quarta-feira, maio 02, 2012

BPN, uma nódoa na democracia portuguesa



O lado mais vergonhoso no caso do BPN é o total desrespeito e desprezo pelos portugueses demonstrados pelas mais diversas instituições ou judiciais envolvidas no processo de fraude e nacionalização do BPN. Os portugueses estão a ser sacrificados para cobrir os prejuízos provocados por uma quadrilha de gente da política, mas é-lhe recusado o direito a conhecer na íntegra as responsabilidades em todo o processo. Os processos judiciais em curso não passam de farsas, são aquilo a que no Brasil chamam o boi da piranha, julga-se e condena-se Oliveira e Costa, que até está muito mal de saúde, para deixar passar a manda de vigaristas.
Compare-se a postura dos habituais agentes envolvidos nos últimos processos judiciais, como o Face Oculta ou o Freeport, com aquilo a que temos assistido no caso BPN. Agora que estão em causa muitos milhares de milhões de euros ninguém viu um responsável do sindicato dos Magistrados do Ministério Público exigir que sejam colocados meios à disposição dos investigadores ou que a investigação seja levada até ao fim, não se têm registado as habituais fugas ao segredo de justiça e o Presidente da República, ao contrário do que sucedeu no passado, não chamou nem o Procurador-geral nem o sindicalista a Belém, o presidente não tuge nem mude.
  
Num país onde os cidadãos são respeitados Cavaco Silva não só não se teria candidatado a um segundo mandato, como teria renunciado durante um primeiro mandato. Cavaco pode fazer as juras de honestidade que entender, pode dizer que perde dinheiro com os seus investimentos em acções, pode garantir que não nomeia secretários de Estado, mas a verdade é que ganhou muito dinheiro num negócio de acções da SLN, dona do BPN, um negócio feito à margem dos mercados e com o envolvimento directo de Oliveira e Costa, o criminoso do BPN que em tempos foi o secretário de Estado do Orçamento ao mesmo tempo que geria os dinheiros do PSD. Oliveira e Costa cuidou dos dinheiros do Estado no tempo de Cavaco, cuidou dos dinheiros do PSD no tempo de Cavaco e agora cuidou de um rentável negócio de acções de Cavaco. Desvincular-se de qualquer relação com Oliveira e Costa usando o argumento de que os secretários de Estados eram nomeados pelos ministros só merece uma gargalhada, apetece perguntar a Cavaco se quando comprou as acções da SLN também foi Miguel Cadilhe, o ministro que nomeou Oliveira e Costa, que lhe sugeriu o presidente do BPN para gestor dos seus negócios.

O BPN foi nacionalizado e a SLN ficou de fora porquê? Que interesses foram protegidos com a nacionalização do banco do cavaquismo, os dos amigos do Presidente ou os dos portugueses? Quem beneficiou de crédito fácil no BPN?
  
Graças ao DN o caso BPN renasceu no debate nacional e está-se ficando a saber de coisas até aqui desconhecidas. Mas muita coisa vai ser abafada, muita gente que lucrou com o negócio vai poder beneficiar desses lucros indevidos sem qualquer condenação social, os políticos responsáveis vão acabar os seus mandatos tranquilamente ou voltar a recandidatar-se sem quaisquer problemas. Entretanto os portugueses estão a ser sacrificados, perdem rendimentos, vão para o desemprego, perdem as suas casas para que os prejuízos do BPN possam ser cobertos enquanto tudo é abafado, condenam o Oliveira e Costa e o processo BPN mergulha para os fundos dos arquivos da justiça onde já estão atracados os submarinos.
  
Esta gente não tem a mais pequena consideração ou respeito pelos portugueses, corrompem-se e corrompem Portugal, enchem-se de dinheiro, inventam-negócios para se apropriarem de lucros fáceis e saem de tudo isto sem o mais pequeno incómodo enquanto os cidadãos comuns sofrem. Não é Cavaco, nem os seus antigos amigos do governo nem todos os vigaristas que ganharam dinheiro com negócios duvidosos do BPN nem os seus peões de brega no mundo do jornalismo, da política ou da justiça que estão a  sofrer com as políticas de austeridade. Esses estão a rir-se de todos nós.
  
O caso BPN não teve apenas custos financeiros, deu um rombo na democracia portuguesa, tirando credibilidade e legitimidade a algumas das suas mais importantes instituições.