terça-feira, julho 26, 2011

Umas no cravo e outras na ferradura




Foto Jumento


Juvenil de Verdilhão-comum [Carduelis chloris], Cidade Universitária, Lisboa
Imagens dos visitantes d'O Jumento


Vila Nova de Cerveira [A. Cabral]
  
Jumento do dia


Álvaro Santos Pereira

Quando um ministro da Economia coloca uma linha de transporte de mercadorias em alternativa ao TGV ficamos a perceber que o problema já não é a falta de dinheiro para investir mas sim o projecto. Aliás, como a linha de transportes de mercadorias não terá o financiamento comunitário é sinal de que há mesmo muito dinheiro, até porque tal linha não vem suprir qualquer carência.

Mas percebe-se também que o ministro ou percebe pouco de transportes ou esá convencido de que Portugal fica no meio das pradarias americanas ou algures junto aos grandes lagos. A lógica dos transportes na América do Norte é bem diferente do que sucede na Europa. Para fazer chegar um contentor de Lisboa a um porto Europeu não é como fazer chegar um contentor de Nova Iorque a São Francisco, não se tem de atravessar o Canal do Panamá, razão pela qual os transportes ferroviários e rodoviários têm na América a importância que não têm na Europa.
 
Saberá o ministro qual a diferença de custos entre o transporte de um contentor por via ferroviária e o mesmo transporte feito por ia marítima? Não deve saber o que, aliás, não é criticável, o que é criticável é parecer desconhecer quais são os mercados das exportações portugueses, se o soubesse perceberia que não seria uma linha de combóio que iria promover ou reduzir os custos das exportações.
 
Começa a parecer que o problema deste ministro não é o que sabe ou o que não sabe, é confundir a governação de um país com uma conversa de café baseada em palpites. Não sabe o que quer e anda a entreter os portugueses com bandeirinhas e tratamentos informais, os espanhóis devem ter rido à gargalhada com a dimensão dos problemas económicos que invocou, alguns até poderão escrever-lhe para reduzir o volume de água nos autoclismos.
   
«Perante a questão do “El País” sobre se não seria irresponsável anunciar a suspensão de um projecto já acordado entre os dois países, Álvaro Santos Pereira respondeu que irresponsável seria fazer um projecto com premissas “totalmente fora da realidade”.

“É não ter respeito pelo dinheiro dos contribuintes. Neste momento suspendemos o projecto para o reavaliar, e foi isso que foi dito ao ministro Blanco [ministro do Fomento espanhol]”, revelou o ministro da Economia português.

Questionado sobre se acreditava que era necessário um TGV entre Lisboa e Madrid, Álvaro Santos Pereira disse que acreditava que era muito importante que Portugal e Espanha se empenhassem num projecto que era “fundamental para os dois países”, e que esse projecto era a criação de uma linha de mercadorias transfronteiriça que ligasse os dois países à Europa.» [Jornal de Negócios]
     
 

 Norueguês e Bin Laden eram loucos ... por Timor

«Faltavam ainda oito anos para o assassino da Noruega nascer quando Ben Laden esteve na vizinha Suécia, numas férias retidas na célebre foto em que o líder saudita da Al-Qaeda surge adolescente, a sorrir, vestido com calças azuis à boca-de-sino e camisola verde. Mas se isto foi o mais perto de se cruzarem as vidas dos dois fanáticos, uma pequena ilha na remota fronteira entre a Ásia e a Oceânia prendeu a atenção de ambos: a luta do povo de Timor pela independência foi vista como um caso de choque de civilizações tanto pelo recém-famoso fundamentalista cristão como pelo recém-abatido fundamentalista islâmico.

Para os dois, a batalha que ali se travava não era entre a Indonésia e os timorenses, mas sim entre o islão e o cristianismo, espécie de reedição das Cruzadas mil anos após as originais.

Anders Breivik fala dos muçulmanos indonésios terem matado um terço dos católicos timorenses. É uma das muitas frases bombásticas nas 1500 páginas do seu manifesto descoberto na Internet horas após ter assassinado 93 pessoas e garantido destaque na galeria dos monstros da história recente.

Aliás, a ambição de fama mórbida é confessada no tal manifesto em inglês, onde fica óbvio o ódio ao islão, que acusa de tentar colonizar a Europa.

Timor também fazia parte das obsessões de Ben Laden. Dois meses depois dos atentados de 11 de Setembro de 2001, num vídeo transmitido pela televisão Al-Jazeera desafia o Ocidente e promete que a fúria dos guerreiros do islão se fará sentir sobre os agressores. E cita a Chechénia, Caxemira e a Palestina como pontos do globo onde os muçulmanos são agredidos, num caso pelos russos, num outro pelos indianos, noutro ainda pelos israelitas. Claro, tudo argumentos a reforçar a tese do cerco ao islão, com ataques dos ortodoxos, dos hindus e dos judeus. Sobre a antiga colónia portuguesa, o líder da Al-Qaeda acusa as tropas internacionais, no caso australianas, de serem cruzados que desembarcaram nas costas indonésias "para separar Timor-Leste, que é uma parte do mundo islâmico".

Que a esmagadora maioria dos timorenses seja católica, fruto de quatro séculos de colonização portuguesa, foi pormenor que não interessou a Ben Laden, morto em Maio deste ano. Também em Maio, mas de 2002, Timor tornou-se independente e, hoje, com as Filipinas, é uma das duas nações de maioria cristã na Ásia.

Das religiões pode-se extrair tudo, desde a mensagem de paz que a maioria dos crentes segue até ao apelo ao ódio que os extremistas preferem reter. Para estes, a história fornece abundantes argumentos para atiçar o ódio ao inimigo. Mas tanto o loiro de olhos azuis como o moreno barbudo insistiam em estar atentos à actualidade, olhando para o planeta como se fosse um tabuleiro de jogo onde cristianismo e islão se defrontam. E o minúsculo Timor valia muito. É a prova de que os fanáticos têm um problema em perceber os limites.» [DN]

Autor:

Leonídeo Paulo Ferreira.
  
 Pela independência dos cidadãos

«Os Estados Unidos celebraram há três semanas o Dia da Independência, o 4 de Julho. As celebrações desse dia são um exercício de patriotismo algo exagerado, que não parece natural a quem não viveu toda a vida neste país. Em qualquer terra americana que se preze, as celebrações incluem não só o tradicional fogo-de-artifício com as cores da bandeira, mas também um cortejo com automóveis decorados, Harley Davidsons a fazer barulho, crianças de bochechas pintadas e comida em abundância. Enquanto português, as celebrações deste dia tornam evidentes muitas diferenças entre este país onde trabalho e Portugal, onde cresci e estudei.

Entre essas diferenças, a que continua a surpreender-me mais é a (in)dependência dos cidadãos comuns e da sociedade civil em relação ao Estado num e noutro país, nas várias facetas da vida. Com todas as falhas da sociedade americana, bem conhecidas de todos, uma característica que admiro neste povo é a tendência das pessoas para começarem por tentar responder por si aos problemas com que se defrontam, sem pensar imediatamente no apoio do Estado. Tanto em terras pequenas como em grandes cidades, é muito frequente os cidadãos juntarem-se para lutar por uma causa em que acreditam e usarem o seu tempo para contribuir para essa causa. Há uma quantidade enorme de organizações de âmbito local para todo o tipo de fins que exigem a participação activa de voluntários - da gestão de pequenos supermercados que vendem produtos da região à preservação e recuperação dos parques naturais, à criação de programas de desporto e de cultura para crianças e jovens, entre muitas outras. Todos estes pequenos grupos de cidadãos participam nos ditos cortejos do 4 de Julho com os seus cartazes e recebem aplausos de quem assiste, num agradecimento pelo seu esforço.

Por outro lado, em Portugal ouço falar quase incessantemente do que o Estado faz ou não faz, como se o Estado fosse a única (ou pelo menos a principal) fonte de resolução dos problemas do país. À noite, na televisão, discute-se com pormenor cada aparição diária de cada um dos ministros e cada iniciativa da Assembleia da República, quer ela seja realmente importante quer não. Sem dúvida há casos de grande sucesso de participação cívica em Portugal (o Banco Alimentar contra a Fome é um exemplo excelente), mas são apresentados, quase sempre, como excepções e a capacidade de nos organizarmos dentro das nossas comunidades para resolver os problemas que enfrentamos não parece ainda enraizada na nossa consciência colectiva.
 
O Estado português confronta-se hoje com grandes dificuldades e não é provável que possa dar grande ajuda aos cidadãos nos próximos tempos. Para ultrapassar o momento actual, o país tem de se apoiar na iniciativa de cada português, na capacidade de organização das empresas, na imaginação de pequenos empreendedores e na vontade de cada funcionário público de fazer mais e melhor. Era muito importante que nos organizássemos melhor nos nossos bairros, freguesias e paróquias para inovar e responder às necessidades que temos, em particular às dos mais desfavorecidos, sem procurar o apoio do Estado ou das câmaras. Uma sociedade civil mais informada e participativa será um substituto precioso do Estado quando este nos faltar.» [i]

Autor:

Manuel Neves Adelino.
    
 Não há bombistas maus.

«Se é certo que o sono da razão gera monstros não é menos certo que o totalitarismo da razão vigilante gera outros monstros. A obsessão em procurar "motivações profundas" para os fenómenos sociais e para, a partir daí, estabelecer cadeias racionais de causas e efeitos, pode ser tranquilizadora e capaz de assegurar um sono confiante na benignidade da natureza humana, mas é, de facto, um processo fundamentalmente irracional, quando não, como no caso das "motivações profundas" do terrorismo islâmico (porque há verdade factual e a verdade racional: a ideológica, a antropológica, a psicológica... ), tão-só desculpabilizante.

É assim que um motorista pode embebedar-se e meter-se ao volante sem a mínima percentagem de sangue no álcool, matando uma dúzia de transeuntes, que a culpa não é - ou, nos melhores dos casos, não é totalmente - sua, mas tem origem em razões distantes e, obviamente, "profundas" (problemas familiares, "stress" profissional & por aí fora; no fim, a culpa acaba por cair sempre sobre essa entidade vaga e inimputável que é a "sociedade"). Isto quando, como no recente bárbaro homicídio de um "cronista social", não cai sobre a própria vítima.

A explicação finamente racional do atentado de Oslo e do massacre de Utoya que, "raspando um bocadinho" na sociedade norueguesa, o explicador Nuno Rogeiro deu na SIC foi desta vez tão vertiginosamente "profunda" que chegou ao "heavy metal".» [JN]

Autor:

Manuel António Pina.
 
 O Albergue Espanhol

«António Nogueira Leite não vai sentir falta de escrever para o blogue "Albergue Espanhol". Porque acaba de entrar num. A administração da Caixa é uma combinação, explosiva e imprudente, de cabeças de cartaz.

A nomeação da administração da CGD é muitas vezes o teste do ácido de um governo estreante. Para medir a sua partidarização. Para contar os "boys". Neste caso, isso é até o menos. O mais é a falta de experiência e os conflitos de interesses.

Uma administração deve ser heterogénea mas consistente, de confronto mas leal. Isso exige coerência. E uma liderança forte. Na Caixa, esta escolha devia ser fácil: só há um accionista. Mas o Estado, sendo único, não é uno. Nesta administração está o homem do Presidente, o do primeiro-ministro, o do ministro das Finanças, o do ministro dos Negócios Estrangeiros e o dos Assuntos parlamentares. Banqueiros é que há poucos.

A Caixa terá agora dois presidentes, o não executivo e o executivo. Estranho: um "chairman" é um gestor de equilíbrios entre accionistas - e a Caixa só tem um. Além disso, a experiência dos "chairmen" em Portugal é má, porque irrelevante. Só temos um "chairman" com poder que se vê, Henrique Granadeiro, na PT. De resto, o cargo é desempenhado quase sempre por notabilíssimos panhonhas. Não por opção deles, por opção dos outros: os accionistas ou os presidentes executivos criam modelos de taxidermia que lhes esvaem o poder.

Pagam-lhes bem para estarem calados. Mas Faria de Oliveira vai ter de ser mais do isso. Porque o Conselho de Administração promete tiroteio em poucos meses. A administração da Caixa não é uma escolha de 11 pessoas. São 11 escolhas de cada pessoa.

Norberto Rosa, Jorge Tomé, Rodolfo Lavrador e Pedro Cardoso são os repetentes - e ainda bem, haja quem sabe de banca de investimento e sistema financeiro. José de Matos, o novo presidente executivo, também sabe, merece o benefício da dúvida, mas é inexperiente na actividade comercial. Não lhe falta à volta, todavia, quem saiba de negócios. Até de mais.

O problema com Nogueira Leite não é a sua ligação à José de Mello. Esse conflito de interesses é tão evidente que o próprio já disse que nunca intervirá num processo que envolva o grupo e nós cá estaremos para escrutinar os processos que os envolvam. A "questão" Nogueira Leite é ele poder ser um falso número dois que na verdade vai mandar.

A Caixa pode, na prática, ficar com um "chairman" e dois CEO. Ou pior: com dois "chairmen", Faria e Matos, e um CEO, Nogueira Leite. E esse será o princípio da sabotagem.

Nos conflitos de interesse, poucas entidades têm estado tão certas como o Instituto Português de Corporate Governance (IPCG). O seu actual presidente foi contra nomeações de advogados nos órgãos sociais de empresas e conseguiu, aliás, "varrer" dois históricos delas: Vasco Vieira de Almeida da Brisa e José Manuel Galvão Telles da EDP. Por isso, esse presidente foi aqui muitas vezes elogiado. Esse presidente defendeu mesmo que os administradores independentes nas companhias do Estado fossem sempre sujeitos a um parecer prévio externo.


Pois há um novo administrador da Caixa que chumbaria nesse parecer: o presidente do IPCG.

A nomeação de Pedro Rebelo de Sousa é de fazer corar um estátua de gelo. Não é por ser jurista - o novo administrador Eduardo Paz Ferreira também o é e, além de ser precedido de uma reputação inabalável (como também Álvaro Nascimento), não tem conflitos de interesse, nem é "advogado de negócios". Pedro Rebelo de Sousa é não só advogado de negócios como é advogado da Eni (contraparte da Caixa num acordo parassocial na Galp) e da Compal, que tem um processo em tribunal... com a Caixa!

Nuno Fernandes Thomaz é diferente, mesmo que se arrisque a ser visto como a Celeste Cardona desta administração: o nomeado do PP. Thomaz tem de resolver o conflito de estar na Ask e provar que não vai aprender a ser banqueiro na Caixa: já trabalha no sistema financeiro.

Eduardo Catroga, que tinha ideias tão claras para a Caixa, deve estar braseado. Qual é a missão da Caixa? Ser um banco igual aos outros, concorrendo pelos melhores projectos, captando depósitos e concedendo crédito como todos? Ser o braço financeiro do Governo? Um "bad bank" que engula os BPN? Um apoio às PME? À internacionalização? Não se sabe. Mas já há administração.

"Albergue espanhol" é uma expressão francesa para lugares confusos, onde se juntam pessoas de culturas diferentes e sem regras. A Caixa começa assim e começa mal. Porque no final disto tudo sobra uma enorme perplexidade: há de tudo neste "onze", de quem sabe muito de política, muito de banca de investimento, muito de mercado monetário, muito de Direito, muito de advocacia de negócios, muito de supervisão, muito de sistemas de pagamentos, muito de governo de sociedades. Na Caixa só não há é ninguém que saiba de uma coisa: de banca tradicional. » [Jornal de Negócios]

Autor:

Pedro Santos Guerreiro.
     

 Ministro espera que novo modelo de avaliação seja bem recebido

«O ministro da Educação, Nuno Crato, vai apresentar o novo modelo de avaliação aos sindicatos na próxima sexta-feira, disse à Lusa, manifestando-se convicto de que o mesmo "será bem recebido".

Falando à margem da cerimónia de celebração dos 12 anos do Pavilhão do Conhecimento, Nuno Crato afirmou ter enviado já uma carta aos sindicatos representativos do sector, convocando-os para uma "sessão de apresentação do essencial do novo modelo de avaliação", na sexta-feira.» [Jornal de Negócios]

Parecer:

Tudo o que se aproxime da auto-avaliação proposta por Mário Nogueira será positivo.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Espere-se para ver.»
  
 Xeique narcisista

 
«Um dos membros da família que governa os Emirados Árabes mandou escrever o seu primeiro nome em letras gigantescas no areal de uma ilha. Qualquer astronauta não tem dificuldade em visualizar, a partir do espaço, o nome de Hamad.» [JN]
    
 Funcionários públicos suportam 33% da sobretaxa oportunista

«Um estudo realizado pelo Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado (STE) evidencia ainda que os funcionários públicos vão sofrer um corte mais acentuado do que o sector privado por causa do desconto adicional de 1,5% para a ADSE que este ano vai incidir pela primeira vez sobre o 14º mês.

O cruzamento do salário médio na função pública, que ronda os 1500 euros, com o universo total dos funcionários levou o STE a estimar que os trabalhadores da Administração Pública vão contribuir com 212 milhões dos 630 milhões de euros que serão pagos pelos contribuintes incluídos na categoria A, ou seja, os que têm rendimentos de trabalho dependente.» [DN]

Parecer:

Depois de terem sofrido um corte salarial.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Proteste-se.»