A direita portuguesa nunca perdeu os seus velhos tiques e à
primeira oportunidade reage como se vivêssemos em ditadura, basta haver uma
oportunidade para que os velhos demónios habituados a décadas de ditadura se
soltem. Veja-se o que se está a passar com o governo, a coberto da troika
Passos Coelho tornou-se num serviçal de um desconhecido Gaspar que tem um
projecto para o país que tornaria Salazar num velhote simpático.
Para a direita portuguesa a ordem natural das coisas seria a
direita governar eternamente, as eleições seriam desnecessárias mas já que têm
que ser realizadas então o povo deveria votar eternamente nos partido de
direita. Quando a esquerda governa a direita não responde com alternativas,
coloca sempre as diferenças no plano da competência, um governo de direita é
naturalmente competente, um governo de esquerda é naturalmente um governo
incompetente.
Sempre que governa a direita apresenta-se como a salvadora,
sucedeu com Salazar, com Marcelo Caetano, com a AD, com Cavaco Silva, com Durão
Barroso e agora com Passos Coelho. Através de eleições ou de um golpe de Estado
sempre que a direita chega ao poder não se apresenta para governar segundo o
seu projecto político, é sempre salvadora, tudo o que decide é em nome da
salvação do país.
A reacção da esquerda é curiosa, a esquerda conservadora
sempre preferiu governos de direita a governos de esquerda, PCP e BE sentem-se
mais confortáveis concordando com a direita em relação ao que consideram ser a
ordem natural das coisas. Uma boa parte do PS quase pede licença à direita par
governar, pede desculpa à direita por não governar tão à direita como esta
desejaria e sente vergonha em relação à esquerda conservadora por não governar
tão à esquerda como esta exige. A direita faz uns elogios enquanto o eleitorado
não a favorece, a esquerda abre consultórios de certificação de governos de
esquerda.
Quando há um governo de esquerda que enfrenta a direita e
manda a esquerda conservadora à fava surge o ódio, estava o verniz à direita
que solta os fantasmas da destruição do estado social, dos despedimentos em
massa e da revisão constitucional. Na esquerda conservadora vem ao de cima os
velhos ódios ideológicos dos leninistas e dos trotskistas aos
social-democratas, ódios bem mais violentos do que o que separa a esquerda
conservadora da direita.
Sócrates e Mário Soares foram os dois líderes de governos de
esquerda mais odiados quer pela direita, quer pela esquerda conservadoras,
desprezaram a direita, atacaram-lhes os alicerces dos financiamentos partidários,
disputaram-lhes o poder na finança e na comunicação, venceram-na repetidamente,
humilharam-na. Em relação à esquerda conservadora quer Mário Soares, quer Sócrates
mandaram os Louçãzinhos a apanhar gambuzinos, desprezaram-nos enquanto sumos
pontífices ideológicos.
Quer a direita, quer a esquerda conservador odeia e teme Sócrates,
nalguns casos Sócrates conhece podres mais do que suficientes para que este
medo seja terror. E agora não há processos Freeports para lhe atirar.