terça-feira, março 26, 2013

Irresponsabilidade criminosa


Ainda por aí muita gente empenhada em salvar o país cortando quatro mil milhões no Estado, até há quem seja mais objectivo e proponha doze mil milhões. Assim há crescimento de certeza, da mesma forma que haveria, seguindo o brilhante raciocínio de Passos Coelho, se fosse reintroduzida a escravatura, isso se para os padrões actuais o ordenado mínimo fosse suficiente para manter um escravo em boa forma.
  
Até os rapazolas da troika com um misto de ar de envergonhado com comprometido lá vão falando na redução do Estado porque as coisas estão a correr mal. E estão a correr mal desde quando? Desde há meia dúzia de dias, até aí os senhores da troika desdobravam-se em seminários, elogiavam os brilhantes resultados, o Gaspar era convidado para seminários em Bona e ainda escreve artigos para o site do “patrão”.
  
À volta da imensa manjedoura do estado reúnem-se os ideólogos, os falhados e os oportunistas. Os ideólogos que se estão nas tintas para as consequências, os oportunistas que vêm no dinheiro dos contribuintes o substituto para os subsídios financiados mpelas ajudas comunitárias que acabaram e os falhados que inventam a refundação do estado para encobrir o desvio colossal nas receitas fiscais resultante da incompetência do brilhante Gaspar.
  
Quem tem razão é o Eduardo Catroga, se juntarmos os quatro mil milhões de perdas de receitas do ano passado com mais dois anos de Gaspar à frente do ministério isso dará qualquer coisa como três vezes quatro, doze mil milhões. Enfim, contas redondas pois ao ritmo a que cresce a dívida soberana em cima desses doze haverá que considerar o aumento do peso dos juros dessa dívida, isto é, o custo da ajuda boche, já nem se fala no pagamento de comissões para as mordomias do Salassies porque isso são alcagoitas.
  
Para dar um ar sério à coisa inventa-se a necessidade de redefinir as funções do Estado, o Passos Coelho fala em refundação, o Rosalino troca isso por miúdos e converte a coisa no despedimento de umas largas dezenas de milhares, há quem fale em 150 mil.
  
É evidente que um assunto de tal gravidade tinha que ter um amplo debate, organiza-se um beberete num palácio, convida-se os Ulrichs e vizinhança da linha de Cascais, dá-se a bucha a uns quantos jornalistas e debate-se a coisa numa sessão onde de um lado estão os que defendem que se mata e dos outros os que consideram que matar é pouco, que também se esfole.
  
Ficou de fora a populaça, bem esses votarão nas eleições para as quais o Passos se está nas tintas, mesmo assim convida-se a antiga universidade da formação de administradores coloniais, uma gorduras que cheira a sebo e é paga pelos contribuintes, enche-se uma sala de ninguém e põe-se o primeiro-ministro a abrir a sessão para a comunicação social. Uns berros, gritaria no corredor, cinco minutos de telejornal e a refundação do estado está debatida.
  
O Cavaco nada tem que ver com o estado, desde que não lhe mexam na freguesia da Quinta da Coelho por ele está tudo bem. Bem, talvez não seja assim, o Sócrates está de volta e lá se vai o sossego das roseiras do Palácio de Belém.
  
Quatro  mil milhões? Só Deus sabe quanto é que o Gaspar, o Salassie e mais os outros dois estarolas que não têm direito a nome nos vão custar. Estamos perante um caso internacional de irresponsabilidade criminosa em que os cortes do Estado social deixaram de ser debatido ou votado pelos portugueses, corta-se o que o Catroga ou o Borges sugerem, tudo depende de quanto querem dar aos patrões em TSU, de quanto vão cobrar a menos em receitas fiscais ou de quanto vai ser a redução do IRC.
 
A destruição do Estado social e de décadas de desenvolvimento civilizacional depende do resultado das experiências do Gaspar e do Salassié, primeiro destruíram a economia com a famosa desvalorização, agora tentam reanimá-la com mais experiências radicais financiadas por cortes sucessivos e descontrolados dos rendimentos dos pensionistas e funcionários públicos e pela destruição de fatias sucessivas do Estado. Com tanta incompetência começa a ser duvidoso que o próprio país sobreviva a tanta destruição.