segunda-feira, julho 18, 2011

Umas no cravo e outras na ferradura




Foto Jumento


Gaio [Garrulus glandarius] no Jardim Gulbenkian, Lisboa
    
A mentira do dia d'O Jumento
 
O Governo decidiu seguir o exemplo de Assunção Cristas, ministra da Agricultura e já deu instruções aos serviços meteorológicos para a par da previsão do tempo e dos alertas para o ozono e os pólenes passar a indicar o vestuário com que os funcionários poderão apresentar-se ao serviço. Estes passarão a estar obrigados a informarem-se diariamente sobre a indumentária a vestir, podendo para isso assistir aos serviços meteorológicos das estações de televisão ou visitar os respectivos sites ou o do Instituto Nacional de Meteorologia, pelo menos enquanto este não for extinto e integrado na Direcção-Geral do Ambiente.

Assim, se os meteorologistas concluírem que em Portugal vai passar uma massa de ar quente vinda do deserto os funcionários além de saber que vai estar quente saberão que deverão apresentar-se ao serviço de havanesas, calções e camisolas de alças aos buraquinhos para substituir as ventoinhas, já que o ar condicionado foi abolido com a extinção das gravatas.
Jumento do dia


Bernardo Bairrão

Já toda a gente sabe porque Bairrão foi saneado antes de ser nomeado e quem esteve por detrás desse saneamento, sabe-se também que Passos Coelho recorreu à secreta para o investigar, só não se percebe a razão porque Bernardo Bairrão em vez de continuar a defender quem o tramou acha que tem de demonstrar a sua inocência. Tendo sido a vítima não lhe cabe clamar por inocência, poderia eventualmente ter o dever de denunciar quem o tramou.

«O gestor Bernardo Bairrão, que foi convidado para secretário de Estado Adjunto do ministro da Administração Interna, Miguel Macedo, afirmou, este sábado, que pediu uma auditoria à sua acção na Media Capital, empresa que deixou em Junho.

Bernardo Bairrão falava à SIC sobre as razões que o levaram a pôr o cargo à disposição e como se sentia relativamente ao facto de, presumivelmente, ter sido investigado pelo Serviço de Informações de Segurança (SIS). » [Jornal de Notícias]
    
 

 Obama rende-se ao sucesso português

«A diplomacia americana retoma a velha táctica: um murro nos dentes, um beijo na boca. Um dia, o murro é das agências de rating, e somos lixo. No dia seguinte é o homem mais poderoso do mundo que nos elogia: "Não somos Portugal!" Luís Filipe Vieira quando se quer pôr em bicos de pés não diz: "Não somos o Olhanense." Compara-se, isso sim, com os da sua igualha: "Não somos o FCP!" Também Obama, quando teve de se afirmar, olhou para a cena internacional e escolheu-nos: "Não somos Portugal!" A última vez que a América nos defrontou com igual terror acabou com eles a abraçarem-se, o que, se significou que nos tinham ganho (eliminaram-nos, 3-2, no Mundial de 2002), também mostrou a surpresa que foi para eles terem-nos ganho. O desprezo que alguns vêem nesse "não somos Portugal!" não pode esconder a admiração implícita do todo-poderoso ao escolher-nos para comparação. É como a frase fingida de Estaline, no auge do seu poderio: "Quantos tanques tem o Vaticano?" - evidentemente que o russo sabia que o campeonato da Santa Sé era outro (e viu-se com João Paulo II, que desbaratou o império soviético) mas desconversava para abafar os próprios receios. Mas, então, o que é nosso que faz tremer Obama? Notícia, de ontem: a produção da Autoeuropa cresceu 921%. E, entretanto, Detroit continua de pantanas... Claro que vão aparecer economistas a rir-se dessa minha comparação. Mas eu pergunto--vos: ainda ouvem os economistas?» [DN]

Autor:

Ferreira Fernandes.
 
PS: Se ainda ouvimos os economistas? As últimas duas crónicas de Ferreira Fernandes foram dedicadas ao elogio de um deles, o Gaspar.
     
 A colossal medida preventiva

«1. Afinal, a razão para o novo imposto extraordinário não se prende com nenhum desvio colossal nas contas do Estado. Já se suspeitava, e o ministro das Finanças foi claro. De facto, descobrir um colossal desvio tendo apenas resultados do primeiro trimestre (tipicamente o período económico mais fraco) e numa altura em que as medidas de corte na despesa, entre outras, ainda não estavam implementadas não seria muito provável ou, no mínimo, seria difícil de acreditar.

Mas nós, portugueses, somos um povo crédulo. Continuamos a acreditar, por exemplo, que a primeira medida dum político, mal se senta na cadeira governamental, não é aumentar impostos mesmo que tenha jurado a pés juntos que não o iria fazer. Foi assim com Barroso, depois com Sócrates e agora com Passos Coelho - para a próxima, os candidatos a primeiro-ministro podem poupar-se ao esforço de fazer programas e promessas, não vale a pena.

A verdade, nua e crua, é que nada indicia que as medidas acordadas no programa com a troika não são suficientes para que o défice combinado não fosse alcançado.

Estamos assim, segundo Vítor Gaspar, perante um imposto extraordinário preventivo. Uma coisa do género: "Na dúvida tiramos-vos o vosso dinheiro, não vá acontecer qualquer coisa."

Se o objectivo é prevenir qualquer acontecimento extraordinário que possa impedir o cumprimento rigoroso dos acordos com a troika talvez seja melhor levarem-nos o subsídio de Natal todo. Pensando melhor, como nunca se sabe o que os gregos irão fazer ou se a sra. Merkel acorda um dia destes maldisposta ou pode dar-se o caso das nossas exportações não se portarem como o esperado, é capaz de ser melhor começar a estudar a possibilidade de lançar um imposto superextraordinário sobre o salário de Outubro ou Novembro. Era provável que o novíssimo imposto "mais vale prevenir que remediar" não nos salvasse, mas ao menos o Governo ficava de consciência tranquila.

Estava eu convencido de que quem tinha especial afeição por impostos preventivos era a gente de esquerda e de extrema-esquerda. Segundo eles, quanto mais dinheiro dermos ao Estado mais ele será capaz de nos prevenir de todos os males, sobretudo dos males que nós provocamos a nós próprios. É melhor entregarmos o nosso dinheiro todo ao Estado que ele depois logo vê o que é melhor. Pensava eu que um Governo de direita preferia, até aos limites do possível, manter o máximo de dinheiro nas mãos dos particulares. Não devem ser estes o real motor da economia? Não será verdade que quanto mais dinheiro lhes tirarmos menos desenvolvimento económico teremos? Pelos vistos, temos um Governo com intenções liberais e actos socialistas.

Medidas extraordinárias de cortes na despesa é que nem vê-las. Nas palavras do sr. ministro, precisam de ser bem estudadas. Claro, lançar impostos dá muito menos trabalho, já poupar é o cabo dos trabalhos.

Como português crédulo, estou disposto a acreditar que daqui a uns meses veremos um plano sério de poupança na máquina do Estado. Lembro-me, porém, que os actuais governantes disseram que tinham preparado um programa que podia ser aplicado imediatamente. Estão a pensar melhor para que fique mesmo bom, deve ser isso. O problema é que no entretanto já foi criada uma comissão de acompanhamento para acompanhar o acordo com a troika com 30 técnicos, assim uma espécie de Governo paralelo e que se destina, salvo melhor opinião, a controlar os ministros, não vão eles começar a disparatar - depreendo de forma injusta provavelmente que não há grande confiança nas capacidades dos ministros. Também foi anunciada a criação dum conselho de finanças públicas com técnicos nacionais e estrangeiros. Enfim, cria-se despesa para controlar a despesa. Aonde é que eu ouvi isto? Bom, isto já tinha ouvido, impostos preventivos é que não.

2. A questão nunca foi a de ficar parado esperando que a Europa resolvesse os nossos problemas todos. É fundamental fazer as reformas tantas vezes adiadas, equilibrar as nossas finanças públicas e libertar a actividade económica da incompetente mão estatal. Agora se alguém pensa que sem colaboração externa (refiro-o pela enésima vez), lançando impostos injustos, desnecessários e que apenas irão somar recessão à recessão, resolveremos alguma coisa de substancial, é melhor que se desengane.

3. Vítor Gaspar disse que existe uma crise em alguns países do euro. Não era, com certeza, o que queria dizer. Mal estávamos se o nosso ministro das Finanças não soubesse que existe, sim, uma crise do euro.» [DN]

Autor:

Pedro Marques Lopes.

     

 O irmão Macedo já está a cortar nas gorduras do Estado?

«Há pelo menos 60 doentes com dificuldade respiratória, no distrito de Braga, que estão impedidos de sair de casa depois de o Estado ter deixado de pagar às empresas que fornecem os dispensadores portáteis de oxigénio líquido, cujo valor ronda os 200 euros por mês. » [CM]

Parecer:

Isto vai de mal a pior.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Aguarde-se pela propaganda do sucesso do irmão Macedo.»
  
 Pobre Bairrão

«O ex-administrador da TVI, Bernardo Bairrão, disse ao "Jornal da Noite" da SIC que foi ele próprio quem pôs o seu lugar de secretário de Estado à disposição do ministro da Administração Interna, Miguel Macedo, através de um SMS, depois de se aperceber de algum mal-estar à sua volta.

"Percebi que havia mal-estar em situações que me envolviam, sobretudo em negócios com Angola", disse, acrescentando que pediu ao Conselho de Administração da Media Capital, accionista da TVI, para que aprovasse uma auditoria à actuação dele próprio para tirar quaisquer possíveis dúvidas. A referida auditoria já se iniciou.

"Enviei um SMS depois da reunião com o ministro em que pus à disposição o meu lugar", disse Bernardo Bairrão sobre o facto de o seu nome ter desaparecido da lista de secretários de Estado, onde constava inicialmente na tutela da Administração Interna. Mais: "Não fazia sentido assumir o cargo se isso causava mal estar ao governo".

A propósito da notícia do "Expresso" que indica ter o primeiro-ministro pedido às secretas informações sobre as suas actividades pessoais e profissionais, Bairrão afirmou nunca ninguém lhe ter falado em serviços secretos, mas que não se importava de ser investigado, porque se provaria a sua idoneidade. » [CM]

Parecer:

Isto cheira mal.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Lamente-se.»
  
 Acabou-se o período de graças

«"Um duro retrato social", assim qualifica Suzana Toscano em texto no blogue Quarta República (quartarepublica.blogspot.com ) a apresentação feita pelo ministro de Estado e das Finanças sobre o imposto extraordinário.

Para Suzana Toscano, numa crítica velada às justificações do ministro Vítor Gaspar, este "não é um retrato de justiça fiscal, nem social, devia aliás ser abolida a palavra 'justiça' quando se fala em sobretaxas, impostos extraordinários ou as mil e uma formas de ir cortando os proventos de quem (ainda) trabalha, esforçando-se por não se afundar em dívidas".» [DN]

Parecer:

De facto o Gaspar é um pouco desengraçado.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Aguarde-se pela demarcação dos cavaquistas.»
  
 Que grande ajuda!

«Os resgates das dívidas de Portugal e da Irlanda têm sido um bom negócio para os países que lhes concederam garantias, disse hoje o presidente do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF), Klaus Regling, ao Frankfurter Allgemeine Zeitung.

"Até hoje, só houve ganhos para os alemães, porque recebemos da Irlanda e de Portugal juros acima dos refinanciamentos que fizemos, e a diferença reverte a favor do orçamento alemão", garantiu Regling.

Adiantou também: "é o prémio pelas garantias que a Alemanha, dá, só que os contribuintes alemães não acreditam".» [DN]

Parecer:

O cinismo europeu no seu melhor.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Proteste-se.»
  
 Bairrão foi investigado pela secreta

«No dia em que a lista de secretários de Estado foi levada a Belém, o Governo pediu informação detalhada sobre o administrador da TVI.
 
A decisão de afastar Bernardo Bairrão da lista dos secretários de Estado também passou por uma consulta aos serviços secretos, apurou o Expresso.

Colocado perante diversos indícios que aludiam a "alguns negócios" no Brasil e Angola do ex-administrador da TVI, o primeiro-ministro terá pedido que a questão fosse apurada ao pormenor, o que envolveu o recurso aos serviços de informações.

O pedido surgiu na própria manhã de segunda-feira, dia 26, quando Bairrão constava ainda da lista de secretários de Estado que foi levada a Belém. A resposta veio a tempo de, ao princípio da tarde, o próprio Bairrão ser confrontado com a "necessidade de refletir" sobre a sua eventual ida para o Governo.

Como o Expresso já noticiou, as suspeitas iniciais decorreram de um SMS que Manuela Moura Guedes (que Bairrão afastou dos ecrãs da TVI nas vésperas das legislativas de 2009) enviou para o telefone pessoal de Pedro Passos Coelho. Questões relacionadas com negócios em Angola com a TV Zimbo e no Brasil com o ex-diretor de programas da TVI André Cerqueira eram o eixo central das eventuais suspeitas. Um tema que já foi noticiado pelo "Correio da Manhã" mas que agora assustou o primeiro-ministro.

Antes de ir a Belém com a lista de secretários de Estado, Pedro Passos Coelho pediu a Paulo Portas para falar diretamente com Miguel Pais do Amaral, o patrão da TVI que é amigo do líder do CDS-PP, e a Miguel Relvas para telefonar a Manuela Moura Guedes.


Enquanto decorriam estes telefonemas, o Governo pediu ajuda aos serviços secretos, confirmou o Expresso esta semana. Foi ainda sem a resposta da secreta que Passos Coelho foi a Belém e foi por isso que o nome de Bairrão se manteve na lista.

A informação recolhida só chegou à hora de almoço e não terá ido muito além dos temas que eram comentados nos bastidores da TVI e dos media portugueses. Mas a delicadeza da pasta, a Administração Interna, acabou por deitar Bairrão abaixo. Mais do que negócios "pouco claros", o Governo temeu casos mediáticos com quem ia ter a tutela direta das polícias. Foi esta constatação que levou Passos Coelho a desistir de um nome convidado oito dias antes com o seu conhecimento e total apoio.» [Expresso]

Parecer:

Esta gente não é lá muito democrata.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se a Passos Coelho quantas pessoas já mandou investigar neste poucos dias de governo.»