terça-feira, novembro 23, 2010

Tudo isto é ridículo

A forma como os diversos agentes políticos abordou a recente cimeira da NATO revela bem a miséria intelectual e política em que o país se tem vindo a afundar. Governantes, políticos da oposição, jornalistas e comentadores avulso deram uma prova da sua pobreza intelectual, que em grande medida explica o lodaçal em que Portugal se vai afundando.

A nossa direita que tanto gosta de se afirmar no domínio da segurança e defensora da nossa vocação atlântica tudo fez para desvalorizar a realização da cimeira, sem mais argumentos recorreu a uma das habituais diatribes intelectuais de Vasco Pulido Valente e reduziu o papel do país a mestre de cerimónias. Muitos dos que se sentiram muito machos por termos servido umas bicas a Bush na base das Lages, tentam agora desvalorizar o papel do governo na cimeira e dedicam-se a brincar dizendo que Sócrates tem muito jeito para promover recepções. Já tinham usado esse argumento em relação ao Tratado de Lisboa, fazem-no agora em relação à Nato. Compreende-se, o último êxito diplomático da direita tinha sido um lugar no Conselho de Segurança da ONU, algo que agora ninguém valorizou.

Se do lado da direita assistimos a uma tentativa sistemática de desvalorizar tudo, não se hesitando em desvalorizar o próprio país se isso ajudar a derrubar Sócrates, do lado do governo também foram evidentes os tiques provincianos, com um empolgamento exagerado do papel de Portugal nas manobras da NATO. Desde Cavaco Silva a Rui Pereira assistimos a um aproveitamento exagerado do faço de se mandarem mais uma dúzia de militares para o Afeganistão, como se isso fosse a solução para os problemas daquele país. Quem viu as conferências de imprensa dos ministros da Administração Interna e da Defesa no decurso da cimeira pode ter chegado a pensar que os líderes do mundo ocidental tinam vindo a Portugal suplicar-nos para que enviássemos mais uma dúzia de sargentos para o Afeganistão.

Também foi ridículo o exagero das medidas de segurança, o seu empolamento serviu, por exemplo, para que o ministro da Administração puxasse a brasa à sua sardinha e convencesse o governo a abrir os cordões à bola para comprar viaturas indispensáveis para combater grandes manifestações de anarquistas que, afinal, não ocorreram. Azar dos azares, as viaturas nem chegaram a tempo, nem se deu por falta deles.