Parece que o país ficou surpreendido porque um ex-primeiro
ministros que ganhou duas eleições legislativas e que foi derrotado com a ajuda
de golpes baixos, mentiras presidenciais e em plena crise internacional e da própria
existência da EU que todos negaram.
Ao que aprece dava jeito Sócrates estar em silêncio,
desempenhando obedientemente o papel de Vasco Gonçalves do século XXI, o
falecido general pagou pela miséria herdada do salazarismo e a direita acusou-o
durante décadas dos males do país, espiados os pecados do general er necessário
mais um culpado, desta vez para iludir a corrupção que roubou os rios de
dinheiros de Bruxelas e, terminado este dinheiro, especializaram-se em mafiosos
do sistema financeiro.
Enquanto Sócrates foi vedeta nos prefácios dos pasquins
anuais de Cavaco Silva ninguém se incomodava com o seu regresso, não fazia mal
que fosse tema durante horas a fio nas televisões, o que parece incomodar é
meia hora em que pode falar. Mas não se percebe muito bem o porquê de tanto
alvoroço, se Sócrates é assim tão odiado pelo povo e é tão responsável por tudo
o que de mau nos acontece a direita deveria estar em festa. O próprio Gaspar já
deveria ter metido o champanhe no frigorífico, na mesma semana em que defendeu
que o memorando estava mal feito eis que aparece Sócrates para responder pela
autoria do memorando. É a oportunidade de Gaspar e Passos Coelho explicarem os
fundamentos científicos do seu excesso de austeridade.
Um dos aspectos mais interessantes desta reacção é a imensa
onda de solidariedade da direita portuguesa em relação a Seguro, uma boa parte
da nossa direita não se incomodou muito com a presença de Sócrates, o que a incomoda
mesmo é o prejuízo que esta presença pode infligir a Seguro. É uma direita tão
piedosa que quer mesmo perder as eleições para Seguro e ficou muito incomodada
porque Sócrates vem prejudicar a imagem do líder do PS.
Aliás, esta direita só tem qualidades, os que não estão
incomodados com os problemas de Seguro acham que Sócrates é tão mau, está de
tal forma condenado que o seu aparecimento só facilitará a vida a Passos
Coelho. É uma direita muito nobre, herdeira dos bons valores da nossa
fidalguia, esta autêntica ala de namorados quer combater castelhanos e
sarracenos a sério e não este D. Quixote em cima de uma pileca.
Há, por fim, a direita mais religiosa, aquela que reage com
um “va de retro Santanás”, José Sócrates é a reincarnação do mal e aquele que aí
vem não é o verdadeiro pois esse foi morto e bem morto, aquele que vai ser
visto na RTP é a sua alma penada, é a reincarnação do mal, é Santanás.
O regresso de Sócrates é mesmo o regresso de uma alma
penada, é o regresso da alma penada do PEC IV que vem buscar para levar para o
inferno os que ajudaram o país a enveredar pelo trilho da austeridade brutal,
para o despedimento em massa e sem critério de funcionários públicos, de
professores e vamos ver de quem mais. É a alma penada do PEC IV que vem agoirar
o velho merceeiro holandês, o Catroga pago a 50 mil pelos chineses, os Mários
Nogueiras, os inventores de escutas a Belém, os autores de prefácios manhosos,
os promotores de manifestações de jovens à rasca.