Amanhã, Dia de Finados, seria uma boa ocasião para José Sócrates fazer aquilo que já devia ter feito, remodelar um governo que nasceu coxo e que tem demasiada gente fraca na sua equipa. É inaceitável, por exemplo, que à frente da reestruturação do Estado esteja um gaiato sem currículo a quem ninguém entregaria a gestão da mercearia e que a única coisa que disse merecedor de ficar na memória dos portugueses foi a célebre frase de que trucidaria quem se atravessasse nas suas reformas.
Usando a linguagem do secretário de Estado da Administração Pública está na hora de avaliar o desempenho dos governantes e trucidar os incompetentes, começando pelo próprio secretário de Estado. Como se pode justificar a manutenção no cargo de alguém que foi co-responsável pelo falhanço das reformas do Estado?
Não é aceitável que os portugueses tenham assistido atónitos a sucessivos falhanços nas previsões dos défices e que depois de lhes terem dito sucessivamente que tudo estava a correr bem são confrontados com o programa de austeridade mais duro de que têm memória. É verdade que a especulação nos mercados financeiros e a crise internacional forçaram as medidas, mas é mentira que o descontrolo evidente das contas públicas não foi obra das agências de rating. Quem responde por um aumento brutal dos impostos ou explica aos funcionários públicos o sacrifício de uma boa parte dos seus rendimentos? São os mesmos que demonstraram incompetência na gestão dos recursos públicos que agora lhes podem garantir que no próximo anos não serão de novo sacrificados.
Eu não posso confiar em governantes, como o da Saúde ou o da Economia, que não souberam controlar as contas dos seus ministérios, não aceito que o rebanho de gaiatos afilhados de Teixeira dos Santos continuem a gerir os recursos públicos depois da derrapagem brutal das contas do Estado e, pior ainda, da perda de credibilidade do próprio ministério das Finanças. É inaceitável que com o truque da manipulação das tabelas de retenção na fonte me obriguem a pagar antecipadamente o IRS para ajeitar as contas de 2010, quando os mesmos que recorrem a estes truques são os mesmos que para compensarem a sua incompetência decidiram aumentar impostos e cortar no rendimento dos portugueses.
Sócrates terá de escolher entre amigos fiéis e ministros competentes, se a margem de manobra com que ficou depois das eleições legislativas era pequena agora é mesmo diminuta, ou muda rapidamente o seu governo ou é inevitável que sejam os portugueses a terem de mudar de primeiro-ministro.