sábado, novembro 20, 2010

É a economia e a política, estúpidos

Quando a PT decidiu pagar chorudos dividendos em 2010 poupando os seus accionistas aos impostos previstos no OE para 2011 Teixeira dos Santos ficou muito incomodado, algumas vozes oficiosas do PS, designadamente, na blogosfera apontam o dedo à imoralidade da PT e dos que se lhe seguiram como a Jerónimo Martins, e Pedro Passos Coelho veio em defesa da legitimidade da decisão.

As regras da economia deram lugar a um discurso moral, de um lado os que acham que essas empresas deveriam ter pedido ao governo um aumento ainda maior dos impostos e feito questão de adiar os dividendos por forma a maximizar os impostos, do outro os moralistas do mercado que só são defensores dos mercados quando isso serve o interesse daqueles que mais benefícios obtêm desse mesmo mercado.
Nesta circunstâncias costuma-se usar

uma frase já esbatida, “é a economia estúpido”, a que agora acrescentaria “é a política idiota”. Tanto quando sei os problemas das contas do Estado não são recentes e se Teixeira dos Santos só agora descobriu que há rendimentos sagrados cujo estatuto divino os têm isentado do pagamento de impostos é porque tem andado a dormir. Se Pedro Passos Coelho acha imoral qualquer pressão sobre rendimentos que muito beneficiaram da crise económica e agora se escapam às consequências dessa mesma crise, ao mesmo tempo que não diz uma palavra aos cortes no rendimento das 300.000 famílias que Teixeira dos Santos seleccionou para serem sacarificadas em nome da consolidação orçamental é, no mínimo, hipócrita.

Se Teixeira dos Santos ficou tão incomodado porque a PT antecipou o pagamento de dividendos porque não pede aos portugueses que não antecipem compras de grande valor para evitar o adicional de 2% de iva que vão ter de suportar em 2010? A verdade é que esta antecipação das compras, designadamente, de bens de luxo como automóveis, trará um aumento significativo da receita fiscal nos finais de 2010. Ma neste caso Teixeira dos Santos acha que o comportamento de antecipação dos consumidores, que resultam numa transferência de receitas fiscais de 2011 para 2010, já lhe convém, ajeita o défice de 2010 e permite-lhe recuperar a sua própria imagem de ministro incompetente, exibindo o seu sucesso na arrecadação de receitas fiscais.

Tudo isto revela como os nossos políticos, governantes e líderes da oposição, já abdicaram da seriedade e o país é governado como se fosse uma canoa, ao sabor das ondas e sem instrumentos de navegação. Nem o governo tem política económica, nem a oposição oferece um discurso económico credível, em vez de desenharem uma política que respeite a diversidade de comportamentos legítimos dos agentes económicos, tratam-nos como pecadores, condenam uns pelos comportamentos pecaminosos e por não terem o sentido nem da caridade nem da penitência, a outros aplicam-se castigos por serem responsáveis pela crise.

Em vez de cidadãos e agentes económicos os políticos estão a especializar-se em segmentar os portugueses tratando-os em função do seu possível comportamento eleitoral, o governo empobrece aqueles que muito provavelmente não votarão PS nas próximas duas décadas, o PSD protege os seus eleitores perdoando os accionistas que recebem dividendos isentos de grandes cargas fiscais.