É um fenómeno muito português, alguém poderoso e com muito dinheiro dá um traque e aparece logo uma procissão de comentadores, opinion makers, sociólogos, cientistas políticos, jornalistas e políticos menores elogiar o gesto ousado do senhor, garantindo aos portugueses que os puns desses grandes empresários cheios de massa até cheiram bem. Se fossem cavalgaduras dir-se-ia que tanta excitação se deve a ter-lhes cheirado a palha.
É delicioso ver alguns dos nossos liberais a elogiar o gesto do merceeiro holandês não questionando se a trapalhada por ele montada é uma prática aceitável enquanto concorrência. Enquanto o pessoal andava à trolha nas lojas do Pingo Doce os nossos liberais da treta sentiram um orgasmo colectivo, o seu guru tinha infligido uma pesada derrota aos sindicatos e feito vergar os seus trabalhadores a troco de dinheiro. Depressa chegaram à conclusão que já não à trabalhadores com fidelidade ideológica, são como as putas, para se venderem é apenas uma questão de preço. Ver um povo sujeito a uma política de austeridade brutal correr a aproveitar descontos de 50% e trabalhadores do Pingo Doce a aceitarem trabalhar num feriado a troco de uma gorjeta e com receio da vingança do patrão pois na sua esmagadora maioria são trabalhadores precários ou com medo de o ser deixou essa gente miserável mais feliz do que depois de uma orgasmo com as esposas e namoradas.
Mas terá sido um gesto muito leal da parte do merceeiro holandês? Há um ano a associação das empresas de distribuição decidiu abrir as grandes superfícies, algumas das empresas de distribuição enfrentaram os sindicatos e conseguiram impor o seu desejo, era questionável mas acabou por ser pacífico, as redes que quiseram abrir fizeram-no sem incidentes. No segundo ano o merceeiro holandês aproveita-se desta suposta luta e dá um golpe baixo na concorrência, deixando as suas lojas às moscas. Não admira que o merceeiro holandês tenha divulgado a acção na véspera recorrendo a truques de comunicação, ampliou o impacto e impediu a concorrência de reagir, um ano depois de se ter junto aos parceiros para abrir no dia 1.º de Maio o merceeiro holandês decidiu que só as suas lojas beneficiariam da abertura das portas no feriado. O golpe baixo não foi dado nos sindicatos, as suas vítimas foi a concorrência, os parceiros que impuseram a abertura das lojas no 1.º de Maio, o que os nossos liberais elogiam não é a vitória sobre os sindicalistas esquerdistas, é a falta de lealdade do merceeiro holandês com os seus parceiros.
Para os nossos liberais de pacotilha a manobra comercial foi brilhante, deu cabo da esquerda, dos sindicatos e de um feriado que a extrema-direita, incluindo a que se costuma disfarçar de liberal, odeia.
Só que os concorrentes do merceeiro holandês não são a CGTP, a UGT ou o sindicato dos empregados do comércio, os seus conorrentes são o Lidl, o Continente, o Minipreço ou o Jumbo, é a estes que o Pingo Doce quer roubar clientes e não aos sindicalistas. O merceeiro holandês não é nenhuma Madre Teresa de Lisboa, está à frente de uma empresa cotada na bolsa e deve responder perante os seus accionistas.
O merceeiro holandês está-se nas tintas para o 1.º de Maio, se isso lhe desse lucro até fechava no feriado e sugeria que houvessem dois dias do trabalhador. O que o merceeiro holandês pretendeu foi roubar clientes ao Continente, fazer frente à fidelização de clientes conseguida com o Cartão Continente, superar a estratégia falhada dos descontos sem cartão em que gastou milhões em publicidade. O merceeiro não é nenhum benemérito (só o se o for para o António Barreto) é um comerciante e enquanto tal sabe muito bem que os seus concorrentes não são os sindicalistas, o líder do BE ou os comentadores da bancada da esquerda do Expresso. É também lider de uma empresa cotada na bolsa e sabe que tem de garantir lucros aos accionistas, se baixou os preços só pode manter esses lucros fazendo baixar o custo dos produtos.
Portanto de nada serve aos nossos distintos sociólogos ou opinion makers de pacotilha darem graxa ao merceeiro dizendo-lhe que os seus puns são para eles como o Channel n.º 5. O merceeiro holandês não deve ter tempo para ler e ouvir idiotas, líder de uma empresa que abre as suas lojas todos os dias até às tantas da noite, que conta com uma elevada percentagem de trabalhadores precários ou a trabalhar nas caixas a título precário e em regime de part-time está pouco preocupado com o 1.º de Maio ou com o 25 de Abri (o homem até pediu nacionalidade holandesa para o seu dinheiro), o que ele quer saber é se o seu golpe baixo roubou clientes ao Continente e sobre isso os nossos palermas dos jornais e da sociologia esqueceram-se de analisar..
O que todos estes merdas da comunicação social, especialistas na ciência da sabujice, ignoraram ou tentaram iludir foi que a manobra do merceeiro apenas demonstrou um aprofunda falta de respeito pelo país, não hesitou em correr o risco de ver as suas lojas destruídas para promover uma demonstração de que num país miserável como o nosso um ricaço sem escrúpulos pode promover um espectáculo miserável digno de um Burundi ou de uma Roménia nos últimos dias do regime de Ceausescu. Alguém vê um empresário espanhol, francês ou de qualquer outro país da Europa fazer uma coisa destas? Não, porque nesses países os empresários respeitam as leis, respeitam valores e princípios que nem sempre estão na lei e têm consideração pelos seus países.
O comportamento do Pingo Doce só mostra que o seu dono é um empresário miserável que merecia ter visto as suas lojas serem destruídas pela populaça e no fim ter sido atirado ao Tejo.
O que todos estes merdas da comunicação social, especialistas na ciência da sabujice, ignoraram ou tentaram iludir foi que a manobra do merceeiro apenas demonstrou um aprofunda falta de respeito pelo país, não hesitou em correr o risco de ver as suas lojas destruídas para promover uma demonstração de que num país miserável como o nosso um ricaço sem escrúpulos pode promover um espectáculo miserável digno de um Burundi ou de uma Roménia nos últimos dias do regime de Ceausescu. Alguém vê um empresário espanhol, francês ou de qualquer outro país da Europa fazer uma coisa destas? Não, porque nesses países os empresários respeitam as leis, respeitam valores e princípios que nem sempre estão na lei e têm consideração pelos seus países.
O comportamento do Pingo Doce só mostra que o seu dono é um empresário miserável que merecia ter visto as suas lojas serem destruídas pela populaça e no fim ter sido atirado ao Tejo.