Tudo no nosso país está especializado no consumo, os empresários bem sucedidos são os que têm empresas que vendem crédito ou bens de consumo, os programas eleitorais são programas de consumo, os debates orçamentais centram-se no consumo. Toda a sociedade está especializada no aumento do consumo, a própria democracia é alimentada por uma classe política mais preocupada em ter sucesso e aumentar o seu padrão de consumo do que com os problemas do país, é uma democracia do Audi, do Mercedes e do BMW.
Mesmo quando o grande problema do país é não gerar riqueza suficiente para manter os padrões de consumo a que se habituou não se ouve uma única voz a questionar a economia portuguesa na perspectiva da produção. Não se ouve o ministro das Finanças falar da eficiência do Estado, em vez disso assistimos à criação de cargos e organismos sem critério e agora promove-se uma vaga populista e destroem-se serviços públicos importantes para servirem de exemplo de um falso rigor na gestão do Estado. Temos um ministro da Economia a quem ninguém ouvir falar daquilo que é ministro, da economia. Temos um ministro da Agricultura que ninguém viu. Temos um ministro das Obras Públicas que deveria designar-se ministro do TGV ou, melhor, ministro do Poceirão.
Do lado da oposição o cenário é o mesmo, o que preocupa Passos Coelho não são as exportações, são as empresas privadas do sector da saúde, é a partilha do mercado da saúde, como se o futuro da economia dependesse do sucesso dos privados do sector.
O país andou bêbado com o consumo e devido aos excessos que cometeu confronta-se agora com uma ressaca resultante da falta de recursos para manter os padrões de consumo a que se habituou. Mas, no meio da desorientação que se instalou no país ninguém questiona como produzir mais riqueza, quando esse é o grande desafio que enfrentamos.
Precisamos de um ministro das Finanças rigoroso, com uma equipa que pense a Administração Pública segundo critérios de eficiência, com uma política fiscal que considere as empresas como produtoras de riqueza e não como vacas para ordenha. Precisamos de um ministro da Economia que conheça as empresas e que consiga levar o governo e os parceiros sociais a promover condições mais favoráveis ao sucesso empresarial. Precisamos de um ministro das Obras Públicas que seja capaz de gastar o pouco que tem em obras que minimizem os custos da actividade produtiva e ajudem à competitividade das empresas.
Precisamos também de opinion makers que saibam algo mais do que promover a intriga ou ler jornais estrangeiros e enciclopédias, de jornalistas que sejam capazes de centrar o debate público nos seus reais problemas e não na intriga de corredor.
Precisamos de produzir mais, de criar mais empresas, de promover as boas iniciativas empresariais, de deixar de explorar as empresas, de colocar o Estado ao serviço da economia. Precisamos de produzir.