terça-feira, novembro 02, 2010

Poupadinho?


Contas da Presidência d República

No discurso da recandidatura Cavaco Silva decidiu dar um golpe baixo nos seus adversários e na democracia, como acha que a sua vitória são favas contadas decidiu condicioná-los dizendo que tinha dado ordens aos responsáveis da sua campanha para gastarem metade do permitido por lei, ele que nas últimas eleições presidenciais tinha gasto mais do que qualquer um dos outros candidatos.

Mas será que o mesmo Cavaco que passou a imagem de ruralismo poupado na apresentação da sua candidatura também foi poupadinho com os dinheiros dos contribuintes? Fiquei com curiosidade e fui recolher os dados de que resultou o gráfico. Note-se que Cavaco tomou posse em Março de 2006, os dados relativos ao período entre 2004 e 2008 constam na Conta Geral do Estado e os referentes ao período 2009-2011 são números do Orçamento-Geral do Estado dado que a conta Geral do Estado para 2009 ainda não foi divulgada.

A primeira conclusão a que chegamos é que os seus alertas, preocupações e avisos não encontram correspondência nos gastos da Presidência da República. No primeiro ano sobe a despesa, no segundo ano de mandato Cavaco descansou, para em 2008 e 2009 retomou os aumentos da despesa. Note-se que em 2009 desde o Rei de Espanha à Rainha de Inglaterra foram notícia pelos cortes radicais na despesas das respectivas coroas. Para 2011 prevê-se uma descida, mas nessa ocasião já Cavaco conta estar reeleito para o seu segundo mandato não precisando de fazer campanha eleitoral, mesmo assim a descida mantém a despesa acima dos níveis de 2008.

Entre 2004 (Jorge Sampaio) e 2009 (Cavaco Silva) a despesa da Presidência da República aumentou 28,7%! Todo este aumento para que Cavaco agora exiba como grande obra os avisos, os roteiros e os passeios municipais.

Recorde-se que quando Cavaco diz que vai limitar a diminuir a despesa da sua candidatura não está a poupar o dinheiro dos contribuintes, mas sim a poupar o trabalho de recolher mais donativos privados, o financiamento estatal será em função dos votos que vier a ter e certo da vitória esmagadora não corre o risco de lhe suceder o que fez a Freitas do Amaral, deixou-o sozinho a pagar as dívidas da campanha presidencial. Istoé, ao prometer não gastar muito na capanha Cavaco Silva não poupa um tostão aos contribuintes, mas sim aos seus amigos financiadores. Quem não terá gostado deste provincianismo económico de Cavaco Silva terão sido os publicitários pois segundo as convicções fisiocratas de Cavaco Silva a sua actividade não produz riqueza.

Para Cavaco a campanha tem duas fases, o mandato durante o qual fez campanha em favor de si próprio e a chatice da campanha eleitoral em que tem que aturar a concorrência. Depois de cinco anos de campanha pessoal com financiada pelo dinheiro dos contribuintes achou que deveria limitar ao mínimo a campanha eleitoral, condicionando as despesas dos outros candidatos.

O mesmo Cavaco que recusou uma pensão a Salgueiro Maia ao mesmo tempo que a dava a inspectores da PIDE, promoveu uma homenagem oportunista ao Capitão de Abril em que mais do que homenagear aquele que no passado desprezou tentou limpar uma nódoa no seu currículo. O mesmo Cavaco que foi acusado de insensibilidade social, que enfrentou manifestações de bandeiras negras da fome e que chefiou um governo durante o qual o país chegou a assistir a operações de ajuda alimentar (como a da seca no Alentejo), dedicou-se a promover roteiros da exclusão. O mesmo Cavaco cujos governos investiam nas regiões onde o PSD tinha votos condenando ao desprezo total regiões como o Alentejo, visitou muitos dos concelhos que lhe eram hostis em termos eleitorais. Cavaco usou os poderes presidenciais para fazer uma campanha eleitoral dissimulada ao longo dos últimos cinco anos e agora pressiona os seus concorrentes para se absterem de fazer campanha eleitoral.

Depois de usar a presidência numa campanha de cinco anos durante os quais aumentou signitivamente a despesa da Presidência da República Cavaco decide poupar o dinheiro aos seus financiadores e dar uma imagem de um homem que dá o exemplo. Exemplo tê-lo-ia dado sim, se tivesse reduzido a despesa da Presidência e usado o cargo mais em proveito do país.

É ridículo ver Cavaco Silva usar este tipo de argumentação quando se sabe que os contribuints enterraram mais de quatro mil milhõs de euros no banco dos cavaquistas, onde muitos dos seus ex-companheiros enriqueceram e onde ele próprio obteve lucros absurdos num negócio de acções muito estranho.