionais novas técnicas que reduzissem a mortalidade infantil, com receio de que eles fossem ensiná-las aos seus concorrentes. Sem instituições coesas, ficam bloqueados os processos de aprendizagem colaborativa.
É, por isso, absurdo encarar-se uma maternidade como um mero aglomerado de recursos humanos e materiais intermutáveis, de que se pode pôr e dispor ao sabor dos caprichos de momento. Na prática, necessitamos para assegurar partos seguros e eficientes de instituições, como a Maternidade Alfredo da Costa, dotadas de uma forte identidade assente em valores sólidos, crenças partilhadas, procedimentos e métodos de trabalho consolidados ao longo de décadas.
Um amigo em tempos recrutado para uma multinacional petrolífera foi no seu primeiro dia de trabalho questionado pela pessoa encarregada da sua integração: "Sabe o que fazemos aqui?". "Sei, pesquisamos, extraímos e refinamos petróleo". "Errado", troçou o outro, "nós aqui fazemos dinheiro."
Existem muitas empresas que, implícita ou explicitamente, educam os seus colaboradores nessa ideia, exortando-os a colaborar nas malfeitorias eventualmente exigidas por esse propósito. Deixada à solta, esta variante de "ética empresarial" ajudou a desencadear a crise financeira internacional de que há cinco anos o mundo padece. Para cúmulo, algumas pessoas que, no mínimo, conviveram pacificamente com esses princípios de gestão no sector financeiro privado, acham-se agora no direito de implantá-los no sector público.
Instituições confiáveis, como a Maternidade Alfredo Costa, demoram décadas a construir. Não se pode permitir que uma facção de bárbaros engravatados destrua de uma penada a dedicação e o esforço de gerações de profissionais justamente orgulhosos da qualidade do seu trabalho.» [Jornal de Negócios]
Por sua vez, ele convocaria um a um os enfermeiros e restante pessoal auxiliar indispensável para ajudar no parto. Seguir-se-iam o aluguer, pelo período considerado necessário, de uma sala conveniente e do equipamento indispensável. Por último, seriam contratados os medicamentos e materiais clínicos necessários.
Em teoria, não fazem falta maternidades para assistir partos. Basta que um grupo de profissionais qualificados se associe no momento certo, contratando com o médico que chefia a equipa as condições de prestação do serviço.
Sucede, porém, que o método se adapta mal à emergência da situação. Tendo em conta o carácter ocasional da cooperação, é natural que os envolvidos aproveitem a ocasião para negociar os respectivos honorários e restantes condições de trabalho. Se não se apressam – e porque haveriam de apressar-se? – é muito possível que, entretanto, nasça a criança.
Todavia, considerando a regularidade da ocorrência de partos, o líder da equipa poderia estabelecer contratos estáveis de prestação de serviços, sem necessidade de entabular negociações de cada vez que fosse chamado por uma parturiente. Continuaria, porém, a não haver maternidades: os profissionais envolvidos contratariam directamente entre si o serviço em vez de se vincularem por contratos de trabalho com uma instituição responsável por coordenar a sua actividade. A coordenação dos seus esforços far-se-ia através do mercado, e não de uma empresa.
Poder-se-ia confiar num tal arranjo para garantir partos seguros a mães e crianças, por um preço razoável? Ronald Coase, hoje com 101 anos de idade, ganhou, em 1991, o Nobel por explicar porque são necessárias organizações estáveis (eventualmente empresas) em situações deste tipo.
A ineficiência dos arranjos ad hoc resulta de premiarem comportamentos oportunistas cujas consequências se tornam mais evidentes com a passagem do tempo. Uma óbvia dificuldade reside na ausência de incentivos para providenciar formação e actualização de conhecimentos. O médico não gostaria, por exemplo, de ensinar aos seus colaboradores ocasionais novas técnicas que reduzissem a mortalidade infantil, com receio de que eles fossem ensiná-las aos seus concorrentes. Sem instituições coesas, ficam bloqueados os processos de aprendizagem colaborativa.
É, por isso, absurdo encarar-se uma maternidade como um mero aglomerado de recursos humanos e materiais intermutáveis, de que se pode pôr e dispor ao sabor dos caprichos de momento. Na prática, necessitamos para assegurar partos seguros e eficientes de instituições, como a Maternidade Alfredo da Costa, dotadas de uma forte identidade assente em valores sólidos, crenças partilhadas, procedimentos e métodos de trabalho consolidados ao longo de décadas.
Um amigo em tempos recrutado para uma multinacional petrolífera foi no seu primeiro dia de trabalho questionado pela pessoa encarregada da sua integração: "Sabe o que fazemos aqui?". "Sei, pesquisamos, extraímos e refinamos petróleo". "Errado", troçou o outro, "nós aqui fazemos dinheiro."
Existem muitas empresas que, implícita ou explicitamente, educam os seus colaboradores nessa ideia, exortando-os a colaborar nas malfeitorias eventualmente exigidas por esse propósito. Deixada à solta, esta variante de "ética empresarial" ajudou a desencadear a crise financeira internacional de que há cinco anos o mundo padece. Para cúmulo, algumas pessoas que, no mínimo, conviveram pacificamente com esses princípios de gestão no sector financeiro privado, acham-se agora no direito de implantá-los no sector público.
Instituições confiáveis, como a Maternidade Alfredo Costa, demoram décadas a construir. Não se pode permitir que uma facção de bárbaros engravatados destrua de uma penada a dedicação e o esforço de gerações de profissionais justamente orgulhosos da qualidade do seu trabalho.» [Jornal de Negócios]
Autor:
João Pinto e Castro.
'Renatino' volta ao cemitério
«Enrico de Pedis, mais conhecido como 'Renatino', morreu em 1990 num ajuste de contas perto do Campo das Flores, em Roma, e foi sepultado no cemitério Verano da mesma cidade. Uma situação que a viúva não terá aceitado e procurou dar-lhe um enterro de santo.
A vida do falecido foi tudo menos vulgar: nos anos 80 chefiou a organização criminosa Magliana, responsável por dezenas de assassínios, tinha bons contactos e amigos poderosos e destinou à Igreja entre 260 mil a 310 mil euros para obras de caridade.
Carla Di Giovanni aproveitou as "boas ações" e os "conhecimentos" do marido para lhe dar um novo local de sepultura. Conseguiu que o cardeal Ugo Poletti escrevesse uma carta garantindo que "De Pedis foi um grande benfeitor dos pobres", missiva que Di Giovanni levou ao responsável da Basílica de Santo Apolinário, no centro de Roma.
A carta e 20 mil euros deram direito a que 'Renatino' fosse sepultado numa capela da basílica, lugar reservado em princípio a cardeais, santos ou mártires. Uma situação que tem sido, desde então, motivo de escárnio e escândalo em Roma.» [DN]
A vida do falecido foi tudo menos vulgar: nos anos 80 chefiou a organização criminosa Magliana, responsável por dezenas de assassínios, tinha bons contactos e amigos poderosos e destinou à Igreja entre 260 mil a 310 mil euros para obras de caridade.
Carla Di Giovanni aproveitou as "boas ações" e os "conhecimentos" do marido para lhe dar um novo local de sepultura. Conseguiu que o cardeal Ugo Poletti escrevesse uma carta garantindo que "De Pedis foi um grande benfeitor dos pobres", missiva que Di Giovanni levou ao responsável da Basílica de Santo Apolinário, no centro de Roma.
A carta e 20 mil euros deram direito a que 'Renatino' fosse sepultado numa capela da basílica, lugar reservado em princípio a cardeais, santos ou mártires. Uma situação que tem sido, desde então, motivo de escárnio e escândalo em Roma.» [DN]
Parecer:
As ligações mafiosas de um cardeal e 20 mil euros promoveram um chefe mafioso a santo da Igreja Católica.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Dê-se a merecida gargalhada.»
Proença assustou Passos
«As três horas e meia de reunião de ontem entre o primeiro-ministro e João Proença serviram para a UGT deixar um ultimato a Passos Coelho: o acordo da Concertação Social é para cumprir na “globalidade” e o governo “não pode usar a troika como desculpa”. Proença teve a resposta do líder do executivo de que iria apresentar um calendário de medidas até ao final da semana.
Foi só esta certeza dada pelo primeiro-ministro que acalmou (por enquanto) o líder da central sindical. É que João Proença diz ter dito a Passos que “as ameaças da UGT são para levar a sério”. O secretário-geral da UGT levou para o encontro a ameaça de romper com o acordo tripartido e se do lado da central sindical – com o 1.o de Maio à porta – a pressão é o caminho, do lado do governo, se Passos quiser manter a bandeira na comunicação para o exterior, terá de fazer prova de que está a cumprir com o acordado.
E terá sido isso que garantiu a Proença no longo encontro. O líder da central diz ter tido pela parte de Passos “um compromisso claro” de que até à próxima sexta-feira o governo vai apresentar um “calendário e compromissos claros” em como vai cumprir com o acordado. A “prioridade” será dada às políticas de emprego e só por isso, disse João Proença, “vale a pena esperar algum tempo para ver se o governo cumpre o acordo”.» [i]
Foi só esta certeza dada pelo primeiro-ministro que acalmou (por enquanto) o líder da central sindical. É que João Proença diz ter dito a Passos que “as ameaças da UGT são para levar a sério”. O secretário-geral da UGT levou para o encontro a ameaça de romper com o acordo tripartido e se do lado da central sindical – com o 1.o de Maio à porta – a pressão é o caminho, do lado do governo, se Passos quiser manter a bandeira na comunicação para o exterior, terá de fazer prova de que está a cumprir com o acordado.
E terá sido isso que garantiu a Proença no longo encontro. O líder da central diz ter tido pela parte de Passos “um compromisso claro” de que até à próxima sexta-feira o governo vai apresentar um “calendário e compromissos claros” em como vai cumprir com o acordado. A “prioridade” será dada às políticas de emprego e só por isso, disse João Proença, “vale a pena esperar algum tempo para ver se o governo cumpre o acordo”.» [i]
Parecer:
Entregue-se em São bento uma remessa de fraldas para incontinentes.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Faça-se um sorriso.»
O sr. Costa perdeu 3,2 mil milhões de euros
«A carteira de investimentos do Banco de Portugal (BdP) desvalorizou 3.170 milhões de euros em 2011, o que, em grande medida, se deve à concentração das aplicações do banco central em obrigações da Zona Euro, lê-se no relatório e contas de 2011 da instituição a que o Negócios teve acesso.» [Jornal de Negócios]
Parecer:
Como é que este incompetente ainda tem lata para andar por aí a mandar bocas?
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se ao sr. Costa.»