Infelizmente é quase impossível derrubar um Presidente da
República porque se o fosse há muito que Cavaco Silva o deixaria de ter sido.
Mas os mesmos portugueses que elegeram um Presidente não têm forma de o demitir
se chegarem à conclusão de que essa eleição foi um erro.
Cavaco Silva é hoje um presidente da República que se
arrasta, que vive para se auto-justificar, que cumpre o mandato como se fosse
arrendatário de um prédio urbano de onde não pode ser despejado porque tem a
renda em dia. Os que não votaram nele nunca o reconheceram como Presidente de
todos os portugueses, nunca o foi nem demonstrou ter estatura política para o
ser, não tem a classe de um Sampaio, a honestidade de um Eanes e a dimensão de
um Soares.
Ainda por cima a sua inteligência política é escassa, um
presidente cujo braço direito conspirou contra um primeiro-ministro eleito por
uma maioria absoluta não tem autoridade moral para dizer que a intriga política
ou partidária não cria um emprego. Intriga, jogos partidários? Haverá pior
intriga do que sustentar acusações falsas? Haverá pior jogo partidário do que
dizer uma coisa quando o governo é de um partido e dizer o contrário quando é
de outro partido?
Invocar a situação de crise para reduzir os jogos partidários
a uma inutilidade desnecessária dizendo que esses jogos que mais não são do que
a essência da democracia na cria emprego? Isso é dizer que a democracia é um
passatempo de países ricos em que a criação de emprego não é um problema. Foi
por pensar assim que Cavaco chegou a chamar a Belém o sindicalistas dos
magistrados para se inteirar sobre supostas pressões do governo sobre a
justiça? Pois, nesse tempo Portugal era rico e vivia-se no pleno emprego.
Na democracia portuguesa a Presidência da República é o Chefe
do Estado Maior das Forças Armadas, é a primeira trincheira na defesa da
democracia, é por isso que ao Presidente foram atribuídos poderes de veto, poder
para sujeitar os diplomas do governo e do parlamento ao Tribunal Constitucional.
Ora, se um Presidente desvaloriza os jogos partidários só resta aos portugueses
recorrerem ao rei de Espanha se sentirem a democracia ameaçada.
Porque será que Cavaco precisa de estar constantemente a
justificar as suas actuações, a explicar que faz muita coisa sem ninguém ver e
a dar lições à democracia portuguesa? Nem Eanes, nem Soares, nem Sampaio alguma
vez tiveram este tipo de comportamento. Pois, mas também nunca tiveram negócios
na SLN, nunca tiveram assessores a conspirar, foram grandes Presidentes.
Enfim, os presidentes são como o vinho, há anos bons e anos
maus, há anos de vintage e anos em que o vinho parece ter sido feito a martelo.