quinta-feira, julho 28, 2011

Umas no cravo e outras na ferradura


 

Foto Jumento


Ilusinionismo na Rua Augusta, Lisboa
Imagens dos visitantes d'O Jumento


Estendal, Aldeia de Monsanto [A. Cabral]
  
Jumento do dia


Nogueira Leite

Se António Nogueira Leite fosse o escolhido para presidir aos negócios da CGD a escolha não seria questionável, partindo do princípio de se desvincularia de outros negócios privados. Tem currículo à altura, experiência e credibilidade para o exercício do cargo. Mas aceitar participar na gestão da CGF da forma como o vai fazer e como "vice" não o favorece nada.

 A nova administração do BPN

Excluindo um ou outro nome fico com a sensação de que o BPN teve melhores administrações do que a futura administração da CGD.

 Uma dúvida sobre as opções de Passos Coelho na CGD

Passos Coelho alargou o número de administradores da CGD e fez a escolha que fez para de uma só vez pagar uma resma de favores ou para ter um bom argumento para privatizar o banco na sua totalidade?
     
 

 A corrida para o vídeo famoso

«Há limites para anedotas? Alguém, lúcido, disse: "Eu conto anedotas sobre tudo mas não conto é certas anedotas a toda a gente." Não nos rimos de anedotas racistas (e há-as, boas) com racistas. E vídeos? Aí, o critério é mais relaxado. Há dias que Portugal se ri com o Hélio, titubeante ao skate ("sai da frente Guedes!"), descendo uma estrada, lançando uma frase épica ("o medo é uma cena que a mim não me assiste"), cruzando um automóvel e espalhando-se na berma. O vídeo foi visto no YouTube em quantidades maiores que as enchentes do Estádio da Luz num ano, as televisões entrevistaram os pais do Hélio, rimo-nos todos. E, no entanto, o vídeo do Hélio é uma estupidez criminosa que acabou bem. Exemplo de uma estupidez criminosa que acabou mal: António, de 17 anos, foi de madrugada para uma auto-estrada tourear carros. Deveria haver também um Guedes com um vídeo a filmar, mas fugiu, sem coragem de mostrar o atropelamento e a morte do António. Sem coragem, e daí não sei... Talvez ainda apareça no YouTube - e nos online dos jornais - a morte do António. A estupidez das pessoas (e não estou a falar só do grupo do António) é infinita. Aqueles que têm a arma de propagação da estupidez nas mãos - dos grupos de popularização dos Hélios até ao YouTube, passando pelos jornais e televisões - deveriam pensar nos limites. O próximo passo é pôr o vídeo de um garoto a atirar um pedregulho, de uma ponte, para a auto-estrada? » [DN]

Autor:

Ferreira Fernandes.
  
 As matrizes da cumplicidade

«Portugal está num quarto escuro, cercado por todos os medos. Diariamente, a surpresa toca no batente. Aumentos de tudo, desemprego cavalgante, empresas encerradas, perspectivas nulas. O ministro Vítor Gaspar, que me parece uma pessoa séria, independentemente do seu extravagante sentido de humor, avisa-nos de que o futuro será cada vez mais pesado e trágico. As pessoas queixam-se, amargamente, nos jornais, nas rádios e nas televisões do insuportável da vida. A emigração cresce, a esperança mingua. A perfeição da democracia é proporcional à sua liberdade, que é proporcional à sua extensão.

Ante a tragédia na Noruega, o primeiro-ministro daquele país afirmou que vai melhorar, cada vez mais, as instituições democráticas e aumentar o conceito de sociedade aberta. Aquele político entende (e bem) que um povo formado na liberdade sabe evitar o medo e o egoísmo que restringem a sua acção e o seu comportamento.

Exactamente o contrário do que sucede em Portugal. As indicações governamentais, de que vamos tomando conta, impõem uma definição de democracia restritiva, com leis do trabalho retrógradas, alterações à Constituição extremamente redutoras, penalizações sociais cada vez mais graves. A diferença entre um socialista e um ultraliberal consiste na forma de entender a liberdade como um todo, ou na ausência desse todo.

Afinal, Pedro Passos Coelho imita, com ligeiras modificações de estilo, o que condenava a José Sócrates. Diz uma coisa e faz outra, persegue quem o contraria, cria a legalidade racional com os despautérios políticos mais imprevistos. Acontece um porém: ele advertiu-nos do que ia fazer. Como os portugueses estavam fartos do "socialismo moderno", apressaram-se a votar na mudança, sem atentar muito bem no que os esperava. A concepção de poder de Passos Coelho não possui nada de original: limita-se a resumir tudo o que seja Estado, ligado à repressão directa e indirecta do social, através de leis iníquas, mas validadas pela "maioria."

O poder de que Passos Coelho está a conquistar conduz às aberrações mais fatídicas, porque imprime a sua marca nos corpos e nos espíritos: controla-os, disciplina-os e normaliza-os. O aparelho político com o qual se apoia, justifica todos os absurdos. Não tenhamos dúvidas: o que se propõe é uma vigilância total sobre todas as nossas acções, mas uma vigilância sem ser vista.

As análises consagradas a este poder, que se produzem na Europa (estou a lembrar-me de Alain Badiou, por exemplo), e cujos ecos nem sequer chegam ao nosso país, revelam a extensão preocupante do problema. Enquanto aqui e ali, como na Noruega, o aprofundamento democrático não renunciou a desenvolver-se, a democracia de superfície ganha terreno e adeptos numa dimensão significativa.

O silêncio e a indiferença constituem matrizes da cumplicidade.» [DN]

Autor:

Baptista-Bastos.
  
 A Caixa é um banco ou um escritório de advogados

«É sempre a mesma coisa: a nomeação dos big boss para a Caixa Geral de Depósitos dá sempre um enorme banzé. Como não há coragem para privatizar o monstro, os governos têm de meter gente de confiança na liderança da coisa. E, claro, isto gera acusações de boyismo e de conflito de interesses. Acusações justas e certeiras, diga-se. Este governo não conseguiu fugiu à regra. Na nova administração, há gente que não faz sentido. Há administradores com claro conflito de interesses. E há o joguinho partidário: se o PSD mete dois ou três homens, o CDS tem de meter o seu. Numa palavra, o banco do Estado não contrata os melhores mediante uma avaliação do CV. Ná, isso é pra meninos.

Há vários exemplos de nomeações complicadas, mas a minha favorita é a nomeação de Pedro Rebelo de Sousa. Com diz Pedro Santos Guerreiro, "a nomeação de Pedro Rebelo de Sousa é de fazer corar uma estátua de gelo" . Rebelo de Sousa é advogado da ENI, "contraparte da CGD num acordo parassocial na Galp" (não sei bem o que isto quer dizer, mas soa-me a conflito de interesses). Mais: Rebelo de Sousa é advogado da Compal, empresa que tem um processo em tribunal com a Caixa (isto eu já percebo, e não percebo como é que Rebelo de Sousa foi ali parar). E, já agora, uma pergunta mui simples de um tipo que não percebe nada disto: não era suposto haver banqueiros na CGD? Um sujeito olha e não vê banqueiros. Vê muitos advogados, como Rebelo de Sousa, mas não vê banqueiros. A CGD é um banco ou um escritório de advogados?

Outra nomeação interessante é, claro, a de António Nogueira Leite. Mas aqui a conversa é diferente. Apesar do óbvio conflito de interesses (reconhecido pelo próprio), parece-me evidente que Nogueira Leite é um economista competente e com um CV que o habilita a gerir a CGD. O problema é que Nogueira Leite surge como o homem de confiança do PM. E todo o problema está aqui. Não está em causa o mérito de Nogueira Leite, mas todo o processo institucional que leva à escolha da administração. Não é preciso um grande esforço de memória para chegarmos a esta conclusão: este processo de escolha pode nomear pessoas competentes, sim senhora, mas também pode nomear boys sem CV para estar numa administração desta importância. Armando Vara é apenas o caso mais famoso . Mas há mais.

Soluções? Das duas, uma: ou se privatiza a Caixa, ou se muda as regras de nomeação da administração. Este regabofe imprevisível que gera uma administração de um banco que mais parece um escritório de advogados tem de acabar. O cartão partidário não pode ser o critério de nomeação. O processo de escolha tem de ser mais aberto, mais público, mais assente no mérito do candidato e não nos números que o candidato tem gravados no seu telemóvel. Mas o melhor é mesmo pensar na privatização deste escritório de advogados. Resolvia-se o problema de uma vez por todas.» [Expresso]

Autor:

Henrique Raposo.
 
Tachos na Caixa: Passos Coelho mudou (e bem!) de opinião!

«1. O governo Passos Coelho acaba de tomar duas importantes que espelham a visão que tem sobre a intervenção do Estado na vida económica e financeira do país. Cremos que uma é globalmente positiva (embora com reservas); a outra é negativa. Comecemos pela positiva.
 
1.1 Passos Coelho, finalmente, nomeou os administradores da Caixa Geral de Depósitos. Ora, a nomeação de administradores para o banco público já é, de per si, um fato político digno de ser salientado - recorde-se que uma das traves-mestras programáticas de Passos Coelho era a privatização da Caixa Geral de Depósitos. Significa que Passos Coelho, mais uma vez, mudou de ideias - mas, desta feita, é uma mudança positiva. O Primeiro-ministro teve a inteligência suficiente para reconhecer o erro do seu pensamento, decidindo em sentido contrário. É de aplaudir o sentido auto-crítico de Passos Coelho nesta situação concreta. Dito isto, quanto aos nomes dos administradores, não partilhamos as críticas que têm sido aventadas por diversos comentadores. Em primeiro lugar, não se trata de atribuir propriamente tachos: a lista integra gente de vários quadrantes políticos, incluindo do PS (por exemplo, Eduardo Paz Ferreira). Em segundo lugar, são pessoas que não nasceram nos partidos políticos e caíram de pára-quedas na CGD. Não: são pessoas com mérito profissional e académico, que triunfaram nas suas áreas profissionais - e que aceitaram dar o seu contributo nesta nova fase da vida da Caixa Geral de Depósitos (por exemplo, podemos discordar do posicionamento político de António Nogueira Leite, mas não podemos colocar em causa a sua competência profissional). Portanto, damos nota positiva global à equipa de administradores da CGD nomeada por Passos Coelho. Todavia, nem tudo são rosas (ou laranjinhas, melhor dizendo): há dúvidas que são legítimas e merecem ser cabalmente esclarecidas. Desde logo, o fato singular de haver administradores que acumularão as suas funções na CGD com o exercício das suas funções de natureza privada. Aqui há que ter alguma precaução: se considerarmos que só é idóneo para o exercício de funções de administrador da CGD quem abdique da sua vida profissional, estaremos a afastar os melhores, os mais competentes para dar o seu contributo à instituição bancário. Assim, defendemos que os administradores (nomeadamente os que exerc em a advocacia) podem integrar a comissão de auditoria da Caixa, mas com uma ressalva: por razões de transparência, deveriam declarar todos os interesses privados que patrocinam e que possam ser conflituantes com a defesa dos interesses da CGD. E esta minha consideração nem sequer é uma ideia filosófica ou moralista - pelo contrário, resulta da lei e da Constituição. A Caixa Gerald de Depósitos é um banco estatal - embora revista uma forma privada, integra a Administração Pública, encontrando-se submetida aos princípios e regras do direito administrativo (que é o ramo do direito que regula a organização e a atuação das entidades públicas, quando concretizam as opções políticas e legislativas do Estado, visando a satisfação das necessidades públicas). Ora, a Lei Fundamental impõe que a Administração pública respeite os princípios da transparência e da imparcialidade: a administração deve dar a conhecer e a ponderar todos os elementos públicos e privados que possam pesar na decisão do caso concreto, tomando a decisão que melhor prossiga o interesse público. Conclusão: sempre que os novos administradores prossigam, efectivamente, os interesses da instituição bancária estatal, declarando-se impedidos de participar nas tomadas de decisão, quando têm interesses privados a defender. Partimos do princípio que os administradores ora nomeados são gente séria e de alta probidade profissional e ética. Devem, pois, confirmá-lo no exercício dos seus cargos. Esperemos que tenha acabado a era dos Armandos Varas na administração da Caixa...

2. A segunda decisão prende-se com a publicação do diploma legal que prevê o fim das golden shares do Estado Português. É uma medida que passou despercebida - comparando com o frenesim mediático do ano passado na sequência da Assembleia- Geral da PT, em que o Estado vetou a venda da VIVO à Telefonica - , mas que julgamos ser negativa. Bem sabemos que a nossa tese é, nos dias que correm, uma heresia - a venda das golden shares doi aplaudida de pé por muito boa gente. Amanhã explicaremos o porquê da nossa discordância estrutural.» [Expresso]

Autor:

João Lemos Esteves.
        

 Ainda há pescadores que não sabem nadar

«Desapareceu no mar, na madrugada desta quarta-feira, um dos tripulantes de uma embarcação de pesca de Sines. O homem de 53 anos, que não sabia nadar e estava sem colete, terá caído ao mar com umas botas de borracha calçadas.» [CM]

Parecer:

Só mesmo neste país ainda há pescadores com cédula que não sabem nadar e ainda por cima não se cumprem as regras de segurança.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Processe-se o armador.»
  
 E se o seu Apple explodir?

«Os novos MacBook, MacBook Air e MacBook Pro, da gigante norte-americana Apple, possuem uma falha na segurança que pode permitir a hackers impedir as baterias de carregar. À distância, os hackers podem ainda explorar mais o erro e fazer com que as baterias explodam.» [DN]
  
 O Pingo Doce tem vergonha de ganhar dinheiro em Portugal

«O lucro da Jerónimo Martins, dona dos supermercados Pingo Doce, cresceu 41,4 por cento no primeiro semestre deste ano face ao mesmo período do ano passado, tendo o resultado líquido atribuível atingindo os 144 milhões de euros.

O grupo explica o crescimento dos seus resultados semestrais com a "notável evolução da Biedronka [marca com que a empresa portuguesa está presente na Polónia]", referindo que o negócio naquele país " continuará como o motor do forte crescimento esperado para o grupo em 2011".

Em comunicado hoje divulgado pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), a empresa adianta que as vendas consolidadas no primeiro semestre cresceram 17,5 por cento para 4,7 mil milhões de euros, enquanto o EBITDA (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) aumentou 24,4 por cento para 311 milhões de euros.

A Jerónimo Martins acrescenta que a dívida consolidada ascendia a 504,3 milhões de euros no final de Junho.Numa mensagem incluída na apresentação dos resultados, o presidente executivo da empresa, Pedro Soares dos Santos, afirma que o negócio em Portugal também contribuiu para o desempenho do grupo. "Também em Portugal, perante uma envolvente macroeconómica difícil, os nossos formatos revelaram uma forte resiliência, registando crescimento de vendas e EBITDA e contribuindo positivamente para o desempenho do grupo", avança.» [DN]

Parecer:

Quem leu os jornais de hoje ficou a saber do crescimento dos lucros da mercearia Jerónimo Martins (Pingo Doce) e que este aumento se ficou a dever ao negócio na Polónia. Mas quando lemos a notícia ficamos a saber que Portugal também deu o seu contributo apesar da recessão no consumo. Só não ficamos a saber qual foi a dimensão desse contributo que no comunicado da Jerónimo Martins é apresentado de forma quase envergonhada.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Faça-se um sorriso.»
  
Temos difíceis...

«Segundo a publicação, as fortunas dos 25 mais ricos de Portugal cresceram 17,8% em 2011 face ao ano passado, um valor que é influenciado pela valorização da participação de Américo Amorim na Galp e pela subida em bolsa da Jerónimo Martins» [DE]

Parecer:

Não é por falta de enriquecimento dos mais ricos que não se ultrapassa a crise.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Dê-se conhecimento ao inquilino de Belém que só se preocupa com os muito pobres.»
  
 Moody's aumenta os lucros

«A Moody's anunciou hoje que aumentou os lucros em 56% para 189 milhões de dólares (cerca de 131 milhões de euros), ou em 0,82 dólares por acção, no primeiro semestre deste ano. Este resultado compara com os 121 milhões de dólares registados no mesmo período de 2010.» [DE]

Parecer:

Devem ganhar à comissão...

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Faça-se um sorriso.»
  
 Eurodeputado italiano simpatiza com terrorista norueguês

«Um eurodeputado italiano, eleito por um dos partidos aliados do primeiro-ministro, Silvio Berlusconi, admitiu hoje concordar com algumas das ideias do autor dos atentados terroristas na Noruega, excetuando a violência.

Mario Borghezio, eurodeputado eleito pela Liga Norte, disse a uma rádio italiana que simpatiza com algumas ideias de Anders Breivik.

"Algumas das ideias que exprime são boas - retirando a violência - e algumas delas são excelentes", afirmou este militante de um dos partidos aliados de Berlusconi.» [Expresso]

Parecer:

E depois dizem que o terrorista é louco.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Há muita gente da direita que simpatiza com as ideias do terrorista.»