sexta-feira, março 01, 2013

A reformatação


Para os senhores do 4.º Reich não há um problema de sobrevalorização do euro, a globalização só trouxe benefícios e os custos e proveitos de uma união monetária feita à pressa são distribuídos equitativamente. Esta é a tese da senhora Merkel, do estado maior da Wehrmacht, agora instalado na sede do BCE em Frankfurt, bem como de todos os gemanófilos, germanofilozinhos e banqueiros locais de ascendência alemã.
Se as coisas correram mal em Portugal é porque os portugueses são um povo inferior de gente pouco dada a trabalhar, só querem beber e descansar, um misto entre pretos e ciganos. Aliás, é um mal comum aos países do sul, nem a Itália escapa a esta doença climática do Mediterrâneo, mesmo sendo um velho aliado da Alemanha nunca mereceu grande confiança pois desde Mussolini que gostam de ser dirigidos por palhaços.

Portanto o problema de Portugal não era económico, o país é com um computador com o disco danificado, ocupado por vírus e com software demasiado lento. Não bastava um upgrade, era necessário reformatar, reparar o disco, eliminar o software inadequado, instalar novos programas e reorganizar os ficheiros.

Isto significava que os portugueses tinham de ser reprogramados, muitos deviam ser convidados a emigrar, uma boa parte das empresas deviam ser encerradas e os seus recursos serem usados pelas novas empresas. O país devia ser tratado como um computador, pouco importando o que sucederia enquanto este estivesse em reparação. Tira-se português daqui e põe-se ali ou manda-se para acolá, fecha-se uma empresa aqui e cria-se um directório de empresas ali, as que estiveram a mais, bem como os portugueses considerados inúteis, incapacitados ou politicamente inadequados deverão ir para a reciclagem e atirados para o lixo com a reformatação pois não devem ocupar espaço durante o backup.

No fim teríamos empresas mais rápidas, menos tempo de paragem da máquina e portugueses com os bits no lugar. O país lento e desactualizado daria lugar a uma máquina rápida e sem paragens, o facto de ter um processador velho pouco importa, seria útil para correr programas que já não são usadas em máquinas como a alemã. Depois de devidamente reformatado, o país já pode ser ligado de novo à rede do euro que tem o servidor na Alemanha.

Pouco imposta os sacrifícios humanos, a vontade dos portugueses ou a democracia, tudo foi suspenso e cabe ao programador da confiança da Wehrmacht decidir quem pode continuar em Portugal, quem enriquece, quem empobrece, quem pode ser curado num hospital público ou quem pode ir à escola. Durante o período de ocupação esse programador, equiparado a sargento-mor da Wehrmacht, tem plenos poderes para fazer o que bem entender aos indígenas, escolher os mais aptos para trabalhar, meter nos combóios com destino à Alemanha os que estiverem a mais mas forem aptos para trabalhos na emigração, nacionalizar os recursos dos que forem considerados parasitas.

O país ou aceita a reformatação, pagando os juros e as devidas comissões, ou trata os ocupantes com subserviência e proporcionando-lhe instalação nos melhores hotéis, ou não leva mais dinheiro. Quem o costuma dizer é o controleiro do sargento-mor da Wehrmacht, um tal Simon O’Connors.