Por estas horas já estou a caminho da Praia dos Três Pauzinhos, pulo o Tejo pela 25 de Abril, sigo por auto-estrada até ao cruzamento para Beja e depois nem pago portagem nem faço os outros pagarem por mim, vou direito a Ferreira do Alentejo, Beja, Mértola, atravesso a fronteira na Ribeira da Foupana, altura em que o rádio começa a ficar baralhado, saltando do flamenco para as sevilhanas, mais uma hora e estou em Vila Real de Santo António aquela. Ironia do destino, saio de uma Baixa iluminista e vou cair na terra que serviu de modelo para a reconstrução dessa mesma Baixa, terra que foi povoada à força por ordem do Marquês de Pombal que mandou arrasar Santo António de Arenilha, junto à foz do Guadiana, porque os habitantes se recusavam a mudar de local. Nesse tempo não havia nem TVI nem Manuela Moura Guedes, o SIS não bufava e tudo se passou com a devida normalidade, sem asfixia democrática, sem os gestos hilariantes do Gaspar e sem um Cavaco preocupado com os mais pobres.
Até aqui é tudo verdade, a mentira começa depois, se político deste país que se preze diz as suas mentiras, também este humilde Jumento tem o direito de mentir ao dizer que vai para a Praia dos Três Pauzinhos, local ermo e desconhecido que durante muito tempo animou as dúvidas entres os que têm a pachorra de visitar este palheiro. O sítio da costa existe, era assim conhecido um daqueles postos isolados da antiga Guarda Fiscal que dantes pontilhavam a fronteira, situava-se no pinhal, já junto às dunas, entre a Ponta da Arei e Monte Gordo. Agora já não pertence à Guarda Fiscal ou ao Estado, Manuela Ferreira Leite vendeu-o por uma tuta e meia, talvez para pagar rolos de papel higiénico macio para o rabinho dos seus adjuntos. Curiosamente, o saudoso Jorge Ferreira apanhou-me, o falecido dirigente do CDS e depois do PND conhecia o local.
Na verdade vou para uma praia um pouco mais para Ocidente, vou para a Praia do Cabeço, terra dos Dragos, latifundiários locais, também conhecida como Praia do Alemão desde os tempos em que os militares da Base Aérea de Beja por ali passavam ou por Praia da Retur, por causa da urbanização ali construída por gente do antigo regime, que por causa do 25 de Abril venderam tudo à pressa, os alentejanos de Beja e arredores aproveitaram e há alturas em que aquilo parece a Praia da Messejana. Anda por ali tanto alentejano que quando digo aos companheiros de praia que sou algarvio de Vila Real olham para mim como se estivessem a admirar um panda recém-nascido no Zoo de Lisboa. Não é a primeira vez que isso me sucede, quando vivia em Santo André, o cenro urbano construído para apoiar o complexo de Sines, todos esperavam que tivesse vindo do Lobito ou da Gorongoza, ser algarvio por ali transformava-me num espécime exótico.
Um pouco mais ao lado fica a Praia da Altura, mas essa deve ser muito perigosa além de muito mal fequentada, o que stá a suceder com a Praia Verde onde corremos o risco de nos assustarmos se tivermos a infelicidade de nos cruzarmos com um conhecido canastro televisivo. Foi na Praia da Altura que, há poucos anos, o Dr. Macedo, o grande opus ministro que nos vai tratar da saúde, estava por lá e partiu um braço por causa de uma onda, mais provavelmente por causa do cachão. Se o pobre homem partiu um braço na Praia da Altura imaginem o que lhe vai suceder quando for embrulhado nas vagas de despesa da Saúde. Vai apanhar um cagaço ainda maior do que aquele que apanhou no BCP isto depois de se ter dado mal com as águas alterosas do BCP de onde parece ter fugido com medo de perder o pé.
Nos próximos dias a redacção d'O Jumento terá sede em Vila Real, com vista para Isla Cristina, terra de onde vieram uma boa parte das minhas costelas. Terá sotaque de Vila Reá, os amigos serão tratados por mó e aos que me chatearem (desculpem lá o calão local) mando-os fazer um “xalavar de punhetas”. Não sabem o que é um xalavar? Também não devem saber o que são griséus ou ervilhanas, quanto ao resto penso que sabem o que é, ainda que para nossa infelicidade Eduardo Catroga, o único licenciado do mundo que é professor catedrático a tempo parcial zero (esta do tempo parcial zero só mesmo um Einstein conseguiria explicar com uma revisão da teoria da relatividade), tenha interrompido as suas lições sobre calão antigo, é uma pena, os "bicos"e o "fogo" vieram empobrecer a nossa língua.