Numa perspectiva de política económica o passado domingo foi como um Dia D, tal como no passado a Europa começou a libertar-se do poder militar alemão a partir da França, também neste domingo os europeus poderão começar a respirar com mais esperança depois se ter aberto uma brecha na muralha de austeridade imposta pelo bano central alemão.
Curiosamente, há muitas semelhanças entre a actual ocupação financeira da Europa com aquela a que se assistiu na guerra mundial, o Reino Unido está de fora e até o velho aliado luso lhe virou as costas quando propôs uma alternativa ao tratado do Eixo, os Balcãs continuam a ser uma dor de cabeça com a Grécia a prometer uma guerrilha a Merkel, uma boa parte dos Franceses estão ao lado dos alemães e até aceitaram um tratado que mais parece o armistício assinado por Petain, na Península Ibérica governam dois governos germanófilos ainda que se afirmem neutros.
Até ao passado domingo ninguém ousava falar em crescimento económico, os germanófilos davam provas de cobardia ao defenderem políticas de austeridade brutais muito para além do exigido pelos boches mas sem coragem para as assumirem, preferiam justifica-las com mentiras como o famoso desvio colossal encontrado por herr Gaspar. Até um ministro do governo de Passos Coelho que ousou propor medidas de crescimento foi gozado e humilhado em pleno conselho de ministro perante a passividade do primeiro-ministro e como se isso fosse pouco alguém deu conhecimento do incidente à comunicação social para engrandecimento e culto da personalidade do ministro gozão e humilhação do ministro gozado.
O modesto professor formado na Católica viu na crise financeira internacional a oportunidade de transformar todo um país num laboratório da austeridade brutal defendida pelos alemães. Ansioso por cair nas boas graças da senhora Merkel , influenciado pelos ciúmes que sentiu ao ver a chanceler alemã evidenciar simpatia por Sócrates o primeiro-ministro Passos Coelho deu todo o poder ao desconhecido Gaspar. Passou a ter um ministro da Economia com que concordava até formar governo e um ministro das Finanças a quem passou a obedecer depois de formar governo.
Em vez de usar tanques desta vez a Alemanha invadiu a Europa com a cadeira de rodas do seu ministro das Finanças e com o dinheiro do Bundesbank. Quem lhe obedeceu servilmente passou a ter o seu apoio, quem o questionou, como fizeram os gregos, passaram um mau pedaço. Todos receberam ajuda mediante taxas de juros dignos de agiotas internacionais. Herr Gaspar caiu-lhe nas boas graças com os seus tiques de graxa e obediência e começamos a ser tratados como povo obediente e por isso mesmo exemplar.
A Europa está à beira de se livrar de um dos períodos mais negros da sua história recente, um período em que os países deixaram de se respeitar, com líderes menores a exibirem a sua obediência em relação dizendo que não queriam ser como os gregos, com modestos funcionários do BCE e da Comissão, que mal sabem comer á mesa, a passearem-se com ar de saloios arrogantes pelos palácios do poder como se fossem sargentos das SS, com governantes sem dimensão a quererem parecer mais alemães do que os alemães.