segunda-feira, abril 30, 2012

Um estarola em Belém?



Já houve um tempo em que o Miguel Relvas chegou a acreditar que bastava a direita ganhar as eleições para que os mercados decidissem baixar os juros da dívida portuguesa. Agora é Cavaco Silva que julga que fazendo prognósticos optimistas a economia portuguesa irá crescer já no segundo trimestre. Se a Miguel Relas tudo se perdoa, já afirmações destas de Cavaco Silva devia levar as universidades a retirarem-lhe os diplomas da licenciatura e do doutoramento em economia.

É verdade que vivemos numa época de expectativas e é mais fácil superar a crise económica e ultrapassar a fase da recessão se os consumidores acreditarem, o problema é que o consumidores estão sem dinheiro, sem crédito e só um ou outro mais idiota é que ainda dá ouvidos a um Presidente que parece só estar a ser sincero quando vê vacas felizes na sala da ordena ou se deleita com o sorriso feliz das vacas da Graciosa.

Podiam ter feito umas rezas, podiam ter ir em peregrinação apelar à Nossa Senhora da ladeira, podiam ter usado a fitinha do BCP que o Mourinho anda a promover, mas parece que a maioria e o presidente de direita optaram fazer uma cadeia humana,  juntaram-se a dizer “cresce, cresce, cresce”, acreditando que assim a economia vai mesmo crescer.

Só que com a crise internacional a instalar-se, os portugueses sem um tostão para comer e sem crédito bancário e com o Estado a inventar aumentos de impostos a economia não só não vai crescer como caminha a passo acelerado para uma espiral de recessão que todos temem e por isso mesmo todos negam.

Cavaco sabe muito bem que a economia não vai crescer no segundo semestre nem em 2013 como nos tentam fazer crer e o mesmo sucede com Passos Coelho que já tenta fugir às responsabilidades dizendo que em matéria de austeridade não foi mais toikista o que a troika. É aqui que reside o cinismo de tudo isto, Cavaco e Passos Coelho estão mais preocupados em gerir a sua imagem do que com as dificuldades dos portugueses, comportam-se como ratazanas em navio que vai naufragar.

O discurso de Cavaco no passado dia 25 foi de um profundo cinismo e oportunismo.

Oportunismo porque ignorou muitos méritos do governo anterior optando por elogiar aqueles em que o próprio Cavaco pode insinuar que também deu um contributo enquanto primeiro-ministro. Manipulando os dados relativos ao espaço temporal de alguns indicadores estatísticos Cavaco elogiou Sócrates naquilo que lhe interessava, mas ignorou sucessos como o combate à droga ou a formação profissional pois aí a imagem de Cavaco era a do Casal Ventoso nos bons velos tempos e o esbanjamento dos fundos comunitários.

Compreende-se a estupefacção da direita, eles sabem que com este discurso Cavaco estava a ser cínico, está a apoiar o governo num momento em que o desastre é previsível, para mais tarde poder dizer que fez o que esteve ao seu alcance para evitar uma espiral de recessão. Cavaco é o porta-voz do optimismo nacional para evitar a acusação de não ter ajudado o governo, um dia ainda vai dizer que está por nascer o presidente que apoiou mais um governo.