O Caso Bairrão está muito longe de poder vir a servir de argumento para um filme clássico de espionagem, na melhor das hipóteses daria para uma das Tardes da Júlia ou algo do género, o guião é pobre, as personagens são ridículas e a trama não dá para um segundo de suspense. Um chefe de espiões que investiga um responsável de uma empresa, que dá a informação aos responsáveis de uma empresa concorrente que mais dá tarde o contrata.
A personagem é ridícula, um chefe de espiões que se deixa apanhar facilmente que mal se sente apertado nem precisa de ser torturado para bufar mentiras, nos filmes a sério os espiões resistem à tortura e às portas da morte inventam uma mentira. Este nem levou umas bofetadas e foi logo a correr para o parlamento contar a sua efabulação. Tentou convencer-nos que foi um superior, o maldito Sócrates, que o mandou espiar o Bairrão e o autorizou a enviar a informação à empresa de Moniz, que como toda a gente sabe eram um grande apoiante do governo do Partido Socialista. Imagino que os amigos de Sócrates como o Soares dos Santos, o Belmiro ou o dono da Cofina tinham a secreta ao seu serviço, bastava um sms a Sócrates que este punha os espiões ao seu serviço.
O que não se soube foi que recursos foram usados para espiar Bairrão, imagino que nos tempos que correm a secreta não mandou um agente disfarçado andar a perseguir Bairrão pelas ruas do Bairro Alto ou de Luanda. Recordo-me que há algum tempo Pinto Monteiro disse com as palavras todas que existiam escutas ilegais sem denunciar quem as fazia. Aliás, basta ver as acusações do Ministério Público e da generalidade das polícias para se perceber que em Portugal o único instrumento de investigação são as escutas, feitas com equipamentos cada vez mais evoluídos que dispensam o recurso às operadoras de telecomunicações que, por sua vez, só as faziam mediante a autorização de um juiz.
Começo a perceber os poderes e influências ilimitadas de alguns senadores da República, designadamente, de um que mais aprece um intocável e durante muitos anos mandou nas secretas. Começa-se a perceber que o nosso conceito de segurança nacional é amplo ao ponto de se espiar a TVI para dar a informação à Ongoing e que essa informação é tão secreta que até uma jornalista desempregada a manda por sms para os conhecidos. A segurança nacional está tão protegida que um espião se desmascara em público e defende-se dizendo que os relatórios da secreta estavam ao serviço dos maiores políticos do governo.
Isto é tão mau, tão rasca, tão feito, os seus protagonistas são tão reles, tão sem valores, tão ridículo que a segurança dos cidadãos e do país estaria melhor entregue a uma potência estrangeira ou, como estamos numa vaga de liberalismo, se fosse privatizada e entregue a uma dessas empresas de segurança.