Ainda ante de eclodir a crise financeira provocada por produtos
tóxicos que beneficiaram do apoio de ideólogos dos mercados financeiros que
agora têm posição de destaque no governo, o mundo debatia a questão cambial. É
mais do que evidente que a valorização do euro não teve correspondência na
evolução da economia europeia, da mesma forma que todo o mundo sofre com a
estratégia chinesa de subvalorização da sua moeda.
É óbvio que à Alemanha não interessa qualquer correcção do
valor do euro, as suas indústrias exportadoras quase não têm concorrência e uma
desvalorização representaria uma perda de riqueza. Sempre que numa economia se desvaloriza
a moeda as empresas menos competitivas ganham e as mais competitivas ficam a
perder pois a contrapartida em dólares do resultado das suas vendas diminui.
A crise financeira provocada pelos Moedas e pelos Borges de
Nova Iorque deslocou a atenção dos mercados cambiais para o mercado financeiro.
O pânico dos investidores e a necessidade de recuperação das perdas por parte
dos agentes do mercado conduziu à crise das dívidas soberanas e a zona euro,
sem quaisquer mecanismos de intervenção, era vulnerável a qualquer ataque
especulativo. O resultado foram muitos milhões de lucros adicionais conseguidos
com uma subida artificialmente exagerada dos juros de dívidas soberanas como a
italiana.
Novamente a Alemanha não tinha qualquer interesse em
partilhar os custos de uma zona euros de que era a grande privilegiada, com o
argumento da má gestão dos estados impôs a abordagem liberal aos países do sul
para se certificar de que apenas ficaria com os benefícios resultantes de haver
uma moeda única. Os prejuízos resultantes da existência dessa moeda deveriam
ser compensados com austeridade nos países mais vulneráveis. Se deixaram de ser
competitivos então que empobreçam os seus cidadãos, se a moeda não pode ser
desvalorizada a bem da riqueza dos alemães então que se condenem os italianos,
espanhóis e portugueses à pobreza. De caminho aproveita-se para a Alemanha se
vingar dos que ousaram incomodar os seus interesses, os irlandeses devem subir
o IRC, os cipriotas devem desmantelar a sua banca.
A direita portuguesa, que só é nacionalista quando se fala
de Aljubarrota, tem uma forte tendência para a germanofilia, quando tudo corre
bem na Europa é muito Atlântica e gosta da América, quando os ânimos aquecem na
Europa, seja em consequência do nazismo ou do extremismo da Merkel a direita é
germanófila, ao ponto de Passos sempre ter tido ciúmes da relação de Sócrates
com Angela Merkel e que explica muita da subserviência governamental em relação
aos alemães.
É neste contexto que se deve analisar o facto de um ministro
das Finanças português que gosta muito pouco de explicar as suas políticas aos
portugueses, passar a vida a ir a seminários em Bona e na semana passada ter escrito
um artigo publicado no site do ministério alemão das finanças. Na perspectiva
do governo português será um motivo de orgulho, para os alemães é uma
satisfação ver um governante sujeitar os seus concidadãos a sacrifícios
adicionais para assegurar a estabilidade necessário ao aumento da riqueza
alemã. Nem o Hitler conseguiu melhor, não há memória de os discursos de Pétain
terem sido lidos pelos alemães. O problema é saber quem defende os interesses
de Portugal e dos portugueses, ou será que nos vão sugerir que emigremos todos
para a Alemanha, usando as mesmas rotas de outros trabalhadores forçados no
passado?