O meu percurso na Função Público permitiu-me conhecer razoavelemte diversos serviços do Estado, desde as escolas, onde todos andámos, aos gabinetes governamentais, dessa experiência resulta a conclusão de que os responsáveis gastam mal o dinheiro dos contribuintes Hoje fala-se muito de cortar, fala-se muito pouco em poupar ou gerir melhor e não se fala nada na responsabilidade cívica de governantes e dirigentes da Administração Pública que revelam pouca consideração pelos que pagam impostos.
Não há equidade orçamental no Estado, os orçamentos não correspondem às necessidades reais dos serviços, um serviços têm dinheiro a mais e outros sobrevivem com grandes dificuldades orçamentais. Há uma relação clara entre os orçamentos dos serviços e o seu peso na imagem eleitoral dos governos. Nas escolas primárias bate-se o dente enquanto nos gabinetes servem-se chazinhos quentes, é esta a realidade do Estado.
Em mais de trinta anos não conheci um único dirigente que se tivesse preocupado em poupar independentemente das limitações orçamentais, gasta-se em telecomunicações quase sem controlo, abusa-se da iluminação, do aquecimento e do ar condicionado, gasta-se enquanto há dinheiro e gasta-se tanto mais quanto mais dinheiro houver. Nenhum director-geral que chegue ao fim do ano com dinheiro disponível o devolve, a regra é fazer compras de última hora, muitas vezes equipamentos luxuosos, para evitar um corte orçamental no ano seguinte. Diria mesmo que todos fazem o mesmo, desde o chefe de divisão ao ministro, a lógica é lutar por orçamentos mais generosos.
Esta falta de responsabilização cívica por parte dos dirigentes do Estado leve a que os recursos sejam cada vez mais mal geridos, chefe que se preze tem um batalhão de secretárias, o abuso chegou ao ponto de que nalguns serviços até os chefes de divisão já têm secretárias pessoais para lhes tratar do cafezinho.
De pouco servirão os cortes de que tanto se fala, não se alterando a cultura de gestão a despesa tem uma mola, a seguir a um período de pressão haverá um novo salto na despesa, comprar-se-ão os carros que não forem comprados agora, admitir-se-ão os funcionários cujos contratos de admissão foram suspensos, criar-se-ão os lugares de chefias que agorão poderão ser eliminados.