quinta-feira, novembro 04, 2010

Umas no cravo e outras na ferradura

FOTO JUMENTO

Convento de Cristo, Tomar

IMAGENS DOS VISITANTES D'O JUMENTO

Alcochete [de A. Cabral]

JUMENTO DO DIA

Teixeira dos Santos

Teixeira dos Santos tem sido nomeado tantas vezes o "Jumento do Dia" que começa a parecer uma perseguição ao ministro, mas com o ridículo a chegar ao ponto de o OE ter uma errata que "vale" 800 milhões de euros a escolha é inevitável. com este ministro das Finanças cada cavadela é uma minhoca.

Começo a acreditar que no meio de tanto jota inexperiente e incompetente com que o ministro encheu os gabinetes do Terreiro do Paço é muito provável que tenha contratado a loura das anedotas para lhe fazer as contas. A verdade é que as previsões e as contas do ministro são cada vez mais parecidas com as vulgares anedotas da loura.

«O ministro das Finanças começou o segundo dia do debate do Orçamento do Estado na posição fragilizada de explicar a 'errata' enviada à Comissão de Orçamento e Finanças, no valor aproximado de 800 milhões. Teixeira dos Santos assegurou que as alterações não implicam mudanças nos mapas obrigatórios a ser votados pelo Parlamento.

Os deputados mostram estranheza pelo facto de se corrigir em igual montante receitas e despesas, mantendo-se a previsão de défice nos 4,6 %. Teixeira dos Santos frisou que a imparidade de cerca de 800 milhões se explica pela passagem da óptica de contabilidade nacional para contabilidade pública das verbas da Caixa Geral de Aposentações. » [DN]

O NAMORO DA PROCURADORA

O namoro entre uma procurador do Ministério Público e um perito que interveio no caso dos submarinos tem merecido grande destaque na comunicação social, que deixa no ar a insinuação de que a procuradora poderá ter influenciado o processo. Num país onde muitas paixões são alimentadas à base da famosa pastilha azul parece que as procuradoras devem ser virgens e comportar-se como sacerdotisas.

Por mim prefiro que as nossas procuradoras e os nossos procuradores tenham a capacidade de se apaixonarem, fico mais tranquilo se as pessoas que fazem a nossa justiça sejam normais, felizes e realizadas do que se forem anormais complexados.

CORRIDA DE OBSTÁCULOS

«Os erros cometidos ao longo dos últimos anos têm hoje efeitos bem visíveis para todos. É certo que, quando eu e muitos outros colegas alertamos para as suas consequências, fomos olimpicamente ignorados pelos decisores públicos e por alguns dos nossos maiores empresários, então obcecados com a verdadeira “corrida ao ouro”, que era o acesso ao rateio das gigantescas rendas económicas proporcionadas pelas parcerias (quase) sem risco para o concessionário e financiadores no sector dos transportes. O último destes tesouros para os promotores privados à custa dos contribuintes actuais e futuros foi atribuído no dia exacto em que o dr. Passos Coelho se deslocou a São Bento para firmar o acordo que ficou para a posteridade conhecido como “PEC2”.

Agora resta a factura, bem cara por sinal. Na verdade, porque a estes erros se juntou uma política orçamental que pretendeu ser expansionista mas que, de facto, foi apenas descontrolada e perdulária, o seu efeito será claramente magnificado. Na verdade, para além da dívida gerada para satisfação de empreiteiros e financeiros de vistas curtas, o Estado aumentou a sua dívida directa (como a anterior, também esta será paga pelos esbulhados contribuintes, actuais e futuros) em 40 000 milhões de euros em apenas 3 anos (2009, 2010 e 2011).

Feitas as contas (e usando apenas documentos produzidos pelo governo), é fácil ver que nos próximos 3 anos, isto é, em 2011, 2012 e 2013, o Estado português terá de ser capaz de cativar investidores que tomem sucessivas emissões de dívida pública, que totalizarão mais de 60.000 milhões de euros. O essencial deste esforço de colocação de dívida acontecerá no próximo ano (uma boa parte logo no primeiro semestre) no montante astronómico de 40.000 milhões de euros de dívida pública (entre renovações e novas emissões). Finalmente, e porque Portugal continuará a manter um muito significativo défice externo, estimo que o sistema financeiro terá de, cumulativamente, cativar o interesse de investidores internacionais para novos empréstimos entre 15 000 e 18 000 milhões de euros (se se assumir que não haverá novas PPP). Mesmo com o aumento da poupança nacional, a nossa dívida externa irá certamente aumentar em mais algumas dezenas de milhar de milhão de euros.

Como a capacidade de execução orçamental do governo é o que é, a probabilidade de não se conseguir realizar este programa de acréscimo de endividamento externo é elevadíssima. Um governo que em 4 meses deixou derrapar a despesa pública em quase 3 000 milhões de euros não só não é credível como, muito provavelmente, não é capaz de levar a bom termo a corrida de obstáculos em que entrou.

De facto, Portugal vai entrar nesta corrida, com o seu principal corredor, o governo, seriamente lesionado e já em verdadeiro desequilíbrio. A hipótese de não chegar ao fim, superando todos os obstáculos que atraiu por erro e incúria, é hoje dominante. Infelizmente para todos, o nosso pior pesadelo, a bancarrota Sócrates, só não acontecerá por milagre.»
[Sol via "Albergue Espanhol"]

Parecer:

Por António Nogueira Leite.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

A VELHA E A SABEDORIA

«As televisões procuravam saber o que as pessoas pensavam dos apertões que o Orçamento previa e propunha. A resignação ou a indiferença resignada, como queiram, pareceu-me ser a nota dominante. Eis que a câmara fixa a velha. A velha semelhava uma personagem de Raul Brandão: só osso, susto e dor. Transfigurada de ventos, de afrontas, de insultos. A pergunta da jornalista sobressaltou-a. Talvez a entendesse como estranha e excessiva. Olhou a rapariga, ergueu o dorso curvado, recuperada uma antiga dignidade, e respondeu: "O que eu queria é que eles me deixassem em paz."

Eles. A abstracta identidade dos que nos mandam, nos julgam, nos submetem, nos mentem, e reescrevem, permanentemente, o nosso destino. Aquela velha seca e altiva, despertada, por uma pergunta inofensiva, para a responsabilidade de ter opinião, era a representação de uma nobreza e de uma decência que temos vindo, lentamente, a perder.

A velha não aceitava; a velha não admitia que fizessem dela o troço reles e desprezível de um aglomerado amorfo, ao qual tudo se faz e tudo se aplica. "O que eu queria é que me deixassem em paz." Mas, como a não deixavam em paz, ela reagia impelida pela raiva da impotência e pelo protesto que a debilidade não conseguiu aniquilar.

A raiva é surda e silenciosa. Acumula-se com as decepções, com a soma dos infortúnios, com a desatenção e a incúria que nos votam. Naquela expressão ("eles") tão difusa quanto marcada pelo ferrete da ignomínia habitava o desprezo que ninguém resgata. Culpados de tudo, sobretudo de não gostarem de nós, de nos omitirem, de cancelarem aquela velha ensombrecida pela idade, pelo enigma e pelo desalento, "eles" cercam-nos, assassinam a parte mais asseada das nossas vidas, destroem-nos como relação social.

A dramática frase da velha comportava, em si, os indeterminados sinais que favorecem a ruptura de uns com os outros. A legitimidade das normas foi substituída por uma ideologia que estimula o domínio do dinheiro sobre os valores. A democracia, afinal, só existe, privadamente, para uma dúzia de famílias que manda em Portugal e dispõe, como cães-de-fila, de pequenos servos para todo o serviço.

"Eles" não passam de paus mandados, os quais sustentam o dispositivo de poder que mantém a casta, a casa e o sangue. É instrutivo seguir a trajectória de quase todos os antigos dirigentes políticos, depois do "cumprimento" de funções. A especificidade da sociedade democrática foi, simplesmente, absorvida pela vitória do "mercado" com os seus guardiães implacáveis e os pequenos ou grandes ajustes que o sistema exige.

A frase da velha é, também, uma forma de resistência. Resistência à infâmia com que "eles" nos pretendem envolver.» [DN]

Parecer:

Por Baptista-Bastos.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

CANDIDATA MORTA VENCE ELEIÇÕES NA CALIFÓRNIA

«A candidata democrata Jenny Oropeza foi reeleita na terça-feira para o senado estadual da Califórnia apesar de ter morrido duas semanas antes, pelo que será de imediato necessário convocar um novo acto eleitoral.» [CM]

CASAL DE 60 ANOS "APANHADO" JUNTO A UM HOSPITAL

«Um casal divorciado foi multado depois de ter sido apanhado a fazer sexo num carro junto ao hospital em Kilmarnock, no Reino Unido. Pierre Theodas, de 60 anos, e sua ex, Linda, de 59, foram presos após a denuncia de um motorista.» [CM]

MAIS UMA PROSTITUTA NA COLECÇÃO DE BERLUSCONI

«O primeiro-ministro italiano, Sílvio Berlusconi viu-se de novo envolvido num escândalo sexual, depois de mais uma prostituta, Nadia Macre, ter declarado em tribunal, em Palermo (Sicília), que manteve relações sexuais por duas vezes com ‘Il Cavaliere’ por dez mil euros.» [CM]

TEREI BEBIDO DEMAIS?

«O primeiro ministro fez hoje rasgados elogios ao discurso proferido pela ex-líder social democrata Manuela Ferreira Leite, alegando que "finalmente" foi ouvido porque é importante executar o Orçamento sem ameaças de crises políticas do PSD.

"Vejo com satisfação que o discurso de Manuela Ferreira Leite significou uma mudança de orientação que eu saúdo, que registo e que me agrada", declarou José Sócrates aos jornalistas no final do período da manhã do segundo dia de debate do Orçamento do Estado para 2011.» [DN]

Parecer:

Sócrates bem pode convidar Manuela Ferreira Leite para substituir Teixeira dos Santos, pelo menos sempre acertava nas previsões.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Faça-se a proposta.»

TEIXEIRA DOS SANTOS PRESSIONA A PT

«"Vieram hoje a público notícias dando conta de que é intenção da PT proceder ao pagamento de um dividendo extraordinário aos seus accionistas e tendo presente as alterações que constam do Orçamento do Estado para 2011, proceder ao pagamento desse dividendo ou de parte desse dividendo em 2010, poderá dar a ideia de que a PT pretende com isso estar a fugir ao pagamento do imposto que resultará dessas alterações", afirmou Teixeira dos Santos, em declarações à Agência Lusa.

O ministro explicou que a diferença entre esse pagamento acontecer ainda este ano ou no próximo, é que em 2010 a empresa beneficiaria de um conjunto de benefícios fiscais e isenções que em 2011, com o Orçamento aprovado, deixariam de existir.» [DN]

Parecer:

Trata-se de uma pressão ilegítima.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Recorde-se ao ministro que vive numa democracia e em economia de mercado e não pode fazer a todos os que faz aos funcionários públicos.»

PRESIDENTE DA MOTA-ENGIL CONSTITUÍDO ARGUIDO NA OPERAÇÃO FURACÃO

«O presidente do grupo Mota-Engil foi constituído arguido no âmbito da Operação Furacão. A notícia foi já confirmada pelo advogado do empresário.

"Evidentemente que [António Mota] teria de ser constituído arguido para poder prestar declarações em representação da empresa no processo [Operação Furacão], que está no fim e é para ser encerrado", afirmou Daniel Proença de Carvalho, à saída do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), em Lisboa.» [i]

Parecer:

Começa a ser difícil não encontrar um empresário que não tenha molhado o bico.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Quem não está envolvido que meta o dedo no ar.»

DESEMPREGO VOLTA A SUBIR

«A taxa de desemprego em Portugal está a subir e volta a penalizar sobretudo os trabalhadores mais jovens. O pior é que em 2011 haverá nova recessão económica, confirmaram já vários observadores, como assumiu ontem o presidente do BES, Ricardo Salgado.

De acordo com o Eurostat, o desemprego atingiu em Setembro 19,9% dos jovens com menos de 25 anos em condições para trabalhar, interrompendo assim de forma inequívoca a tendência de melhoria que se verificava desde o início do ano. Na taxa de desemprego total está a acontecer algo semelhante: desde Março que dava sinais de algum alívio, mas em Setembro voltou a subir até aos 10,6%. Segundo a maioria dos especialistas, o pior está para vir. Em 2011 a recessão é cada vez mais garantida: o governo ainda não a admite oficialmente, embora já conte com ela para as suas previsões de cobrança de impostos.» [i]

Parecer:

Já se faz sentir o tal crescimento económico de 0,2%.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Espere-se pelo pior.»

A ANEDOTA DO DIA

«O Presidente da República defendeu hoje que a preocupação dominante no debate na especialidade do Orçamento para 2011 deverá ser a "repartição justa dos sacrifícios", insistindo na necessidade de se explicar aos portugueses as medidas propostas. "Até este momento só ocorreu a votação na generalidade, o debate parlamentar sobre o Orçamento para 2011 ainda não acabou, passa agora para a especialidade e todos esperamos que a preocupação dominante esteja na repartição justa dos sacrifícios pedidos aos portugueses," sublinhou.» [i]

Parecer:

É um belo apelo que só foi feito depois do OE aprovado.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Faça-se o merecido sorriso amarelo porque gozar com os portugueses não é motivo para gargalhadas.»

ALEKSANDRA