quinta-feira, março 28, 2013

O presidente que já não o devia ser


Infelizmente é quase impossível derrubar um Presidente da República porque se o fosse há muito que Cavaco Silva o deixaria de ter sido. Mas os mesmos portugueses que elegeram um Presidente não têm forma de o demitir se chegarem à conclusão de que essa eleição foi um erro.

Cavaco Silva é hoje um presidente da República que se arrasta, que vive para se auto-justificar, que cumpre o mandato como se fosse arrendatário de um prédio urbano de onde não pode ser despejado porque tem a renda em dia. Os que não votaram nele nunca o reconheceram como Presidente de todos os portugueses, nunca o foi nem demonstrou ter estatura política para o ser, não tem a classe de um Sampaio, a honestidade de um Eanes e a dimensão de um Soares.

Ainda por cima a sua inteligência política é escassa, um presidente cujo braço direito conspirou contra um primeiro-ministro eleito por uma maioria absoluta não tem autoridade moral para dizer que a intriga política ou partidária não cria um emprego. Intriga, jogos partidários? Haverá pior intriga do que sustentar acusações falsas? Haverá pior jogo partidário do que dizer uma coisa quando o governo é de um partido e dizer o contrário quando é de outro partido?

Invocar a situação de crise para reduzir os jogos partidários a uma inutilidade desnecessária dizendo que esses jogos que mais não são do que a essência da democracia na cria emprego? Isso é dizer que a democracia é um passatempo de países ricos em que a criação de emprego não é um problema. Foi por pensar assim que Cavaco chegou a chamar a Belém o sindicalistas dos magistrados para se inteirar sobre supostas pressões do governo sobre a justiça? Pois, nesse tempo Portugal era rico e vivia-se no pleno emprego.

Na democracia portuguesa a Presidência da República é o Chefe do Estado Maior das Forças Armadas, é a primeira trincheira na defesa da democracia, é por isso que ao Presidente foram atribuídos poderes de veto, poder para sujeitar os diplomas do governo e do parlamento ao Tribunal Constitucional. Ora, se um Presidente desvaloriza os jogos partidários só resta aos portugueses recorrerem ao rei de Espanha se sentirem a democracia ameaçada.

Porque será que Cavaco precisa de estar constantemente a justificar as suas actuações, a explicar que faz muita coisa sem ninguém ver e a dar lições à democracia portuguesa? Nem Eanes, nem Soares, nem Sampaio alguma vez tiveram este tipo de comportamento. Pois, mas também nunca tiveram negócios na SLN, nunca tiveram assessores a conspirar, foram grandes Presidentes.

Enfim, os presidentes são como o vinho, há anos bons e anos maus, há anos de vintage e anos em que o vinho parece ter sido feito a martelo.