Primeiro havia alguma dívida soberana e uma crise
internacional, não quiseram mais austeridade, chumbaram o PEC IV e empurraram o
país para o FMI.
Não contentes com o memorando e enquanto meio mundo detesta
a ideia de se sujeitar á brutalidade das medidas do FMI, a nossa direita
inventou a política absurda, desumana e incompetente do mais troikista do que a
troika.
No que consiste este troikismo ao quadrado? É uma política
económica que combina o ultra-liberalismo com o estalinismo. É ultra liberal no
ódio ao Estado, a tudo o que cheire a social, a direitos sociais, a princípios
constitucionais que interfiram com a economia. É estalinista porque tem pouca
consideração pelos mercados e decide ao nível central quais os sectores que
devem ser salvos e quais os que devem ser eliminados.
A economia do país foi sujeita a um verdadeiro plano
quinquenal estalinista em que se pretendia reformatar tudo e todos no pressuposto
de que no fim do plano quem estava a mais no país teria emigrado, os empresários
de sectores considerados inúteis estariam falidos, as empresas consideradas
necessárias seriam salvas com o dinheiro cobrado aos contribuintes. Destruíram-se
sectores inteiros como a restauração, o pequeno retalho ou a construção civil,
ao mesmo tempo cortaram-se subsídios a todos os portugueses para com esse
dinheiro tapar o buraco do BPN e emprestaram-se milhões aos bancos emprestados
com dinheiro da troika cuja garantia é dada por uma política brutal para o
cidadão comum.
Esta política estalinista é infalível e por isso sempre que
os sinais de insucesso são evidente adoptam-se mais medidas brutais, o sucesso
da política está acima da vontade do povo, as manifestações são para ignorar, o
governo tem legitimidade, conta com um rebanho parlamentar e, portanto, podem
protestar, chiar, berrar ou cantar a ‘Grândola’, as eleições serão no fim da
legislatura, até lá manda o Gaspar, conta com o apoio do Passos Coelho, do
sindicato financiado pela banca e do Presidente que pouco mais é do que
presidente.
O crescimento débil transformou-se em espiral recessiva, a dívida
elevada passou a galopante e insustentável, a receita fiscal colapsou, as
gorduras do estado transformaram-se em obesidade mórbida, esqueceram-se da lipoaspiração
das tais gorduritas e quanto aos famosos esqueletos escondidos no armário para
os quais alertaram a troika numa famosa carta entregue pelo agora camarada
Eduardo Catroga, devoto de Mão e das notas do BCE.
Mas o plano quinquenal estalinista está a ser um sucesso,
como, aliás, o foram todos os planos estalinistas. Pouco importam os custos
sociais, o pai que se atira ao poço com o filho de dois anos, as famílias que
voltam às despedidas em Santa Apolónia. São figuras menores que não conta, gente
que nasceu para aguentar nem que para isso sejam sem-abrigos, porque é mais
barato dar uma sopa quente a um sem-abrigo do que um subsídio a um
desempregado, menos dinheiro gasto com subsídios significa mais receitas de IRS
disponibilizadas para reduzir o IRC à banca. Os bancos é que financiam a
economia e segundo esta lógica quantos mais portugueses inúteis forem
transformados em sem-abrigos mais dinheiro haverá para ajudar os coitados dos
banqueiros.
Faltava um argumento para convencer os portugueses de que o
plano estalinista era mesmo necessário? Inventou-se um famoso desvio colossal
que foi combatido destruindo toda uma classe profissional acusada (como sucedeu
com os judeus alemães) de ser responsável por todos os males do país, de viver à
grande e à francesa à custa dos outros. O desvio colossal foi corrigindo expropriando
30% do rendimento de um grupo profissional. Tal como Mão perdeu uma colheita
matando os pardais no pressuposto de que estes comiam as colheitas, cá o
consumo colapsou e o desvio colossal provocado pelas medidas foi quatro vezes
superior ao falso desvio colossal que justificaram essas medidas. Pior do que
isto só a política estalinista de Mão do tempo do grande passo em frente,
quando derreteram todas as alfaias agrícolas para transformar a China num
grande produtor de aço e no final a china ficou com uma imensidão de entulho de
aço de péssima qualidade e muitos milhões de chineses morreram à fome porque
sem as alfaias não produziram alimentos.
O Portugal do Gaspar faz lembrar a China estalinista de Mo-Tse-Tung.