Embebedados por telenovelas e futebóis a maioria dos portugueses aceitam as políticas de austeridade como uma inevitabilidade e avaliam a prestação dos governos fortemente influenciados por estratégias de comunicação. A realidade é filtra pela comunicação social, ela própria prisioneira de uma malha de interesses e para além dos muros dos ministérios e das grandes empresas impera a opacidade.
Mesmo quando se sabe alguma coisa através da comunicação social isso resulta mais provavelmente de manobras de poder em que os jornalistas estão envolvidos, é o que tem sucedido, por exemplo, com alguns casos judiciais. Uma boa parte dos jornalistas portugueses não passam de pequenos mercenários que ou se vendem a quem lhe paga mais ou lhes dá matéria para uma primeira página que promove as vendas, ou estão ao serviço de interesses económicos ou políticos. Passam dos jornais para os gabinetes governamentais ou para os gabinetes de comunicação da banca e vice-versa com a mesma facilidade com que se tira uma camisa.
Veja-se o exemplo do ministro das Finanças, já passou por muito competente graças a uma suposta consolidação orçamental que ninguém analisou ou questionou, ninguém se informou se foi trabalho dele ou o resultado do funcionamento corrente do fisco ou mesmo do empenho pessoal de alguns dirigentes do fisco, sem que tenha havido empenho do governante na gestão da máquina fiscal. O certo é que enquanto os erros de previsão se traduziam em bons resultados das receitas tudo correu bem e o ministro estava em alta.
Agora que tudo deu para o torto e além de terem de suportar as consequência da crise financeira os portugueses têm também de pagar uma factura por conta da incompetência de Teixeira dos Santos, este surge como o grande economista que corta a torto e a direito, propõe reformas em tudo quanto é canto, fundo o deve fundir e o que não deve fundir. Mas para serviu o estado de sítio em que tem vivido a Administração Pública com as suas reformas, o PRACE, a reforma do ensino, as sucessivas vagas de reformas da legislação penal ou a reforma do ensino? Isto é, um dos grandes responsáveis pelo falhanço de reformas que não soube conduzir quer agora aparecer como o grande reformador. Alguém devia dizer-lhe que a única boa reforma que o ministro pode promover é amais simples, basta apresentar um pedido de demissão.
Se os portugueses em vez de estarem interessados em saber qual a participante da Casa do Segredo andou com mais de duzentos soubessem muito do que se passa na casa dos segredos de Teixeira dos Santos é muito provável no seu lugar já tivesse colocado o cavalo da estátua do D. José. Nos gabinetes ministeriais impera a incompetência, a prepotência, a inexperiência, a falta de educação, o desrespeito pela Administração Pública, a arrogância. Gente sem currículo, sem alguma vês terem demonstrado competência, sem experiência de gestão governa o país cada vez mais à margem da realidade e numa lógica de sacar enquanto é tempo.
Se os portugueses soubessem muito do que se passa para além dos muros ministeriais seria muito difícil convencê-lo a suportar vagas sucessivas de austeridade com o argumento de que são uma consequência da crise.