Já houve um tempo em que o Miguel Relvas chegou a acreditar
que bastava a direita ganhar as eleições para que os mercados decidissem baixar
os juros da dívida portuguesa. Agora é Cavaco Silva que julga que fazendo
prognósticos optimistas a economia portuguesa irá crescer já no segundo
trimestre. Se a Miguel Relas tudo se perdoa, já afirmações destas de Cavaco
Silva devia levar as universidades a retirarem-lhe os diplomas da licenciatura
e do doutoramento em economia.
É verdade que vivemos numa época de expectativas e é mais
fácil superar a crise económica e ultrapassar a fase da recessão se os
consumidores acreditarem, o problema é que o consumidores estão sem dinheiro,
sem crédito e só um ou outro mais idiota é que ainda dá ouvidos a um Presidente
que parece só estar a ser sincero quando vê vacas felizes na sala da ordena ou
se deleita com o sorriso feliz das vacas da Graciosa.
Podiam ter feito umas rezas, podiam ter ir em peregrinação
apelar à Nossa Senhora da ladeira, podiam ter usado a fitinha do BCP que o
Mourinho anda a promover, mas parece que a maioria e o presidente de direita optaram
fazer uma cadeia humana, juntaram-se a
dizer “cresce, cresce, cresce”, acreditando que assim a economia vai mesmo
crescer.
Só que com a crise internacional a instalar-se, os
portugueses sem um tostão para comer e sem crédito bancário e com o Estado a
inventar aumentos de impostos a economia não só não vai crescer como caminha a
passo acelerado para uma espiral de recessão que todos temem e por isso mesmo
todos negam.
Cavaco sabe muito bem que a economia não vai crescer no segundo
semestre nem em 2013 como nos tentam fazer crer e o mesmo sucede com Passos
Coelho que já tenta fugir às responsabilidades dizendo que em matéria de
austeridade não foi mais toikista o que a troika. É aqui que reside o cinismo
de tudo isto, Cavaco e Passos Coelho estão mais preocupados em gerir a sua
imagem do que com as dificuldades dos portugueses, comportam-se como ratazanas
em navio que vai naufragar.
O discurso de Cavaco no passado dia 25 foi de um profundo
cinismo e oportunismo.
Oportunismo porque ignorou muitos méritos do governo
anterior optando por elogiar aqueles em que o próprio Cavaco pode insinuar que
também deu um contributo enquanto primeiro-ministro. Manipulando os dados
relativos ao espaço temporal de alguns indicadores estatísticos Cavaco elogiou
Sócrates naquilo que lhe interessava, mas ignorou sucessos como o combate à
droga ou a formação profissional pois aí a imagem de Cavaco era a do Casal
Ventoso nos bons velos tempos e o esbanjamento dos fundos comunitários.
Compreende-se a estupefacção da direita, eles sabem que com
este discurso Cavaco estava a ser cínico, está a apoiar o governo num momento
em que o desastre é previsível, para mais tarde poder dizer que fez o que
esteve ao seu alcance para evitar uma espiral de recessão. Cavaco é o porta-voz
do optimismo nacional para evitar a acusação de não ter ajudado o governo, um
dia ainda vai dizer que está por nascer o presidente que apoiou mais um
governo.