quinta-feira, novembro 11, 2010

A alegria faz milagres


A frase é de José Mourinho e com ela o treinador do Real Madrid explicava as boas exibições da sua equipa depois de um início de época periclitante, a equipa que pouco prometia transformou-se em muito pouco tempo e segundo o seu treinador essa mudança foi resultado da alegria de jogar.

Pergunte-se aos trabalhadores de muitos serviços públicos se de uma boa parte dos trabalhadores das empresas do sector privado se vão trabalhar com alegria e faça-se a mesma pergunta aos da Autoeuropa e tirem-se conclusões. Pergunte-se aos trabalhador de uma empresa onde sentem o empenho e solidariedade dos seus administradores, onde percebem que as dificuldades salariais com que vivem se espelham num comportamento austero dos seus dirigentes e mesmo sem a abundância da empresa de Setúbal poderão encontrar alegria e empenho.

Infelizmente, ou talvez felizmente paras as equipas ou empresas que seriam suas vítimas, os nossos políticos não são nem treinadores de futebol nem administradores de empresas, gerem uma coisa bem mais fácil de gerir, o dinheiro dos contribuintes, por pior que trabalhem serão premiados e quando perderem as eleições deixarão de sofrer os condicionalismos do poder e poderão colher os frutos do exercício desse poder.

Governo e maior partido da oposição cortaram uma fatia significativa do rendimento dos funcionários públicos e impuseram uma pesada carga fiscal à generalidade dos portugueses e estes não tiveram direito à mais pequena explicação, ninguém lhes deu esperança no futuro, limitaram-se a justificar uma política duríssima com o espantalho da crise e com uma mensagem subliminar, ou aceitam como cordeiros ou vem o lobo mau e é ainda pior, comam e fiquem calados.

É um velho defeito dos nossos políticos cobardes, não assumem um erro, não dão uma palavra de esperança, justificam as políticas de austeridade como uma inevitabilidade e usam sempre a ameaça para as imporem sem grandes explicações. Como se tudo fosse competência e rigor governamental e todos os males que sucedem aos portugueses sejam sistematicamente uma consequência das crises internacionais, até porque neste belo país não há crises nacionais.

Há poucos meses alguém se gabava que podia promover aumentos generalizados de apoios sociais, diminuir o iva e dar aumentos de 3% porque tinham sido brilhantes a consolidar as contas públicas. Poucos meses depois e apesar da brilhante gestão das contas públicas cortam-se 10% dos vencimentos, aumentam-se os impostos e fazem-se cortes generalizados nos apoios sociais. Quando foi para dar justificou-se com a competência, quando foi para tirar a culpa foi da crise.

Os nossos líderes políticos, sejam do governo ou do maior partido da oposição, confundem liderar com mandar, não percebem que uma nação é um colectivo de cidadãos que podem ou não estar empenhados ou podem estar mais ou menos envolvidos no futuro do seu país. Não percebem que foram eleitos para governar ou para fazerem oposição no pressuposto de que o fazem respeitando os cidadãos, acima de tudo respeitando a sua inteligência e dignidade e não tratando-os como primatas a quem não se deve dar explicações como há pouco tempo tinha sugerido Ernâni Lopes.

Infelizmente não percebem que numa equipa de futebol, como numa empresa ou como numa nação a alegria faz milagres, como diria um dia escreveu António Gedeão “eles não sabem que o sonho é uma constante da vida” e esse sonho não são os sonhos ou pesadelos dos líderes políticos, é o sonho de um povo permanente desprezado por aqueles que elege.