O governo está revelando um total desprezo pelos
trabalhadores portugueses em favor dos empresários, está corrrendo o risco de
conduzir o país para o conflito social, tudo porque pretende iludir os
eleitores durante quatro anos, levando-os a aceitar a agenda económica da
direita mais conservadora. O conjunto de medidas que o governo está a forçar os
portugueses a aceitar não ´+e nem mais nem menos do que hoje seria Portugal se
não tivesse havido 25 de Abril, Como não tem uma polícia política ao seu dispor
a direita conservadora usa o medo da crise financeira para impor a sua política.
Chamar a esta política liberal é ofender o liberalismo, os
liberais defendem a democracia enquanto esta gente trata a democracia como se
fosse uma forma manhosa de ditadura, os liberais defendem a transparência
enquanto esta gente fundamenta as suas políticas em mentiras, os liberis são
defensores da concorrência enquanto esta gente é defensora de esquemas como os
da EDP, os liberais defendem os mercados enquanto esta gente promove a compra
de empresas privadas por outras empresas privadas usando o poder do Estado e
substituindo o mercado por reuniões secretas entre os falsos liberais Gaspar e
Borges e os representantes dos brasileiros endinheirados, os liberais defendem
a propriedade privada enquanto esta gente não hesita em vender empresas estratégicas
ao Partido Comunista da China desde que em troca os comunistas chineses
ofereçam alguns lugares aos amigos.
O DEO (Documento de Estratégia Orçamental) é uma obra-prima
da hipocrisia do governo, como assenta no dogma da infalibilidade do Chefe e
este foi apanhado na ignorância, o que , aliás, sucede quase sempre que vai ao
parlamento, foi necessário negar a existência de um PEC. Ainda bem que não se
designa por PEC pois este DEO vai muito além de qualquer PEC ou do Memorando,
tudo o que foi adoptado a título temporários para cobrir falsos desvios foi
consolidado como medidas definitivas ou quase definitivas.
O que o governo pretende com o DEO é consolidar num
documento aprovado em Bruxelas a estratégia de Passos Correia e de Gaspar de ir
muito além da Troika. Iniciam com um memorando, inventam desvios para irem
muito além do memorando e agora inventam o DEO para que deixe de existir um
memorando e passe a haver o DEO, só que o DEO já não é a estratégia da troika
mas sim a do Gaspar.
É preciso dizer basta, em Portugal há uma democracia, os
portugueses não foram todos acometidos da doença de Alzheimer e uma maioria
parlamentar não se substitui Às eleições legislativas. O mandato deste governo é
o que resulta das eleições legislativas, dos compromissos internacionais e do
programa de governo feito com base no programa eleitoral. Desde então a crise
internacional não se agravou, não ocorreu qualquer grande calamidade, pelo que
se o Governo quer adoptar medidas para além a actual legislatura,
consolidando-as em negociações internacionais terá de ter uma legitimidade
maior do que a que decorre da maioria parlamentar, ou vai a eleições ou
consegue um consenso mais alargado.
Não está em causa aceitar ou não a agenda do Gaspar, está em
causa o bem-estar da generalidade dos portugueses, o seu modo de vida, um
modelo social e a paz, bens demasiado valiosos para que um qualquer Gaspar ou
Passos Coelho os possa pôr em causa usando a chantagem sobre um povo e sobre a
própria democracia.