sábado, março 23, 2013

Quem tem medo do lobo mau?


A direita portuguesa nunca perdeu os seus velhos tiques e à primeira oportunidade reage como se vivêssemos em ditadura, basta haver uma oportunidade para que os velhos demónios habituados a décadas de ditadura se soltem. Veja-se o que se está a passar com o governo, a coberto da troika Passos Coelho tornou-se num serviçal de um desconhecido Gaspar que tem um projecto para o país que tornaria Salazar num velhote simpático.
 
Para a direita portuguesa a ordem natural das coisas seria a direita governar eternamente, as eleições seriam desnecessárias mas já que têm que ser realizadas então o povo deveria votar eternamente nos partido de direita. Quando a esquerda governa a direita não responde com alternativas, coloca sempre as diferenças no plano da competência, um governo de direita é naturalmente competente, um governo de esquerda é naturalmente um governo incompetente.
 
Sempre que governa a direita apresenta-se como a salvadora, sucedeu com Salazar, com Marcelo Caetano, com a AD, com Cavaco Silva, com Durão Barroso e agora com Passos Coelho. Através de eleições ou de um golpe de Estado sempre que a direita chega ao poder não se apresenta para governar segundo o seu projecto político, é sempre salvadora, tudo o que decide é em nome da salvação do país.
 
A reacção da esquerda é curiosa, a esquerda conservadora sempre preferiu governos de direita a governos de esquerda, PCP e BE sentem-se mais confortáveis concordando com a direita em relação ao que consideram ser a ordem natural das coisas. Uma boa parte do PS quase pede licença à direita par governar, pede desculpa à direita por não governar tão à direita como esta desejaria e sente vergonha em relação à esquerda conservadora por não governar tão à esquerda como esta exige. A direita faz uns elogios enquanto o eleitorado não a favorece, a esquerda abre consultórios de certificação de governos de esquerda.
 
Quando há um governo de esquerda que enfrenta a direita e manda a esquerda conservadora à fava surge o ódio, estava o verniz à direita que solta os fantasmas da destruição do estado social, dos despedimentos em massa e da revisão constitucional. Na esquerda conservadora vem ao de cima os velhos ódios ideológicos dos leninistas e dos trotskistas aos social-democratas, ódios bem mais violentos do que o que separa a esquerda conservadora da direita.
 
Sócrates e Mário Soares foram os dois líderes de governos de esquerda mais odiados quer pela direita, quer pela esquerda conservadoras, desprezaram a direita, atacaram-lhes os alicerces dos financiamentos partidários, disputaram-lhes o poder na finança e na comunicação, venceram-na repetidamente, humilharam-na. Em relação à esquerda conservadora quer Mário Soares, quer Sócrates mandaram os Louçãzinhos a apanhar gambuzinos, desprezaram-nos enquanto sumos pontífices ideológicos.
 
Quer a direita, quer a esquerda conservador odeia e teme Sócrates, nalguns casos Sócrates conhece podres mais do que suficientes para que este medo seja terror. E agora não há processos Freeports para lhe atirar.