Sempre que em Portugal foi adoptado um programa de austeridade os ricos ficaram de fora, como se o rendimento destes tivesse um estatuto diferente do dos outros portugueses. Não se mexe na riqueza com receio de que fuja, não se tributam as mais-valias obtidas em bolsa para que não se perturbe o financiamento das empresas, não se tributam os juros para que as poupanças não emigrem.
Para que os ricos fiquem de fora sobrecarrega-se a classe média e os mais pobres, mesmo quando se cria uma sobretaxa sobre os rendimentos declarados em 20112 tem-se o cuidado de deixar os mais ricos de fora, ainda que como falsa contrapartida se tenham deixado os mais pobres pois para estes está reservado um aumento do IVA que lhes é especialmente dirigido.
Para além das consequências financeiras desta segregação positiva dos mais ricos põe-se uma questão coesão nacional, sempre que Portugal enfrentou crises económicas graves os mais ricos conseguiram sempre um estatuto de estrangeiros residentes, foram dispensados das suas obrigações enquanto portugueses. É como se perante uma situação de guerra os filhos dos Belmiros e dos Ulrichs fossem dispensados do serviço militar pois o seu contributo era mais importantes como gestores do que como carne para canhão. Isto não é nada de novo, nos tempos da guerra colonial muito filho de boas famílias reprovou na inspecção ou cumpriu o serviço militar em repartições administrativas.
Tal como sucedia com a guerra colonial em que os que mais ganhavam com o colonialismo estavam dispensados dos sacrifícios, com os programas de austeridade os que mais enriqueceram com os desmandos do Estado estão isentos de qualquer corte nos rendimentos. Com socialistas ou liberais disfarçados de social-democratas o país continua a ser gerido de forma medieval com os nobres a sacrificar sistematicamente a plebe.