Quando a onda de choque da crise do sub-prime chegou à economia europeia o Conselho europeu foi tolerante em relação aos défices públicos, os alemães apelaram aos governos europeus que evitassem medidas recessiva e todos aplaudiram os governos que tiveram que intervir na banca evitando que as situações de falência se generalizassem ao sistema financeiro do euro. Se os países tivessem mantido os défices nos níveis estabelecidos e não tivessem acudido aos bancos em dificuldades neste momento os problemas económicos não se circunscreveriam a algumas economia mas sim a todas as economia da EU e os custos que a Europa teria de suportar seriam infinitamente superiores aos que até agora foram assumidos, ainda por cima com uma taxa de juro de 5% a suportar pelas economias que estão a recorrer à “solidariedade” comunitária.
Primeiro apelaram ao despesismo e ao intervencionismo para poupar à crise as grandes economias europeias, agora exigem aos que mais sofreram com a crise que adoptem medidas de austeridade duras para que as economias dos países ricos continuem a prosperar sem percalços. Mas como em nome da integração económica os países em dificuldades estão impedidos de adoptar medidas monetárias ou de controlo do consumo resta-lhes proteger os mais ricos empobrecendo artificialmente os seus cidadãos.
Nunca ouvi um responsável governamental alemão criticar os portugueses por terem comprado submarinos caros ou por terem transformado o país num imenso parte de estacionamento de carros de marcas alemãs, dizem-nos agora que devemos cortar nos rendimentos dos mais vulneráveis se quisermos continuar a partilhar um euro que cada vez mais é o marco.
A Europa adoptou um processo de integração monetária cujas consequências ninguém tentou prever e cujos grandes benefícios ninguém avalia, a troco da participação os países com economia mais vulneráveis abdicaram de instrumentos de política económica fundamentais para serem capazes de enfrentar situações de crise, designadamente, as restrições às importações e a desvalorização da moeda.
Se o país importa mais do que pode o lógico seria restringir as importações, designadamente as de bens de luxo que no caso da economia portuguesa se traduzem fundamentalmente em viaturas de grande cilindrada importadas da Alemanha. Mas a livre circulação de mercadorias inibe-nos de pôr fim à sangria de riqueza e a única forma de restringir o consumo é com medidas de austeridades que atingem apenas a classe média baixa e os mais pobres. Em resultado disso aumentam as assimetrias na distribuição do rendimento e aumentam as importações de bens de luxo pelos que mais enriquecem.
As desvalorizações da moeda atingiam de forma igual o rendimento de todos os portugueses, todos ficavam um pouco mais pobres numa economia onde uma parte significativa do que se ganha é consumida em bens importados. Sem este tipo de instrumentos restam medidas de austeridade selectivas que atingem de forma desigual os portugueses, não se aumentam os impostos aos ricos porque fogem com o dinheiro, restam os outros e de preferência um grupo que os políticos tenham, de forma maliciosa, elegido como os responsáveis pelos males resultantes da sua incompetência.
A economia do euro assenta no fim da solidariedade europeia e é um absurdo que haja uma zona monetária com tantas balanças comerciais e dívidas públicas quanto as economia participantes. A Europa criou um absurdo, uma moeda para dezasseis economias diferentes, com contas diferentes e políticas diferentes, onde se chega ao ridículo de uns fazerem intervenções que estimulam a especulação em torno da dívida dos outros.