sábado, novembro 27, 2010

Umas no cravo e outras na ferradura

FOTO JUMENTO

Barbearia de Lisboa

IMAGENS DOS VISITANTES D'O JUMENTO

Lagos [A. Cabral]

JUMENTO DO DIA

José Sócrates

É uma ironia do destino, depois de o PS ter feito acusado o PSD de querer aprovar o orçamento a troco da sua revisão constitucional, o debate orçamental acaba com um desorientado ministro das Finanças a defender aquilo que só será viável se for aprovado o que Pedro Passos Coelho propõe em matéria de legislação laboral.

Sócrates é mais soft e fala em melhorias da legislação labora, melhorias que só podem servir para que haja uma redução de salários no sector privado, algo sugerido há poucos dias por Teixeira dos Santos que exibiu os cortes nos vencimentos de alguns funcionários como um exemplo para o sector privado.

Resta agora esperar que Sócrates prossiga com a sua política de copy/paste de tudo o que de mau se vai adoptando noutros países e defenda o despedimento de funcionários públicos. É uma questão de tempo, em nome dos interesses do país Sócrates fará o que for necessário para salvar o seu governo, mantendo uma equipa onde sobram ministros incompetentes.

«O primeiro-ministro afirmou esta sexta-feira que pretende discutir com os parceiros sociais "melhorias" nas condições do mercado de trabalho e advertiu que em 2011 não há "a mínima alternativa" ao "esforço colectivo" para Portugal enfrentar a crise.» [CM]

UM MAU ORÇAMENTO

O orçamento para 2011 é mau por muitos motivos, desde logo porque assenta em perspectivas económicas duvidosas, mas também porque as medidas de austeridade foram desenhadas mais com objectivos eleitorais do que a pensar no país, porque os cortes na despesa ficam aquém do desejável.

O governo poderia ter cortado os vencimentos de funcionários públicos e imposto um corte no financiamento das empresas públicas na percentagem aplicada aos vencimentos da Função Pública, poderia ter reduzido o número de funcionários acabando com contratos a prazo, incluindo os de muitos assessores do governo, poderia ter fixado uma taxa única no corte dos vencimentos de todos os funcionários, poderia ter aumentado todos os impostos, poderia ter tributado as operações bolsitas e as transacções financeiras com as off-shores. Desta forma teria promovido uma distribuição mais equitativa dos sacrifícios e conseguido um corte maior na despesa e um aumento das receitas fiscais.

Mas o governo pensou mais na sua agenda eleitoral e optou por concentrar os sacrifícios naqueles que muito provavelmente não votariam PS ao mesmo tempo que mantém a ilusão do crescimento económico. Apostou em eleições no próximo ano e tentou minimizar os prejuízos eleitorais resultantes da adopção de uma política de austeridade.

Mas é muito provável que Sócrates e o PS venham a pagar caro esta política orçamental manhosa, a especulação nos mercados continua, a situação económica da Europa pode ser penalizada pela incerteza nos mercados e o impacto sobre a economia nacional poderá ser maior do que o esperado pois o país não atrairá investimento estrangeiro enquanto a dívida soberana for alvo dos especuladores.

O PS arrisca-se agora a uma derrota eleitoral histórica e, pior do que isso, a perder uma boa parte da sua base social de apoio, os quadros da Administração Pública.

BOAS INTENÇÕES

«Esta foi a semana em que os irlandeses explicaram que não eram gregos, que os portugueses explicaram que não eram irlandeses, que os espanhóis proclamaram que não eram portugueses e que os italianos tentaram que ninguém lhes perguntasse se não eram espanhóis!
A semana acabou com a Irlanda a recorrer ao Fundo Europeu de Estabilização Financeira e com a chanceler alemã a declarar o euro em sério risco face à hipótese de novos pedidos do mesmo tipo!
Choca que ninguém tenha lembrado que somos todos europeus e que só por essa via é possível evitar o terrível "efeito dominó" que coloca agora as duas economias ibéricas na primeira linha da mira dos famigerados mercados financeiros!»
[DN]

Parecer:

Por António Vitorino.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

A GRANDE MENTIRA

«Em tempos, greves gerais e manifestações derrubaram governos. Hoje, são breves momentos de televisão que se dissipam na notícia seguinte. O efeito político é diminuto. O efeito social nulo.

Isto sucede por duas razões. O aumento, a velocidade e a dispersão da informação tendem a relativizar e a fragmentar os eventos. A perceção do que acontece só muito vagamente atende a factos específicos, tornados demasiado segmentados e individualizados. Numa era em que as notícias eram escassas, uma greve geral abalava a sociedade e os poderes. Mas hoje não é assim. Eventualmente, quem participa numa manifestação fica com a sensação de que esteve lá "toda a gente" e de que o ato foi muito importante. Mas, para o resto da sociedade, trata-se simplesmente de mais um evento a juntar a muitos outros que brotam a cada hora. A relativização é inevitável.

Mas a principal razão da desvalorização de greves e manifestações prende-se com os objetivos dos próprios promotores destas iniciativas. Sindicalismo e partidos entendem estas ações como um dos argumentos, entre outros, de uma negociação em curso ou pretendida. Ou seja, já não há nada de revolucionário numa greve geral. Ninguém quer deitar abaixo o governo ou sequer abalar minimamente o poder. Tudo o que se pretende é conquistar um fugaz tempo de antena.

Daí que a potência subversiva dos atos tenha sido substituída pelo jogo de palavras e, sobretudo, por uma evidente manipulação dos factos. A greve geral não foi geral, mas, como já é hábito, somente de parte da função pública. Essa parte, transportes, escolas e hospitais, pela perturbação que provocam criam a ilusão da grande adesão. A função pública é hoje a carne para canhão dos sindicatos. O destino é a morte certa.

Os sindicatos e os partidos que os apoiam tornaram-se mestres neste tipo de imposturas. Com uma força social e política diminuta servem-se destas irrisórias manobras mediáticas para iludirem o seu desgaste e arcaísmo.

O empolamento sistemático dos números, de adesão às greves ou de manifestantes, é uma componente essencial dessas manobras. É sabido como a contabilidade varia muito conforme a origem da fonte. Sindicatos inflacionam os números, enquanto governos os minimizam. A habitual guerra dos números, de um lado e doutro, não tem qualquer fundamento estatístico, servindo simplesmente para valorizar ou desvalorizar. E, há que referir, também nunca ninguém se importou com isso.

Até que apareceu por cá um professor de jornalismo americano, de seu nome Steve Doig, disposto a clarificar o assunto. Munido dalguma tecnologia e sobretudo de uma atitude em vias de extinção, a do jornalismo como relato (o mais próximo possível) da verdade, foi para a rua contar manifestantes de forma científica. Contagem mecânica ao nível do solo e contagem digital com a ajuda de um computador e imagens aéreas. Nada de muito complicado mas bastante rigoroso.

O resultado surpreendeu muita gente e irritou os sindicatos e os partidos do costume. A manifestação da função pública no início de Novembro não contou com mais de 10.000 pessoas, enquanto a manifestação contra a NATO teve menos de 8.000. Promotores e maioria da comunicação social falaram então de 100.000 e 30.000 respetivamente.

Uma tamanha discrepância não deriva de um pequeno erro de cálculo. Estamos perante uma fraude premeditada e inqualificável. A qual visa os promotores mas também um jornalismo preguiçoso que se satisfaz com a reprodução em vez de questionar e buscar confirmação independente.

Uma coisa é certa. Após a passagem por Portugal de Steve Doig, a contagem do número de manifestantes ou de adesão às greves não poderá mais ser feita da forma displicente habitual. Mas acima de tudo, esta questão vem, mais uma vez, demonstrar a decadência do sindicalismo e das formas de protesto clássicas, num tempo de acelerada mutação das relações sociais e da emergência de redes e interações que não se reconhecem já nas velhas divisões de classe.

Basta pensar como na recordação televisiva da última greve geral de 1988 apareceu o mesmíssimo Carvalho da Silva, embora mais novo e mais mal vestido, a dizer exatamente o mesmo que disse esta semana. Em 22 anos nada mudou para esta gente? » [Jornal de Negócios]

Autor:

Leonel Moura.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

GOVERNANTE DEFENDE PAGAMENTO DOS TRANSPORTES POR QUEM OS USA

«O secretário de Estado dos Transportes afirmou hoje ser “urgente encontrar outras formas de financiamento” para o transporte público, além do Orçamento do Estado, defendendo o co-financiamento por parte de quem dele beneficia.

“Não devíamos pôr a financiar o sistema de transportes quem dos transportes beneficia?”, questionou Carlos Correia da Fonseca na abertura do III Fórum da Associação Nacional de Transportes Rodoviários de Pesados de Passageiros (ANTROP), no Porto.» [CM]

Parecer:

Só nos transportes?

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se a Sócrates até quando acha que o Estado vai ter dinheiro para pagar tudo.»

A NOVIDDADE DO DIA

«O patrão da Sonae, Belmiro de Azevedo, escreveu um artigo de apoio ao actual chefe de Estado, Cavaco Silva, nas próximas eleições presidenciais.» [CM]

Parecer:

Estava convencido de que o Belmiro ia apoiar o Alegre do Loução.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Dê-se a merecida gargalhada.»

TEIXEIRA DOS SANTOS QUER LIBERALIZAÇÃO DAS NORMAS LABORAIS

«O ministro de Estado e das Finanças advertiu hoje que Portugal, a par do processo de consolidação orçamental, terá de "aprofundar" reformas no mercado de trabalho que promovam um ajustamento às actuais condições económicas.

A posição de Teixeira dos Santos foi assumida na sessão de encerramento do debate do Orçamento do Estado para 2001, num discurso em que defendeu a ideia de que Portugal só pode ter condições de competitividade se aprofundar reformas em sectores como a educação, mercados e trabalho.

Ainda esta madrugada, no final da reunião do Grupo Parlamentar do PS, o líder da bancada socialista, Francisco Assis, rejeitou em absoluto a hipótese de haver esta legislatura alterações ao Código de Trabalho, tal como recomendam instituições internacionais como o Fundo Monetário Internacional (FMI). Perante os jornalistas, Francisco Assis disse mesmo que o FMI "não manda em Portugal".» [DN]

Parecer:

O ministro quer salvar-se com crescimento a qualquer custo, pouco se importando com o que defendeu até cair em desgraça.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Lamente-se o espectáculo triste.»

MAIS UM MONO

«O aeroporto de Beja, cuja construção foi adjudicada por cerca de 24,235 milhões de euros, acabou por custar 10% mais, devido a revisões de preços, erros e omissões de projecto e trabalhos a mais, num total de 26,582 milhões de euros. Além disso acumulou, entre 2001 e 2009, quatro milhões de euros de "custos de estrutura/funcionamento" devido ao sistemático adiamento da inauguração da infra-estrutura.

A conclusão é de uma auditoria do Tribunal de Contas que acrescenta que, "para a operacionalização da infra-estrutura e para dar cobertura a défices de exploração" da Empresa de Desenvolvimento do Aeroporto de Beja (EDAB), é ainda necessário gastar "cerca de 39 milhões de euros". Todos estes valores não incluem IVA.» [DN]

Parecer:

Para que servirá um aeroporto em Beja?

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se ao ministro da Economia.»

AS ATENÇÕES VOLTAM-SE PARA A ESPANHA

«O economista Michael McDonough, que escreve para a “Bloomberg Brief: Economics”, é peremptório: tudo indica que Espanha seja, actualmente, mais arriscada do que Portugal.

Segundo os seus cálculos, os problemas de Espanha poderão ser uma praga no futuro próximo e pesar fortemente nos mercados internacionais, “dado que o seu PIB representa 12% da economia da Zona Euro, mais do que o PIB acumulado da Irlanda, Grécia e Portugal”.» [Jornal de Negócios]

Parecer:

Já faltou mais para chegar a vez da Itália, talvez nessa altura a Europa decida acordar.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Aguarde-se.»

O 'CONTRA-INFORMAÇÃO' ACABOU

«O “Contra-Informação”, programa de sátira política exibido há quase 15 anos na televisão pública, acabou. A RTP não renovou para o próximo ano o contrato com a Mandala, produtora do programa, e os bonecos de “Acabado da Silva” e “José Trocas-te” vão deixar de aparecer na estação pública.» [Público]

Parecer:

Não resistiu à concorrência da informação.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Lamente-se.»

TAMTAM TAMTAM