A realidade política portuguesa é cada vez mais um jogo de sombras. O país tem um presidente que parece que foi eleito para falar dele, chegando ao ridículo impensávelde propor a sua avaliação segundo o processo de auto-avaliação que o Mário Nogueira exigia para os professores. Com um presidente destes e ainda tem um governo cujo número dois é um três e o três é um dois, todos os outros são verdadeiros números fracccionários e todos somados não dão um, um governo em quem ninguém acredita, a quem já ninguém reconhece legitimidade, mas que é mantido porque dá jeito ao famoso arco do poder mantê-lo, é mais confortável ser presidente da câmara municipal do Porto ou de Lisboa do que andar a aturar os palermas da troika ou a meter cunhas ao austero e rigoroso Durão Barroso, para não referir o outro comissário que até parece ter um pico a azedo.
No meio desta palhaçada toda em que o país foi transformado já não se percebe muito bem se a sede do governo é na residência oficial do homem de Massamá, ou se este se esqueceu de pagar a renda e se mudou em regime de residência aberta para as instalações do DN, na Avenida da Liberdade. A verdade é que às gorduras que o Estado já tinha o governo decidiu acrescentar uma, usou o dinheiro dos contribuintes para contratar uma boa parte dos jornalistas, ao que parece basta saber ler, escrever e falar mal do Sócrates para se ser contratado como assessor governamental com carteira de jornalista.
Curiosamente, o mesmo governo que tinha um projecto duvidoso para a comunicação social, com o famoso dr. da Lusófona a vender a RTP a quem falasse melhor de Passos Coelho, acaba por fazer um verdadeiro saneamento da comunicação social, retirando de uma boa parte desta um verdadeiro enxame de vespas que durante anos desinformaram o país para ajudar a extrema-direita das discotecas da Linha, mais os economistas da sacritia, a chegar ao poder. Compreende-se o empenho d ealguma comunicação social em apoiar o governo, ninguém que aquele pessoal venenoso de volta Às redacções.
O problema é que começa a ser difícil distinguir a realidade da ficção, voltamos ao tempo do antes do 25 de Abril, quando para se perceber uma notícia tinha de se ler nas entrelinhas para se perceber a mensagem que o jornalista tentava fazer passar pelo crivo da censura. Mas agora é ao contrário, é o jornalista que usa e abusa da mentira e nós temos de procurar na mentira aquilo que é verdade, porque uma boa mentira para o ser tem de ter um pouco dessa verdade.
Um bom exemplo dessa manipulação da informação é a suposta dificuldade da troika a impor ao governo medidas mais duras do que as que este está disposto a aceitar. Convencido pelo Gasparzinho de que teria o reconhecimento das grandes universidades, o modesto gestor, afilhado e herdeiro espiritual dessa luminária lusa que é o Ângelo Correia decidiu ser mais troikista do que a troika e sujeitou o país a um programa económico digno de fazer inveja ao Augusto Pinochet. Mas a dose de cavalo foi bem maior do a usada nas almôndegas do El Corte Inglês e o resultado foi um imenso coice na economia portuguesa e nos trabalhadores e empresários menos dependentes do poder. Enfim, foi um traique digno de um cavalo com graves problemas de flatulência, um traique que se tivesse ocorrida agora té teria provocado o adiamento do conclave.
Ainda há pouco tempo o Gaspar divertia-se com um brutal aumento de impostos e para que os portugueses não pensassem que a brincadeira ia parar encomendou uma redução brutal nas funções do estado, a que o homem de Massamá, mais refinado nestas coisas da intelectualidade optou por chamar refundação, a fundação foi em Guimarães, a refundação será em Massamá.
Só que um dia destes até o faroleiro das Berlengas manda a segurança marítima à fava e vem para as manifestações do “Que se lixe a troika”. Como não há bexiga que aguente o pessoal requisitado aos jornais teve uma brilhante ideia, vamos promover o desgraçado de Massamá a herói na luta contra a troika e dizer aos portugueses, povo reconhecidamente idiota, que o governo tem lutado tanto contra as imposições da troika que a namorada do Salassie, o mais escurinho para o pessoal da CGTP, vai ficar a ver navios e só poderá actualizar a escrita, lá mais para meio da semana. O namorado foi vítima da tenaz luta do Gaspar e do Passos contras os excessos de austeridade exigidos pelos três idiotas com que as organizações internacionais nos prendaram. Enfim, acredita quem quiser, o mais certo é que a toika tenha adiado o regresso para tentar controlar o Gaspar, que cada vez mais se assemelha ao “animal” da série “Os Marretas”.