sexta-feira, novembro 05, 2010

Umas no cravo e outras na ferradura

FOTO JUMENTO

Pormenor de fachada de igreja de Tavira

IMAGENS DOS VISITANTES D'O JUMENTO

Ponte Vasco da Gama [de A. Cabral]

JUMENTO DO DIA

Pedro Silva Pereira

Começa a ser ridículo ver os que durante anos não tiveram o cuidado de não esbanjar exibirem-se agora como os campeões da poupança, ainda por cima quando exibem medidas sem quaisquer consequências do que a mediatização populista que representam.

Se o Estado precisa de um quadro e não pode empregar alguém que receba uma pensão vai acabar por contratar outra pessoa que não receba pensões, provavelmente até terá de lhe pagar mais. Isto é, o Estado poderá criar emprego mas não poupa nada. Isto não passa de um apelo ao voto da populaça que tende a ver tudo o que é ganhar mais do que 500 euros um abuso.

Note-se que ainda há poucas semanas a ministra das Finanças dizia que pretendia contratar médicos reformados. Mas o ministro Silva Pereira pode ficar descansado quanto às consequências do seu populismo, certamente não recorre ao SN quando ele ou os seus familiares estão doentes e se o faz está-se mesmo a ver que tem um tratamento vip, basta telefonar à sua colega ministra da Saúde.

«"Trata-se de uma medida de racionalização e de moralização da despesa pública. É sobretudo isso que está em causa", declarou Pedro Silva Pereira no final do Conselho de Ministros, ocasião em que também salientou que o executivo "já tinha sinalizado de pretender avançar neste domínio".

"A única questão sobre a qual havia ainda dúvida [de ordem constitucional] era saber se essa proibição de acumulação entrava em vigor imediatamente para as situações já constituídas ou se haveria algum deferimento em função do prazo das autorizações já concedidas no passado para acumulação", justificou o titular da pasta da Presidência.» [DN]

A SUBIDA DA POSIÇÃO DE PORTUGAL NO RANKING DO AMBIENTE DE NEGÓCIOS

Ontem foi mais um dia de orgulho nacional porque Portugal subiu no ranking do ambiente de negócios, aliás, desde há alguns anos a esta parte temos assistido a muitas subidas do género. O problema é que ao mesmo tempo que sobe nestes rankings o país vai-se afundando e os pobres são cada vez mais pobres, o suposto desenvolvimento tem expressão nos rankings mas não se sente nos indicadores económicos.

Estes rankings determinados com parâmetros conhecidos não favorecem a adopção de medidas que apenas visam manipular a posição do país?

O ORÁCULO DO COSTUME

«O que tem de pior o jornalismo português é o microfone estendido ao homem da casa ardida a quem se pergunta: "O que é que sente?"... Mas isso é coisa que o país pode ultrapassar, afinal jornalistas como os do microfone são minoria na profissão. Mau seria, porém, que do outro lado do microfone houvesse um país disposto a só responder a perguntas que puxam ao sentimento, mau seria que o país fosse só lamechice evasiva. Ora, país talvez não, mas há alguém poderoso que fala com a vacuidade do microfone "o--que-é-que-sente?". Estou a falar, claro, de Cavaco Silva, que escreveu no seu Twitter que vê "com muita apreensão o desprestígio da classe política e a impaciência com que os cidadãos assistem a alguns debates". Escreveu--o ao fim de uma tarde de debate no Parlamento - e com a indiscrição suficiente para que, mal acabada a sessão, logo aos jornais chegasse a frase. Sente "muita apreensão" diz Cavaco que sente, quando o que se lhe pede é que aja mais e guarde para si o que sente. Ou, se quiser dizer, que aponte as falhas concretas e os culpados reais. Que o mais importante dos portugueses na classe política - que foi para isso que os portugueses o escolheram - assinale "o desprestígio da classe política" é uma conversa pior que inútil, porque não resolve e só achincalha. Ser Presidente não é atirar-nos com as suas inquietações e voltar ao pedestal. » [DN]

Parecer:

Por Ferreira Fernandes.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

A ANEDOTA DO DIA

«A ministra da Saúde assegurou esta quinta-feira que a redução da transferência de verbas para o Serviço Nacional de Saúde (SNS) de 6,4 por cento, proposta no Orçamento do Estado para 2011, "não coloca em causa a qualidade dos cuidados a prestar".

"A redução da transferência para o SNS de 6,4 por cento, proposta no Orçamento do Estado para 2011, em relação à dotação inicialmente prevista no Orçamento de Estado para 2010 (...), não coloca em causa nem a quantidade nem a qualidade dos cuidados a prestar", afirmou Ana Jorge, citada pela agência Lusa na audição conjunta das Comissões Parlamentares do Orçamento e Finanças e da Saúde de discussão na especialidade do OE para 2011.» [CM]

Parecer:

Se a redução das verbas não põe em causa a qualidade dos serviços porque razão a ministra não reduziu a despesa à mais tempo?

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «»

SOBE, SOBE, JURO DA DÍVIDA SOBE

«Os juros exigidos pelos investidores no mercado secundário para comprar dívida pública portuguesa a dez anos sobem hoje pela sétima sessão consecutiva, e aproximam-se do seu máximo histórico.

Os investidores exigem agora 6,46 por cento para comprar títulos de dívida soberana com maturidade a dez anos, muito próximo do máximo histórico de 6,512 que atingiu a 28 de Setembro, véspera da entrega do Orçamento do Estado para 2011 na Assembleia da República.» [DN]

Parecer:

Quando o ministro das Finanças disse que quando os juros atingissem os 7,5% recorreria ao FMI deu uma preciosa indicação aos especuladores, estes sabem que podem forçar a subida dos juros até àquele montante o que permite aos bancos financiarem-se com taxas reduzidas para depois venderem o dinheiro ao governo português. Como é óbvio os especuladores sabem que com o recurso ao FMI os juros baixariam pois o governo teria acesso a financiamento com juros mais baixos.

Com estas subidas nas taxas de juro torna-se óbvio que os que consideram que o acordo orçamental era condição para acesso mais fácil ao financiamento externo, os especuladores sabem quanto podem cobrar antes de Portugal recorrer ao FMI.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Mandem-se os parabéns ao competentíssimo ministro das Finanças.»

PORTUGAL SOBE NO RANKING DO AMBIENTE DE NEGÓCIOS

«A síntese do relatório do Banco Mundial, ao qual a agência Lusa teve acesso, está disponível no site http://www.doingbusiness.org/.

No relatório, intitulado "Doing Business-2011", Portugal sobe 17 posições no ranking que avalia o ambiente de negócios, tendo passado do 48.º para o 31.º lugar, em 183 países.

Portugal surge também em posição acima de outros países do sul da Europa: Portugal é 31.º, enquanto a Espanha é 49.º, a Itália 80.º e a Grécia surge em 109.º".

"No conjunto das economias da OCDE, Portugal progride também do 22.º para o 19.º lugar, melhorando num ano 3 posições. No quadro da União Europeia, Portugal, que na edição do ano passado estava colocado em 18.º lugar, passa agora para 13.º, subindo cinco posições".» [DN]

Parecer:

O problema é que ao mesmo tempo afunda-se na economia.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se a Sócrates porque razão tanto sucesso não se faz sentir na vida dos portugueses, principalmente dos mais desfavorecidos.»

VLADIMIR FEDOKTO