São políticos, ex-ministros, comentadores, governantes, jornalistas, enfim, muitas dezenas, senão mesmo centenas de grandes, médias, pequenas e pequeninas cabeças a reflectirem sobre a crise, eu diria que sobre mais um patamar da crise em que Portugal vive há décadas.
Quase todos eles se concentram na dívida e no défice públicos como se este fosse o nosso grande problema, todos propõem soluções que mais não são do que atirar um par de barbatanas a alguém que não sabe nadar e se está a afogar. Os ex-ministros batem-se num concurso cujo prémio vai para aquele que propor as medidas mais duras, Cavaco Silva tornou sincronizou as suas ambições com a negociação orçamental e para que ninguém duvidasse de que reuniu o Conselho de Estado de boa fé até se serviu das tecnologias de bolso de Eduardo Catroga.
Os mesmos que criaram mediadores de crédito e controladores financeiros são agora campeões de uma nova modalidade radical praticada pelos putos governamentais como o Castilho o tiro ao chefe da Função Pública. O país está a entrar numa espiral de demagogia e esquece que o grande problema não está apenas no que se gasta, está acima de tudo no que não se produz.
Ninguém se preocupa por o mundo estar à beira de mais uma crise alimentar com os preços dos cereais a subir, aumento de preços que acarretará aumentos dos preços na generalidade dos produtos agrícolas, começando pelos sectores das carnes que mais não são do que cereais transformados e dos lácteos, até no sector do açúcar há sinais preocupantes com as perdas na produção brasileira a que no caso da Europa se junta um erro de previsão digno da loura das anedotas que Teixeira dos Santos contratou para fazer as contas do seu ministério. No mercado do petróleo os sinais também não são os melhores, a tendência é de alta e se a economia americana crescer é certo e sabido que os preços subirão, isso se antes não vier um inverno rigoroso no hemisfério norte que desencadeie um aumento da procura no hemisfério norte.
O grande problema da economia portuguesa está na sua incapacidade de aumentar a riqueza e isso consegue-se exportando mais e produzindo mais daquilo que se importa. E para se produzir mais devem criar-se condições favoráveis à actividade das empresas.
Portugal perde demasiado tempo a ouvir Teixeira dos Santos e tem um ministro da Economia que não vale a pena ouvir dando lugar a muitas saudades de Manuel Pinho, um ministro que foi obrigado a demitir-se porque se fartou das traquinices parlamentares de um deputados que desde que nasceu tem carteira profissional de deputado.
Por aquilo que ouço o governo aposta mais na exportação de chefes de serviços públicos enlatados em azeite do que em produtos transaccionáveis em que os nossos parceiros comerciais estejam interessados. Aposta mais em comboios que nos permitam fugir mais depressa do país do que em infra-estruturas por onde possam ser escoados os nossos produtos. Aposta mais em poupar uma mão cheia de figos com a extinção de serviços públicos do que na melhoria da sua prestação ao nível das trocas comerciais.
Só se lembram das exportações no momento em que dá jeito criar cenários optimistas para fundamentarem previsões de crescimento económico em que ninguém acredita. Mas mesmo neste capítulo tudo assenta no optimismo em relação à procura externa, nem uma medida ou uma decisão que revele preocupação com a competitividade das empresas.